Agefis e PM fecham prostíbulo em sobreloja de restaurante na Asa Sul
A ação foi motivada por uma investigação do Metrópoles, que há uma semana apura o funcionamento da boate.
Incrustada no coração da Asa Sul, bairro tradicional do DF, uma casa de prostituição funciona clandestinamente. Quase no anonimato, a boate movimenta o mercado do sexo de forma discreta, na sobreloja do restaurante Jow, acima de qualquer suspeita, no bloco B da quadra 213 Sul. O negócio, sem alvará de funcionamento, foi alvo de operação da Agência de Fiscalização (Agefis) e da Polícia Militar na madrugada desta quinta-feira (4/5).
A ação foi motivada por uma reportagem do Metrópoles, que há uma semana apura o funcionamento do prostíbulo, inaugurado no início de abril. A boate, sem fachada, abre as portas apenas às quartas-feiras para a festa In Off e tem como atração garotas de programa tanto do Distrito Federal quanto de Goiânia. O acesso ao estabelecimento é por meio de uma escada de madeira instalada nos fundos do restaurante que funciona no andar térreo.
Por volta das 0h10, 15 agentes da Agefis apoiados por 10 policiais militares entraram no salão. Havia 10 garotas, que começariam os shows de striptease por volta da 1h. Assustados, os clientes e as moças deixaram a boate.
Alguns frequentadores ameaçaram processar a reportagem caso a matéria publicasse fotos deles. Após a ação, sobrou apenas o único garçom que trabalhava na festa In Off e o empresário Alan Moraes, responsável pelo restaurante Jow e pela sobreloja — ambos foram lacrados. Ao ser notificado pela agência do GDF, o homem ficou muito exaltado e não quis dar declarações à imprensa.
Segundo a Agefis, o local estava interditado desde 19 de agosto de 2016. Depois, conseguiu o Registro de Licenciamento Eletrônico (LRE). “Mas o documento não mencionava a sobreloja nem o tipo de atividade desenvolvida no local. Por isso foram lacrados tanto o bar quanto a sobreloja. O ambiente não poderá mais ser reaberto, sob pena de aplicação de multa”, informou a assessoria do órgão à reportagem. O valor da penalidade em caso de descumprimento da norma é R$ 5.541,45.
Shows eróticos
Uma semana antes da operação desta quinta-feira (4/5), o Metrópoles esteve no local para entender como uma boate recém-inaugurada movimentava o mercado da prostituição em plena quadra comercial do Plano Piloto. Escondido na sobreloja, o estabelecimento funciona há cinco semanas, sem nome ou qualquer referência na fachada do bloco. O alarde sobre os shows eróticos ocorre em grupos de WhatsApp e por meio do boca a boca.
Uma equipe da reportagem passou a noite de quarta-feira (26/4) no local e acompanhou como é feita a negociação dos programas. Na área externa do restaurante, no térreo, dezenas de jovens acompanhavam o jogo entre Flamengo e Atlético Paranaense e nenhum deles imaginava a festa erótica que rolava no andar superior.
Nem os garçons que trabalham no andar inferior sabiam detalhes sobre o funcionamento da boate. “A única coisa que eu sei é que o cardápio é outro, os valores são bem mais altos e quem trabalha no segundo andar não desce para o primeiro. Nós também não subimos”, disse um dos funcionários.
Camuflagem perfeita
A ligação entre o restaurante e a boate é feita por uma escada de madeira, nos fundos do estabelecimento. Mesmo durante a subida, é impossível ouvir ou ver o que se passa no andar superior. O isolamento acústico e visual são perfeitos. Próximo ao último degrau, um segurança de terno escuro controla a entrada. Ao lado dele, uma garçonete informa aos clientes sobre os valores cobrados pela casa. “São R$ 100 de consumação. A casa oferece shows de striptease, que são o ponto alto da noite”, explicou a moça.
Quando a porta de vidro jateada – que dá acesso ao salão – é aberta, o ambiente se transforma. A única iluminação do local é feita pelos jogos de luzes no teto. A sobreloja do sexo tem cerca de 100m², preenchidos por sofás de veludo, mesas e cadeiras de madeira, além de um espaço onde fica o DJ que anima a festa.
Assim que os clientes entram na boate, o único garçom que trabalha no local chega para recebê-los. Ele os encaminha até uma das mesas e apresenta o cardápio. Os preços são tão altos quanto o desejo dos clientes por sexo. Uma garrafa de whisky oito anos custa R$ 400. Se o malte for 12 anos, o preço sobe para R$ 500. Os frequentadores mais modestos desembolsam R$ 30 por uma cerveja long neck.
Garotas goianas
A festa semanal foi idealizada para poucos homens, clientes selecionados para serem atendidos por um grupo restrito de garotas de programa. Boa parte delas mora em Goiânia e viaja ao Distrito Federal exclusivamente para participar da noitada das quartas-feiras. Jovens, bonitas e articuladas, as moças – com idade entre 22 e 26 anos – costumam rachar a viagem de Uber até o DF. Elas gastam cerca de R$ 350 no trajeto, segundo uma delas. A logística eleva o preço dos programas, que giram entre R$ 350 e R$ 500, dependendo da negociação com cada garota.
Simpática, uma morena de cabelos compridos e traços finos, usando um vestido vermelho bordeaux colado ao corpo, é uma das mais animadas. Ela conta à reportagem que passou a frequentar a festa para fazer programas no DF por ser um local distante de olhares curiosos. Estudante de gastronomia, a jovem mora com os pais. “Minha família não sabe que faço programa. Aqui paga-se bem e não corro risco de ser descoberta”, confessou.
Boa parte das meninas que frequenta a festa possui trabalhos convencionais durante o dia. A loira de seios fartos e sorriso fácil falou que a prostituição serve como um “bico” para compor sua renda. Trabalhando em uma empresa de automação residencial, a jovem de óculos fugia do estereótipo sensual das demais. “Gosto de me vestir como executiva, provocar a curiosidade”, disse ela, entre um gole e outro de daiquiri.
Para manter o fluxo de garotas jovens e bonitas, explica uma delas, os proprietários da boate cedem apartamentos em cidades como Águas Claras e Guará para as prostitutas goianas. Como a festa termina às 4h, todas seguem para os imóveis, onde pernoitam até a manhã do dia seguinte, quando voltam às suas casas.
Ápice da noite
Garantir o aquecimento da clientela também é fundamental. Assim, por volta de 1h, o DJ anuncia pelo microfone o ponto alto da festa: uma das meninas fará striptease. Ela recebe cerca de R$ 150 da casa pela performance. A escolha é aleatória, feita pelos administradores do lugar, dentre as moças dispostas a realizar a apresentação. Na noite da visita do Metrópoles, a escolhida foi uma morena, também goiana, de cabelos escuros e longos.
A boate não possui palco suspenso ou postes de pole dance – tradicionais nas boates eróticas. O show é feito pelo salão, em meio às mesas e cadeiras. A jovem dança interagindo com os clientes, aguçando a libido masculina. As peças de roupa são tiradas aos poucos, acompanhando o rebolar da jovem. A interação com os clientes é intensa, enquanto dura a música que embala a dançarina.
O show cumpre sua função: ao término, a negociação entre as garotas de programa e os frequentadores está a pleno vapor. Além dos R$ 100 pagos em consumação, o cliente precisa desembolsar mais R$ 100 para sair da boate com a acompanhante escolhida. Isso sem contar o cachê cobrado por ela. Os “royalties” vão direto para o caixa da boate, que fatura com cada programa fechado dentro da casa.
No dia seguinte à festa, o Metrópoles voltou ao local para tentar falar com alguns dos organizadores do evento, mas a sobreloja estava fechada.
O que diz a lei
A prostituição não é crime no Brasil. Mas o Código Penal Brasileiro tipifica a mediação para uma pessoa servir a lascívia de outra (pena de reclusão de um a três anos), o favorecimento à prostituição (de dois a cinco anos de cadeia), a manutenção de prostíbulo (dois a cinco anos, mais multa) e o rufianismo, quando alguém tira proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar por quem a exerça (um a quatro anos de reclusão, mais multa).
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