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Adjamilton Pereira

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Os espirros de ano novo

04/01/2013 às 20h56

O mundo cada vez mais tecnologizado, racional e cientificizado quebra o encanto que a magia, o sobrenatural, o imponderável, o mistério produzem como estratégias de explicação do mundo. Perdemos a inocência e nos atolamos em ponderações e especulações sobre questões que, muitas vezes, carecem ficar suspensas no nível do mistério e da incógnita. A desesperada necessidade de explicar todas as coisas usurpa a beleza das cogitações e do imaginário.

Muitos, hoje, não vivenciem a beleza de cumprir determinadas práticas que, racionalmente classificados como magia, sobrenatural, atraso, funcionavam como maneiras de organização da vida e de construção de sociabilidades. Estas questões me inquietam quando vejo o primeiro dia do ano e não mais presencio costumes que, em minha infância, eram comuns em Impueiras e em muitos outros recantos. Inicialmente, quase ninguém hoje saúda o novo ano como Ano Bom, como meus pais e tios comumente falavam traduzindo uma alvissareira maneira de expressar o desejo de que o ano que começava seria de fartura, saúde e paz.

Outra prática em desuso é a de espirrar no primeiro dia do ano como expressão de que veremos o ano seguinte com saúde. Em minha infância e adolescência tínhamos essa prática como um verdadeiro ritual seguido com a disciplina dos procedimentos religiosos. Sempre pela manhã todos, de forma disciplinada e com aguardada ansiedade, faziam malabarismos os mais incríveis para dar espirros cuja quantidade era associada aos anos vindouros que teríamos como crédito de vida. Claro que, muitas vezes, não custava dar uma ajudinha a natureza. Assim é que, sempre no primeiro dia do ano novo, aguardávamos a chegada de seu Zé Nicolau, um senhor idoso de jeito bonachão, boa prosa e um inconfundível chinelo currulepo que ele mesmo fabricava e que, quando andava, produzia um som único em razão do estalo do couro cu com a sola do pé. Seu Zé Nicolau também fabricava rapé, que ele acondicionava em pequenos frascos que conduzia no boldo da camisa. Para cada um ele dava uma pitada de rapé que, introduzido no nariz, infalivelmente provocava surtos de espirros, motivo de nossa alegria e algazarra infantil. Muitas vezes os espirros abriam as narinas para sentir melhor o cheiro da terra sertaneja molhada pelas primeiras chuvas que espantavam a tristeza cinzenta das estiagens e anunciavam possibilidades de fartura e safras abandantes.    

E, por mais um ano seguíamos acreditando que o rapé de Seu Zé Nicolau era a chave para a vida longa. E sua presença era sempre sintoma de felicidade.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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