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Edivan Rodrigues

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O Cordão Azul e o Cordão Encarnado

21/12/2009 às 21h53

Por Francisco Cartaxo

Cresci ouvindo dizer que a Paraíba é um estado politizado. Aqui se fala de política e dos políticos os 365 dias do ano. De janeiro a dezembro. Mal termina a apuração dos votos, já começam a armar o palco do pleito seguinte. Bem entendido, quando não há demandas judiciais a prolongar a disputa no tapetão. Nem preciso recordar a cassação de Cássio Cunha Lima, tão fresca está na memória de todos. Por essas coisas, se repete anos a fio a máxima: a Paraíba é um estado politizado. Será verdade?

Será mesmo? Bom, depende do que se entende por politização. De minha parte, penso que a essa realidade se aplica outro nome. Talvez um adjetivo aviltante. Agora mesmo estamos assistindo inusitadas decisões em pré-convenção de executivas partidárias, de apoio ao pré-candidato a governador Ricardo Coutinho, como fez o DEM, segunda-feira passada. Até parece normal. E não é? Na Paraíba, sem dúvida.

Semana passada, ao voltar de Cajazeiras para Recife, na proveitosa companhia do oftalmologista Sabino Filho, com direito a parada estratégica em Campina Grande, vimos em cidade, perto de Patos, um cordão de gente na beira da BR 230. Que é isso, amigo? Ora, nem precisava perguntar. Que bobeira. A resposta estava na cara, ou melhor, nas faixas, em bonés, camisas e bandeiras vermelhas. Aguardavam Zé Maranhão. O pré-candidato mais do que o governador, se isso for possível, desde a aprovação do estatuto da reeleição, inspirado (ou comprado?) por Fernando Henrique Cardoso.

Diante daquele cenário, observado com o carro em marcha lenta, quase parado, nada me surpreende. A biografia de José Maranhão, por exemplo, lançada no dia 15 com o incenso próprio a quem está no poder, é peça de campanha. Pela autoria de Gonzaga Rodrigues deve estar afiada, no capricho, como tudo que escreve o imortal cronista pessoense, nascido em Alagoa Nova.

A memória insiste em trazer-me a figura de Miguel Arraes, referência política para minha geração. Na verdade, para muitas gerações. Três vezes governador, muitos pensavam que ele iria dedicar-se a escrever suas memórias. Que nada. Não se abalava nem permitia esticar o assunto. Essa coisa de biografia é distração para quando eu ficar velho, dizia Arraes, e insinuava que o interlocutor o estaria agourando… Com olhar de malícia e deboche gargalhava enquanto a fumaça do cachimbo se esvaia ante a mudez de seus amigos e admiradores. Contabilizado o insucesso da quarta tentativa de governar Pernambuco, caprichou no preparo do herdeiro. O neto Eduardo Campos, hoje governador com real chance de reeleger-se em 2010. Pena que tenha morrido em 2005, sem a alegria de vê-lo no Palácio que o avô ocupara três vezes. Bem aventurados os que têm herdeiros.

Mas voltemos à Paraíba. O nosso jeito de fazer eleição é sinal de politização? Não me parece. O ensaio do pastoril está avançado. O cordão azul e o cordão encarnado já se preparam para subir no palco eleitoral. De novo, a fantasia sobrepuja a realidade. A cor encobre o debate dos problemas concretos da população, numa Paraíba cada vez mais frágil, mais desequilibrada regionalmente.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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