Lembranças de Mariana
A notícia chega com a força avassaladora do imponderável. Nas primeiras horas da manhã a fatalidade do acidente interrompe, de forma abrupta e violenta, a vida e os sonhos de pessoas que estavam no frescor da existência. Entre as vítimas Mariana Moreira. A semelhança dos nomes não é fortuita coincidência. Somos primas. O avô paterno de Mariana, Moreira Guedes, era primo e muito amigo de meu pai, Raimundo Moura.
Conheci Mariana Moreira quando iniciava a minha atividade profissional como jornalista trabalhando em emissoras de rádio de Cajazeiras e fui apresentada a uma menina de olhos buliçosos e cabelos amarelados e anelados que tinha o mesmo nome e sobrenome que eu. Fiquei conhecendo Mariana, mas com ela nunca mantive nenhum relacionamento mais afetuoso e próximo. A cumprimentava sempre que a via na rua ou quando com ela cruzava em algum evento. Gestos de amabilidades e cordialidades de parentes. Em anos recentes fui procurada por Mariana que estava realizando Curso de Especialização e pretendia trabalhar com relações de gênero. Queria alguma orientação e também ter acesso a minha modesta biblioteca. Conversamos algumas vezes. Emprestei-lhe alguns livros que ela, sempre que me encontrava, reforçava que eles estavam bem cuidados. Ano passado ela veio me devolver o material bibliográfico com a gentileza do agradecimento e o reconhecimento em um significativo presente. Disse que finalmente tinha conseguido produzir a monografia.
Em outras ocasiões a encontrei e sempre fui acolhida com um aconchegante sorriso e a sinceridade nos olhos que, anos atrás, me impressionaram pela vivacidade. Admirava aquela menina com o mesmo nome que eu. Sua capacidade de trabalhar ao lado da mãe na atividade comercial. Seu desembaraço em abraçar a vida e não ter medo de enfrentar os desafios.
Sua idade, não sei. Não era importante. Que tipo de música gostava, também não sei. Quais seus hábitos, seus prazeres, seus sonhos, suas angustias, também não sei. Nada conhecia de Mariana em sua intimidade, mas a notícia de sua morte, que me chegou na tranqüilidade da manhã de sábado, em Impueiras, me causou tristeza e comoção. Tardei a acreditar que aquela menina de olhos buliçosos a quem fui apresentada, pelos indos dos anos noventa, tinha morrido de forma tão absurda. Em silêncio articulei uma prece rogando aos deuses que acolhesse aquela menina. E a imagem daqueles olhos travessos e dos dourados cabelos anelados fica como a mais envolvente lembrança de Mariana Moreira.
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