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Radomécio Leite

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Legislativo: um poder desnecessário

04/04/2009 às 19h22

Fiquei surpreso com uma declaração, que li num dos jornais de circulação nacional, do Presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, que disse: “não tenho dados estatísticos, mas a impressão que tenho é que se levasse à opinião pública, ela consideraria desnecessário o Poder Legislativo”.

A partir desta declaração resolvi fazer uma enquête, via telefone, aleatoriamente, e indaguei, a quem atendia, sobre o que Temer disse e ainda a opinião sobre a Câmara Municipal de Cajazeiras.

Ouvi 20 pessoas e todas elas, além de concordarem com as palavras do Presidente da Câmara dos Deputados, foram enfáticas em afirmarem sua desnecessidade, com algumas citações que destaco: “é imoral o que se gasta com esses vereadores que em nada contribuem para o progresso da cidade”; “pode fechar e jogar a chave no Açude Grande que ninguém vai sentir sua falta”; “esses dois milhões que se gasta por ano com os vereadores dava para construir muitas escolas no município”; “é um circo, onde os palhaços somos nós”; “hoje funciona mais como uma casa de negociatas escusas” e outras declarações impublicáveis.

Vivemos numa democracia onde se faz necessário a presença do legislativo, mas o fato é que a classe política tem recebido pouca aprovação em pesquisas de opinião pública. Ressalte-se ainda que não podemos generalizar: temos também parlamentares mirins que honram o seu mandato.

Tudo nos leva a crer que estão sumindo do cenário político os verdadeiros homens públicos, com ideais, com vocação para servir ao povo, sem pensar em “se arrumar”. O que constatamos é um nepotismo exacerbado e parece prevalecer entre os agentes públicos uma máxima que está em moda: “se não roubar é um bocó, um besta”.

A grande mídia impressa, televisiva e radiofônica noticia todos os dias as falcatruas, as bandalheiras, as roubalheiras, as negociatas milionárias ficando mais do que demonstrado que vivemos num país onde predomina a corrupção em larga escala e todos que são flagrados praticando crimes contra o erário público não pegam uma ave-maria de penitência. Por que abandonar estes negócios altamente lucrativos? Vivemos no reino da impunidade.

Ah! Os idealistas, os incorruptíveis, os grandes homens públicos e os de caráter, nos dias atuais, contamos nos dedos da mão. Existem uns versos de Frei Tito de Alencar, que são profundos e belíssimos, escritos antes de sua morte em 1974, faltando um mês para completar 29 anos, seu corpo foi encontrado suspenso por uma corda, na área do convento em Lyon, na França. Era cearense de Fortaleza, nascido em 1945. Durante os anos da ditadura foi um ativista contra a repressão militar e tornou-se um dos símbolos da luta pelos direitos humanos e intransigente defensor de suas ideias. Foi preso, torturado e deportado. Passou pelo Chile, Itália e França.

Os seus versos, graveio-os no interior do meu coração. Eles nos levam a uma reflexão profunda:
“São noites de silêncio.
Vozes que clamam num espaço infinito
Um silêncio do homem
E um silêncio de Deus”.
Quando será que nas noites de silêncio os nossos parlamentares vão levantar suas vozes, para clamar, das tribunas das casas legislativas, em defesa de um país melhor e sem corrupção? Quando será que os homens de bem vão romper o seu silêncio para condenar as ações inoperantes dos maus políticos? Por onde andam as vozes que deverão clamar no espaço infinito? Será que num futuro, os nossos jovens vão transformar este país num lugar honrado e digno e que orgulharia a todos nós de nele residir?
Esta é nossa esperança, num silêncio que só Deus poderá nos brindar, no infinito do nada. Por enquanto vivemos noites de silêncio.

Radomécio Leite

Radomécio Leite

Contato: [email protected]

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