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Radomécio Leite

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Lamaçal

18/05/2009 às 14h11

Por José Antonio

Nas grandes secas de um passado não tão distante, havia uma engrenagem política em cima da desgraça da população flagelada, os escrúpulos eram mandados às favas e os donos dos famosos “barracões” utilizavam grande parte do dinheiro federal, que deveria servir ao povo, em proveito próprio. Os coronéis, que trajavam terno branco e chapéu de massa, ainda pousavam de bons samaritanos.

Nos dias atuais, tanto em períodos de secas ou em invernadas pesadas que inundam cidades, destroem as casas, na sua totalidade dos mais humildes e desabrigam muita gente, o cenário “político” mudou muito pouco, ou quase nada.

Nestes momentos surgem os espertalhões que ficam ricos vendendo alimentos e mantimentos a preços exorbitantes debaixo dos olhos dos governantes e quem sabe com a cumplicidade das autoridades. Mudou apenas a simbologia: os coronéis, que antes eram ligados a terra, hoje são os coronéis do asfalto com direito a gravata borboleta. Sejam nas secas ou nas enchentes eles aparecem para “abocanhar” as benesses que vêm para os flagelados.

Esta também é uma época excelente para fazer politicagem. O próprio presidente da República, governadores e outras ilustres autoridades visitam as áreas atingidas, põem os pés na lama, abraçam os inundados, beijam crianças, prometem mundos e fundos. Estas visitas deveriam ser precedidas de ações concretas, como por exemplo, enviar o Exército conduzindo o que fosse necessário para minorar o sofrimento do povo, além de médicos, enfermeiros, remédios, roupas e alimentos.

Por trás de tudo isto existe um interesse enorme dos governantes em decretar estado de calamidade pública, para que determinadas compras e serviços sejam dispensados de licitação. E o nó está exatamente aí. Na dispensa de licitação, os preços contratados ficam aviltantes, fora as obras fajutas e superfaturadas.

No passado o coronelismo rural dominava a cena, hoje outros coronéis, com ternos bem cortados e gravatas italianas aportam de helicópteros e aviões modernos, sobrevoam as áreas inundadas, para dimensionar o quanto vão ficar mais ricos com a desgraça do povo sofrido e desamparado dos sertões nordestinos. Até quando este tipo de política vai durar?
Há quanto tempo convivemos com esta situação?. Os donos do poder, quando aparecem, são com medidas paliativas e nunca com obras estruturantes e definitivas. Os atingidos são forçados a abandonar as suas casas e viverem por dias consecutivos em ambientes não tão humanos e com ajudas insuficientes para sobreviverem.

Na nossa região comunidades rurais inteiras estão isoladas e para chegar à cidade estão se utilizando de canoas, sem contarmos com as cidades que se encontram na mesma situação. E todas estas pessoas estão aguardando uma solução por parte das autoridades, que ficam brincando e levando na conversa o sentimento de desprezo que estas comunidades estão sentindo e passando.

A maioria dos desabrigados tem uma assistência mais forte emanada da solidariedade do povo sertanejo, que em ocasiões como estas fazem questão de repartir o pouco que tem com os que precisam, porque se fosse para aguardar a chegada dos recursos, principalmente do governo federal, com certeza morreriam de fome, de sede e no relento. É muita lama no meio deste caminho.

“A mãe de Judas”
Esta poesia é de autoria de João Alberto Ferreira: “Quando em pequeno o evangelho eu lia/ dizia para mim mesmo: não te iludas, talvez maior que a dor de Maria/ tenha sido o sofrer da mãe de Judas. Que destino cruel, que sofrimento, que duras penas e que sorte avara,/ ver um filho sujeito a tal tormento, um filho que em criança amamentara. Maria vê Jesus crucificado, concedendo perdão à turba inteira./ A outra mãe vê Judas enforcado com as suas próprias mãos, numa figueira. Alguém pergunta: ante tristezas tantas, qual das duas na terra sofreu mais?/ E a amplidão responde: ambas são santas,/ no sofrimento as mães são sempre iguais”.
Se você ainda tem sua mãe do seu lado, cuide dela, pense nela e dê todo o seu amor, o seu carinho e a sua gratidão e não esqueça que ela passou nove meses carregando-o no ventre, repartindo o seu sangue com você. E neste mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, tenha também sua mãe como santa.

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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