Entre o ontem e o hoje
Andando pelas ruas de João Pessoa, neste início de ano, de repente me deparo com algumas imagens que me remete a cidade que habitei no final da década de 1970 e início dos anos de 1980, quando aqui frequentei a Universidade. Nas proximidades da UFPB o bairro do Castelo Branco existe, embora não mais guarde a tranqüilidade e o aspecto bucólico que me acolheram como universitária. Muitas das casas não tinham muro e pequenas cercas vivas ou de madeira garantiam a privacidade. No quintal da casa que morava um enorme abacateiro garantia alimento durante na safra. Vitamina de abacate, cuscuz e ovo foi um dos mais frequentes pratos consumidos para desenfastiar a dieta do Restaurante Universitário.
Ainda no Castelo Branco procurei o cheiro de estrume e curral que, nos finais de tarde, emanava de uma vacaria existente às margens do Rio Jaguaribe, nas proximidades de uma curva quando se vinha na direção centro-bairro, pela Epitácio Pessoa. Muitas vezes, sobretudo, no final do mês, quando ia a Caixa Econômica receber o crédito educativo, este cheiro impregnava o coletivo, me atiçava às narinas e renovava as saudades de casa, em Impueiras. Lágrimas espontâneas teimavam em escorrer pelo rosto para aliviar lembranças que somente eram amortecidas pelas cartas recebidas.
No bairro de Jaguaribe avisto o Castelinho, uma antiga construção que ainda reside a sanha avassaladora do mercado imobiliário que teima em destruir memórias e construir lucros. Nesta casa morava uma colega de universidade. Com bastante assiduidade, freqüentava sua casa para estudar e realizar trabalhos. Ali, no último semestre da faculdade, dormi muitas vezes. Lá também apreciei, pela primeira vez, o feijão de coco preparado por seu pai, Seu Rabay, que tinha uma fantástica habilidade para a culinária. No castelinho também fui vítima de um ladrão que, enquanto dormia vencida pela exaustão do cansaço de estudos forçados, frequentou o quarto, e me roubou os trocados da certeira, os tíquetes estudantis para o coletivo e uma das duas calças jeans que possuía.
A cidade de João Pessoa ainda guarda a beleza dos ipês amarelados pelas flores de verão. No Parque Solon de Lucena, ou Lagoa, como a conhecemos, o Velho Cassino da Lagoa ainda se permite mergulhar na tranqüilidade de árvores que ignoram o murmurinho urbano e o barulho do trânsito. Nas suas praias ainda nos é permitido sentir certo aspecto de colônia de pescador e de maresia emparedada pelos espigões que, de longe, espreitam qualquer descuido, para avançar sobre o verde de Tambaú e a tranqüilidade de Cabo Branco.
Andar pela velha Felipéia é sempre um bom sentimento, sobretudo para quem a conheceu ainda provinciana, onde edifícios eram pontos de referência, a cidade ainda veraneava em Camboinha e Bessa e as tardes de domingos ainda assistiam às sessões de cinema no Municipal e no Rex.
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