Como sair do caos?
Neste intervalo entre as eleições e a posse dos novos prefeitos muitas cidades mergulham num clima de abandono e descuido. Ruas esburacadas, lixo acumulado, salários atrasados, obras paralisadas, serviços públicos estagnados ou com funcionamento precário, morosidade de obras que, normalmente, são abandonadas e acabam sucateadas em verdadeiros monumentos de louvação a incompetência e a burrice. Tudo remete a um contexto em que a irresponsabilidade emerge como a principal marca das ações e determinações de administradores cujos mandatos estão expirando.
Mas, o que sustenta essas situações? Quais condições políticas e, sobretudo, culturais motivam, justificam e legitimam comportamentos e atitudes que agridem a ética, esgarçam princípios morais e lesionam a correta conduta administrativa?
Uma questão que se coloca como ponto para a reflexão dessa realidade é o fato de que, mesmo com a vivência de práticas democráticas que, nos últimas décadas, vem se instituindo como experiência de vida na cena brasileira, ainda não atingimos a maturidade necessária para viabilizar formas de dar sequencia e continuidade a administração pública, sobretudo, em pequenos municípios que ainda insistem em manter estruturas e concepções de que são “feudos” dominados por senhores soberanos.
A compreensão prevalecente é a de que prefeituras são territórios privados onde grupos se encastelam e passam a exercer seu domínio sobre pessoas, coisas e recursos. Determinações e decisões são adotadas tendo como parâmetro a posição de aliados ou opositores. Inexiste, neste universo, a mínina possibilidade de consideração com a cidadania que se exerce nos limites e fronteiras de direitos e deveres. Pessoas são qualificadas e quantificadas pelas preferências políticas ou pela manifestação pública do voto. Nesse curso, perseguições são patrocinadas, retaliações e represálias são adotadas como práticas corriqueiras. Não se pensa o público como constituição do coletivo que deve ser exercido tendo como referência as determinações majoritárias, os códigos e princípios de ética e de postura moral, de lisura administrativa e de respeito às demandas e necessidades das pessoas e que carecem ser atendidas sem discriminações ou preferências.
O vácuo que marca a transição não pode representar, portanto, uma situação apocalíptica com os dramas e dores que pincelam a realidade presente. É preciso que a vivência democrática contagie e contamine todas as instâncias da vida social. Não basta ter leis e tribunais, mas, sobretudo, carecemos de consciências capazes de conceber posições críticas e reflexivas que se disseminem em nossas casas, nas escolas, nos grupos de amigos, na mídia, nos clubes de serviço, de recreação e de futebol, nas igrejas e cultos. Aí estaremos ressignificando formas e práticas que, com certeza, virão modificar o caos presente.
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