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Edivan Rodrigues

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A volta do algodão?

11/03/2011 às 12h28

Entre os da minha geração, há quem suspire pela volta do algodão. O sertanejo jovem não faz idéia da economia algodoeira. Nunca viu comboios de animais tangidos em estradas, ruas e praças rumo à usina de beneficiamento. Nem viajou de caminhão carregado de pluma na rota de Campina Grande. O jovem de Cajazeiras sequer escutou o apito da fábrica do major Galdino Pires, onde se produzia pluma, óleo bruto, torta e sabão em barra. Quando muito, conhece essas coisas por ouvir dizer, em conversas dos pais, tios e avós. Ou de algum professor ou tenha lido crônica nostálgica sobre a cultura que, no passado, fora a vida do nosso semi-árido. Quem sabe, já ouviu Luiz Gonzaga convocar o “sertanejo do Norte” para “plantar algodão, ouro branco que faz nosso povo feliz, que tanto enriquece o País, alegria do nosso sertão”… O algodão fazia parte de um complexo de atividades consorciadas que reunia a criação de gado, lavouras de subsistência (milho, feijão, batata, jerimum, macaxeira e outras), que formam a base alimentar da família do morador, meeiro, foreiro ou outra categoria de trabalhador rural integrante do sistema de relações de trabalho do processo produtivo centrado na propriedade rural.

O algodão gera a pluma, o óleo e a torta. A tarefa separar a pluma do caroço se fazia, em tempos recuados, em unidades rudimentares movidas a tração animal (as bolandeiras), mais tarde em máquinas a vapor e, já no início do século 20, com equipamentos mais sofisticados, às vezes, ao lado de outros para extração de óleo. Esse complexo de atividades agroindustriais, base da economia sertaneja, assentava na exploração da força de trabalho das famílias pobres, inclusive de menores, e perdurou por muitas e muitas décadas, desde o século 19 até os anos de 1980, mais ou menos, com o reforço de crédito subsidiado para o custeio agrícola.

Aquele sistema de exploração se desfez. E não foi a praga do bicudo que o destruiu. É bem verdade que o bicudo ajudou, mas não lhe definiu o destino. O fim do complexo algodão/pecuária/subsistência se deu em função de fatores econômicos e sociais, entre os quais a baixa produtividade agrícola dos algodoais no semi-árido e a mudança nas relações de trabalho, cuja legislação foi aplicada ao campo. Com isso, os custos de produção, antes embutidos no trabalho da família do camponês, passaram a ter expressão monetária, tornando inviável a atividade, salvo quando desenvolvida em bases capitalistas, em grandes plantações, mediante aplicação de tecnologia intensiva de capital, como se faz no Centro-Oeste, na Bahia e outras áreas propícias ao agronegócio.

No semi-árido, todavia, o retorno da cultura do algodão virou suspiro nostálgico. As iniciativas com algodão colorido trazem alento à agricultura familiar, como significativa fonte adicional de renda monetária. Nessa perspectiva, a lavoura deve ser estimulada com crédito e assistência técnica. Nada a ver, porém, com o saudosismo ingênuo da volta do algodão.
 

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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