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Radomécio Leite

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“Eu quero me arrumar”

06/03/2009 às 19h04

Nunca os versos do grande Noel Rosa estiveram tão em moda: “agora vou mudar minha conduta/ eu vou pra luta/ pois eu quero me arrumar”. Alguns dos escudeiros das antigas oposições de nossa região, verdadeiros paladinos da moral e da retidão, parecem que riscaram de sua cartilha os antigos discursos de Rui Barbosa, por onde provavelmente se orientavam, sobre cidadania e conduta política, e passaram a adotar os de Noel Rosa.

Até que é salutar e de bom alvitre, neste momento em que o poder muda de mãos, ir buscar um pedaço dele para beneficiar o povo na nossa comunidade. As benesses do poder são muitas e com certeza, se distribuídas com honestidade, muitos serão servidos. Existe uma quantidade enorme de carne para o churrasco, mas apenas uma pessoa tem nas mãos uma faca para reparti-lo, mas não é de todo a responsabilidade do dono da faca e do churrasco se os pedaços distribuídos irão saciar a fome de muitos ou de uma minoria, mas a política de bem administrar não é apenas o rateio de cargos públicos.

Mas se você observa de perto a forma como é feita esta partilha, aí sim é que os versos de Noel Rosa afloram com mais vigor. Quem tem o poder de indicar para ser nomeado, quando o faz, na maioria das vezes, não pensa no bem comum, na construção de um espírito de coletividade, no fortalecimento dos princípios democráticos e partidários, mas numa maneira de concentrar ainda mais, nas mãos de poucos, de uma família, de um pequeno grupo “os pedaços do bolo”. Os critérios de escolha são pelos sobrenomes da família.

Não estão tão distantes muitos fatos da nossa história política, e infelizmente está é uma prática arraigada com imensa profundidade entre os políticos de nossa região, a distribuição sem limites de benefícios que o poder proporciona nos caminhos escuros do nepotismo e da corrupção, onde os beneficiados têm que ter o ferro da ribeira e da matriz familiar. Nestes casos a Lei do Anti-nepotismo não os atingem.

Infelizmente, o Poder Legislativo, a quem compete fiscalizar os atos dos agentes políticos, nada, absolutamente nada faz para conter esta famigerada conduta política do “que eu quero me arrumar”. Até porque os legisladores, na sua maioria, são os primeiros a se arrumarem.

Atos praticados, não comprovados documentalmente, mas vistos pelos olhos do povo, também na História recente e atual desta região, é que alguns agentes políticos, cujos patrimônios, com os seus proventos, jamais seriam suficientes para construí-los ao longo do tempo que passaram no poder, nunca foram instados a falarem sobre a origem de seus bens.

Vivemos num paraíso. A corrupção, a ladroagem, os negócios escusos e escuros engendrados nos intestinos do poder medram igual a tiririca em terra fértil e boa. A impunidade reina. O Poder Judiciário na sua lentidão contempla com um olhar perdido no horizonte os desmandos e como se estivesse com os braços cruzados, vê triunfar a impunidade. A comunidade se acovarda e silencia. A imprensa quando critica e denuncia é logo amordaçada e seus trabalhadores são ameaçados, intimidados e cooptados.
Tomem nas mãos os principais jornais e revistas do país, releia os dos últimos oito anos e temos a sensação de que a classe política, quase na sua totalidade, é formada de pessoas que só têm um pensamento: “se arrumar na vida”.

Mensalão, os anões e outros escândalos não colocaram ninguém na cadeia. Não existindo punição, na ausência do gato, os ratos fazem a festa. Outro dia ouvi uma declaração de um Procurador da Fazenda Nacional, dizia ele: “antes estas prateleiras eram cheias de processos do INSS, hoje são de roubalheira dos prefeitos”.

Vamos rezar e torcer para que esta nova safra de agentes públicos não pense apenas em “se arrumar”, mas de construir em benefício do povo.

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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