Falta de memória estaria ligada a doenças e excesso de informação
Estresse, doenças e até mesmo o excesso de informação podem estar entre as causas de um problema cada vez mais frequente na população: a falta de memória.
Estresse, doenças e até mesmo o excesso de informação podem estar entre as causas de um problema cada vez mais frequente na população: a falta de memória. Quem tinha facilidade de aprender reclama que hoje esquece tudo, de alguma atividade feita durante o dia a compromissos e até do que estava falando no meio de uma conversa.
A maioria se preocupa com essa condição e tem medo do que pode significar. Nos idosos, pode estar associada à demência decorrente da doença de Alzheimer, que afeta 11% dos que têm mais de 65 anos. Nesse caso, apesar dos estudos, ainda não é possível reverter o quadro. Por outro lado, nos mais jovens, há situações em que a memória pode ser recuperada com mudanças de hábito, como dormir bem, controlar o uso de aparelhos eletrônicos e reduzir a ingestão de álcool.
É claro que esquecer algo uma vez ou outra não quer dizer que a saúde esteja comprometida. Porém, quando os ‘lapsos’ se tornam muito frequentes e começam a prejudicar o dia a dia em casa, no trabalho, no relacionamento social, é hora de levar a sério e procurar ajuda médica. Só um especialista poderá avaliar se é apenas uma situação momentânea ou se há necessidade de uma investigação mais apurada.
O neurocirurgião Emerson Magno de Andrade, Doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo (USP), explicou que a questão da memória varia de acordo com a faixa etária. Em pessoas jovens – crianças, adolescentes, adultos jovens – a principal causa de alteração envolve basicamente a atenção, o foco no que está se fazendo e não doenças neurológicas mais graves, o que seria muito raro.
No idoso, as demências estão entre as principais causas que chamam a atenção. “A gente entende como demência qualquer declínio cognitivo que leva à perda de funções cerebrais como memória, atenção, capacidade de orientação no tempo e no espaço”. O Alzheimer, nos idosos, é a principal causa das demências, mas no jovem, segundo ele, basicamente envolve a atenção.
“O que acontece, muitas vezes, é que a gente está exposto a um ritmo de vida bastante conturbado – jovem e adulto jovem – que envolve excesso de atividades, de trabalho, sono irregular, problemas de alimentação, abuso de bebida alcoólica. Tudo isso leva a um declínio da atenção e, consequentemente, da capacidade do cérebro de armazenar memória. Não seria um problema da memória em si, mas de ter atenção para uma situação”, observou.
Problema em todas as idades
Aos 46 anos de idade, a funcionária pública Lilian Cunha relatou que tem esquecido com frequência conversas que têm em casa, o que fez no trabalho no dia anterior e até no mesmo dia.
“Às vezes, se houver uma distração, esqueço o assunto no meio da conversa. Sei que todo o estresse a que somos expostos e a correria do dia a dia contribuem, mas tenho me preocupado com isso. O pior é que não sou a única. Várias amigas têm a mesma queixa”, relatou.
A auxiliar de serviços gerais Lucicláudia da Costa Santiago, 40 anos, reclama do mesmo problema. “Dia desses, vim para o Centro com uma quantidade de dinheiro. Fiz um pagamento e esqueci. Quando fui procurar o dinheiro na bolsa, achei que tinha perdido. Além disso, tenho dificuldade de assimilar informações. Acho que o estresse deixa a gente muito ansiosa e isso acaba interferindo”, avaliou.
Um primeiro ponto que pode explicar essa ‘perda de memória coletiva’ pode ser mesmo o estresse do dia a dia, o excesso de informação. De acordo com o neurocirurgião Emerson Magno de Andrade, o cérebro recebe informações o tempo inteiro e isso também pode causar confusão e afetar a memória.
“A gente é exposto a informações, mas elas são fragmentadas. São textos curtos, mas é uma nova informação que chega. Então, tudo isso leva a uma sobrecarga do cérebro que não consegue, realmente, filtrar o que é importante e o que deve ser descartado”, disse.
Adolescentes precisam ter foco
A estudante Larissa Santos tem 13 anos e, em tese, deveria ter facilidade em guardar informações. No entanto, está sofrendo com os ‘apagões’. “Eu esqueço quase tudo que acontece durante o dia e não sei o que é isso. Às vezes, à tarde, não lembro se almocei. Sei que é bom para a memória estudar, ler, e eu gosto, mas tenho dificuldade de aprender na escola. Estou até no reforço de Matemática”, declarou. Por outro lado, ela admite que se excede no computador e smartphone. “Fico até tarde acordada, nas redes sociais, mesmo com os alertas da minha mãe”.
Ludmila Paulino, 14 anos, é outro exemplo. “Tenho dificuldade de aprender. Acho que é muita informação e esse excesso tem influência negativa, não ajuda a gente a assimilar. Eu tenho feito resumos, colo bilhetinhos pela casa com informações para estimular, mas não está fácil”, constatou.
Na avaliação do neurocirurgião, o excesso de tempo, seja no computador ou smartphone, pode influenciar, e isso não ocorre pela questão do aparelho em si, mas a variedade de informações. “Quando se abre um computador, aparecem várias janelas, o que impede o foco somente em uma página. Tudo é muito chamativo, como imagens que se movem, links piscando. É difícil para o cérebro selecionar numa tela o que é importante e o que não é. Isso leva a um certo estresse e uma redução da atenção entre os vários assuntos. O excesso, realmente, pode causar prejuízos e deve ser evitado”, aconselhou.
Na avaliação do médico, o excesso de uso desses aparelhos é muito negativo. “É difícil para o cérebro competir a atenção entre a leitura de um livro, uma aula e uma mensagem de celular, uma notícia que, naquele momento, pode parecer mais chamativa. Esse tipo de distração causa também ansiedade, preocupação com o fato de não estar mais podendo se concentrar como antes e fecha-se um círculo vicioso”, acrescentou o especialista.
Quando procurar ajuda
A partir do momento em que começa a ocorrer uma perda frequente e rotineira da memória, causando prejuízo, isso chama a atenção e pode ser realmente um fator de preocupação. Merece ser investigado através de uma avaliação neurológica, segundo Emerson Magno. Em alguns casos, podem ser necessários exames de investigação complementares, como neuroimagem, ressonância magnética do encéfalo, tomografia do crânio, exames laboratoriais, entre outros.
“É claro que existem situações que são transitórias. Por exemplo, às vezes, a gente tem uma vida muito ativa e, quando o adulto se aposenta, é normal que, por haver uma redução significativa na exigência da função cerebral, da memória, pode ocorrer uma leve redução da capacidade de armazenar fatos novos, mas isso não chega ao ponto de causar prejuízo no dia a dia que é justamente quando chama a atenção para algum tipo de doença”, ressaltou.
Já se a pessoa não tem uma vida estressante, pratica alguma atividade rotineira, tem uma alimentação saudável, consegue dormir bem e, mesmo assim, se queixa ou percebe uma falha progressiva da memória, aí sim realmente pode ser algo a se preocupar e a ser investigado.
Emerson Magno lembrou que as doenças que levam a alterações são progressivas, com o início e uma piora que vai acontecendo cada vez mais. Esses casos merecem atenção para verificar se existe algum fator orgânico que seja a causa do distúrbio.
Alterações orgânicas
Algumas alterações orgânicas hormonais podem causar danos à memória, como o hipotireoidismo, que é um distúrbio em que se tem uma redução da função da tireóide. Entre outros sintomas, isso leva a uma lentificação do pensamento e afeta a memória.
Alguns tipos de tumores cerebrais, principalmente os localizados na região do lobo frontal ou temporal também causam prejuízos progressivos. Estes são casos menos comuns e, muitas vezes, estão associados a outros sintomas como cefaléia, crises epilépticas, entre outras.
Tudo isso, de acordo com o neurocirurgião Emerson Magno, deve ser bem investigado por um neurologista que, através de avaliação neurológica e exames subsidiários consegue encontrar a causa.
Problemas que afetam a memória
Os problemas que podem afetar a memória vão desde a desatenção, excesso de informação para o cérebro e ainda o acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos cerebrais, podendo levar a uma perda progressiva de memória.
“Condições que podem aumentar o nível de gordura nos vasos sanguíneos cerebrais podem ser diabetes, aumento do colesterol, tabagismo. A hipertensão arterial também prejudica porque acaba levando ao fechamento dos vasos sanguíneos cerebrais. Quanto menos fluxo sanguíneo o cérebro recebe, menos ele é capaz de manter qualquer atividade, mais especificamente a memória”, destacou o neurocirurgião.
Outra causa é o uso de drogas ilícitas e o álcool, um fator que, em longo prazo, pode levar a um declínio muito importante da memória, principalmente dos etilistas crônicos que fazem uso da bebida alcoólica.
Entendendo o Alzheimer
Existem vários tipos de demência e a mais prevalente delas é justamente a doença de Alzheimer, ainda de causa desconhecida. “Sabe-se que a gente tem um acúmulo de algumas proteínas de forma anormal tanto no interior do neurônio quanto entre as sinapses. Essas proteínas são chamadas de beta amilóides que levam a uma morte neuronal e à perda de sinapse que é a conexão entre os neurônios”, explicou o especialista Emerson Magno.
O Alzheimer tem causa desconhecida, mas alguns fatores de risco levam à prevalência, entre eles hipertensão arterial e diabetes. Outros podem prevenir ou retardar o início. Isso, conforme o médico, depende muito de uma vida intelectualmente ativa, com leitura, trabalho e sempre ter novos aprendizados.
“Cada vez que a gente aprende algo, estamos criando uma nova conexão entre neurônios. Imagine que temos várias conexões formadas no decorrer dos dias. Quando há alguma doença que leva à perda dessas conexões e à morte dos neurônios, o cérebro consegue ter uma via alternativa para manter aquela memória. Daí a importância de ter sempre novos aprendizados”, disse.
Aprendendo sempre, é possível criar novas sinapses, reforçar sinapses e mesmo que haja a perda de uma dessas conexões, o cérebro sempre vai encontrar uma via alternativa para manter essa memória. A atividade física rotineira também consegue prevenir ou retardar o surgimento da demência do Alzheimer.
AVC é segunda causa prevalente de demências
A segunda causa mais prevalente das demências é a chamada demência vascular, aquela que ocorre em pacientes que sofrem acidentes vasculares cerebrais (AVC) tanto isquêmicos (obstrução arterial do cérebro) quanto hemorrágicos (rompimento de artéria cerebral).
O neurocirurgião Emerson Magno de Andrade afirmou que, nesse processo, vão ocorrendo múltiplas lesões de áreas cerebrais por conta dos AVCs e, por causa disso, levam à perda das funções e da memória.
Estudo analisa se irisina previne ou retarda Alzheimer
Recentemente foi publicado, na revista Nature, uma das principais publicações médicas mundiais, um trabalho feito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com camundongos. O estudo mostrou que os ratos expostos a atividades físicas rotineiras e frequentes conseguiam aumentar a liberação da produção de uma proteína chamada irisina, envolvida na manutenção da memória, e que pode ser uma das proteínas que conseguem prevenir ou retardar o surgimento do Alzheimer.
“Claro que é um trabalho ainda feito em animais e, muitas vezes, não conseguimos reproduzir esse mesmo resultado em seres humanos. Mas, é um dado que demonstra que a atividade física é um fator muito importante na prevenção da demência de Alzheimer”, avaliou Emerson Magno.
Demências reversíveis
Existem ainda outras doenças que levam à perda de memória, mas são demências reversíveis. Alguns exemplos envolvem um tipo de hematoma chamado subdural crônico. É um hematoma cerebral típico do idoso que surge entre o cérebro e uma membrana chamada dura-máter, que envolve todo o cérebro, e acontece com idosos que sofrem algum tipo de traumatismo craniano.
Nesse caso, seria um traumatismo leve e, nele, um vaso se rompe. Esse vaso começa a liberar sangue de forma bem lenta até que se cria um coágulo significativo, que comprime o cérebro e pode levar, entre outros sintomas, a um quadro de perda de memória relativamente rápida e progressiva.
O problema é tratado através de neurocirurgia, sendo possível drenar o hematoma e em boa parte dos casos, reverter completamente os sintomas, restabelecendo a memória, segundo o neurocirurgião Emerson Magno.
Outro tipo de causa de demência reversível é a hidrocefalia de pressão normal. Nela há um acúmulo do líquido no interior do cérebro. Além de causar perda de memória, causa também alteração da marcha e incontinência urinária. É tratada cirurgicamente, com a implantação de um cateter chamado derivação ventrículo peritoneal, em que se drena o excesso do líquido por um atalho para o interior do abdômen. Entre as causas de demência que podem ser potencialmente reversíveis está a deficiência em vitaminas, como a B12.
É possível chegar à velhice com boa memória
“É possível chegar a uma idade avançada e ter uma memória praticamente intacta”. É o que garante o neurocirurgião Emerson Magno de Andrade. Segundo ele, porém, isso envolve muitos fatores como estilo de vida adequado, prática de atividades físicas e, essencialmente, manter a memória sempre estimulada.
É o que faz o aposentado Adauto Ferreira da Silva, que tem 83 anos. Ele garante que a memória é muito boa. “Não tenho problema. Eu lembro de tudo, ando sozinho, não me perco. Sempre evitei o álcool, faço exercício, leio jornal, livros de Medicina. Minha filha sempre se admira porque eu lembro de muita coisa. O segredo é que eu me cuido, mas hoje as pessoas não fazem isso. Bebem demais, não dormem, se estressam”, analisou o idoso.
Para o neurocirurgião Emerson Magno, para contar com uma boa memória na terceira idade, tudo depende também do potencial genético de cada pessoa. “Esse potencial genético tem um peso bem considerável na forma com que o cérebro vai envelhecer”, enfatizou o médico.
Existe uma idade em que é “natural” a memória falhar?
Apesar de muitos considerarem que, na velhice, a memória já não tem mais a mesma capacidade da juventude, o médico afirmou que não existe uma idade certa para a memória apresentar falhas, mas lembrou que, assim como o corpo envelhece, o cérebro também envelhece.
“Então, não se espera que, na velhice, a gente consiga ter o mesmo desempenho intelectual e de armazenamento de memória como tínhamos na adolescência, na infância ou como adulto jovem. Realmente, é esperado um declínio na capacidade de armazenar e de recuperar memória com o tempo, mas não de uma forma que prejudique a independência do paciente. Esse seria o ponto chave, ter um prejuízo da independência”, frisou.
Alimentos bons para a memória
– Verduras de coloração verde-escura – Há quem diga que, em verduras como espinafre, brócolis, couve, há uma substância chamada luteína. Ela favorece a preservação da memória.
– Azeite de oliva – É uma gordura boa para o cérebro e tem efeito na manutenção do colesterol bom.
– Peixes – São ricos em ômega 3 que, segundo alguns estudos, ajudam muito na manutenção das sinapses, que são as conexões entre os neurônios.
– Chocolate amargo – Alguns estudos demonstram que tem uma importância na manutenção da memória, além de ser um estimulante forte.
– Café – É uma bebida que traz vários benefícios para o cérebro. Além de prevenir alguns tipos de demência, tem efeito estimulante, melhora o foco, a atenção e, consequentemente, teria um efeito bem benéfico para a memória.
– Nozes, castanhas – Os componentes dessas oleaginosas, como o selênio, são importantes para a função dos neurônios.
Hábitos para garantir uma boa memória
– Use a memória – Tente relembrar sempre o que for necessário. Hoje ficamos muito dependentes das tecnologias. Praticamente, não gravamos mais os números de celular. Nossas atividades são colocadas no telefone. Então, isso a gente transferiu a função da memória para aplicativos, para a tecnologia, para a máquina. Temos que tentar ao máximo possível utilizar nossa memória. Essa seria uma das dicas mais importantes.
– Leitura – É muito importante porque envolve a imaginação, a retenção da informação. Mas, não pode ser qualquer leitura. Tem que ser feita com atenção. A leitura em telas de computador e celular pode causar um grande prejuízo à memória justamente pela questão da distração com propagandas, o que faz perder a primeira etapa de formação da memória. No papel, o foco é somente naquele objeto estático. Leitura importante, como estudos, só no livro.
– Repita sempre – Outra dica é repetir sempre o que deve ser feito. Se está fazendo alguma atividade, tem que focar nela. Isso tende a reforçar a memória que está sendo feita.
– Novos aprendizados para idosos – Aprender algo novo é fundamental, e não tem que ser uma coisa muito complexa. Por exemplo: comprou uma TV nova, vai aprender a mexer nela, pegar o manual, ler com calma, tentar entender. Quem gosta de música, tentar aprender algum instrumento musical. Qualquer novo aprendizado é importante para a manutenção da memória. Além do envelhecimento do cérebro, a memória se perde com o tempo. Além disso, uma rotina diária de repetições tende a criar um prejuízo muito grande para o cérebro em longo prazo.
– Atividade física – A atividade física é importante para todo o organismo, inclusive para o cérebro.
– Sono adequado – O sono adequado deve ser muito valorizado e é importante para a memória em qualquer faixa etária. Alguns estudos mostram que é durante o sono que o cérebro filtra o que é memória útil e aquela memória que deve ser descartada. Se não temos um sono adequado, reparador, não consegue reter, em longo prazo, a memória a que o cérebro foi exposto durante o dia.
Síndrome de Savant
Existe uma síndrome chamada Savant – distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência – em que os indivíduos têm uma memória extraordinária. Não só a memória, mas também a capacidade de fazer outras tarefas, como tocar um instrumento, por exemplo.
“Alguns desses pacientes possuem uma super memória e a capacidade de, muitas vezes, em uma única visualização, lembrar do fato para sempre. São exceções, são casos raros”, destacou Emerson Magno. Outras pessoas, segundo ele, acabam tendo uma boa memória por questões de hábitos do dia a dia.
Fases da memória
A atenção é a porta de entrada para toda informação que o cérebro recebe. Quando somos expostos a qualquer situação ou dado, para termos a memória consolidada passamos por quatro fases: a primeira é a atenção, a parte inicial; a segunda é a compreensão, ou seja, quando se está atento para uma situação se compreende o que está em volta; a terceira fase é o armazenamento, em que se consegue armazenar aquilo em que você prestou atenção e compreendeu; e a quarta fase é a recuperação.
“Cada vez que se recupera uma memória armazenada, essa memória fica cada vez mais consolidada no nosso cérebro. Por isso, é tão importante repetir algum tipo de informação. Cada vez que a gente recupera uma informação e relembra de algo, mais as sinapses que mantêm essa memória ficam reforçadas e se torna mais difícil perdê-la”, ressaltou Emerson Magno. “A memória passa por algumas fases para ser realmente incorporada e que vão da atenção, compreensão, armazenamento da memória e recuperação. A atenção talvez seja o principal. Para poder reter a informação, é preciso estar realmente interessado àquilo a que se está sendo exposto”, ensinou.
O segundo ponto é a compreensão. Ele explicou que, ao decorar uma informação, ela tende a ser descartada com o tempo, porque o cérebro entende que se não houve a compreensão – segunda fase – não é importante. Entender é fundamental e permite armazenar de forma adequada. “A gente consegue associar ou recuperar uma memória, que seria a quarta fase, quando associamos um fato a outro. Essa associação pode ser de múltiplas formas, como através de uma lembrança que já se percebeu antes, por exemplo. Algumas pessoas conseguem passar por essas quatro fases de forma mais eficaz do que outras”.
Há casos em que, quando a pessoa se queixa de falha da memória, está pecando. “Não sendo uma doença, não sendo um distúrbio orgânico, ou realmente não está atento para o fato que está sendo observado ou não compreendeu aquilo. Observou, mas não entendeu”. O terceiro ponto é que ele entendeu, mas nunca mais recuperou. “A melhor forma de não esquecer uma situação é repetir isso várias vezes, ou seja, é preciso estar atento, compreender, conseguir armazenar. Quanto mais recupera, mais expõe o fato e mais isso fica sedimentado no cérebro”, ensinou.
Tipos de memória
Memórias de curto prazo – São aquelas que usamos por um curto período e são descartadas. Dura dias ou menos. É a memória que vai ser ou não ser transformada em memória de longo prazo. O que define isso é a significância dela para o cérebro. Quanto mais importante para a pessoa, maior a chance dessa memória se tornar definitiva. Um fator que influencia muito é o emocional. Um exemplo clássico é que sempre lembramos situações, onde estávamos, a roupa, com quem estávamos, como uma tragédia familiar ou de comoção nacional. Isso tem forte influência para ela se tornar de longo prazo.
Memórias de longo prazo – São as que ficam sedimentadas no cérebro e se tornam definitivas, permitindo a recuperação mesmo após bastante tempo.
Memória operacional (de trabalho) – É aquela usada por um período muito curto de tempo. É quando vamos discar um número de telefone, por exemplo. Olhamos para o número, usamos e simplesmente descartamos. Serve para manter a atenção e a consciência das coisas do dia a dia. Talvez um prejuízo na memória operacional, em que a memória é envolvida no lobo frontal, realmente pode causar um prejuízo a longo prazo em outras formas de memória e também na compreensão.
Entendendo como o cérebro funciona
A porta de entrada da memória de curto prazo é o hipocampo, localizado no lobo temporal do cérebro. Muito próximo ao hipocampo fica uma estrutura chamada amígdala cerebral que responde pela emoção. Por estar muito próxima ao hipocampo, consegue influenciar no que o componente emocional vai fazer com que essa memória se torne de longo prazo. A de longo prazo tem uma capacidade praticamente ilimitada no cérebro e vai ser distribuída por todo corte cerebral.
“É importante frisar que a memória, além de ser classificada pelo seu tempo, pode ser também pelo seu tipo. Existem dois tipos clássicos de memória: implícita ou de procedimento, e a outra é a declarativa”, destacou Emerson Magno.
A implícita tem relação com algum tipo de habilidade. “A gente consegue repetir de forma inconsciente, ou de forma implícita, como quando aprendemos a andar de bicicleta. Existe uma memória envolvida, mas quando aprendemos realmente, evocamos essa informação de forma inconsciente. É o mesmo que aprender a dirigir um carro, lembrar como ligar, que botão apertar, como passar marcha. Com o tempo, isso se torna algo automático e, praticamente, nem passa pela consciência”.
Já a memória declarativa ou explícita é aquela em que se evoca alguma informação ou algum fato através de imagens, de sons, por exemplo. “É aquela quando a gente lembra a imagem de uma casa, um rosto familiar, um número, uma senha, algo que a gente viveu no passado”, completou.
Fonte: Lucilene Meireles - Jornal Correio da Paraíba - https://portalcorreio.com.br/falta-de-memoria-estaria-ligada-a-doencas-e-excesso-de-informacao/
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