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“Deixar” adolescentes a beber em casa estimula o alcoolismo, afirmam estudos

Não existem razões científicas para deixar seu filho dar uns golinhos para aprender a beber com responsabilidade

Por Campelo Sousa

30/01/2018 às 08h20

Bebida X adolescentes (Foto: DisobeyArt/iStock)

Muitos pais acham que servir uma taça de vinho no jantar ou dar um gole de cerveja no churrasco para os filhos ajuda os adolescentes a aprenderem a beber com responsabilidade. Ledo engano. A intenção de que os jovens não encham a cara na primeira oportunidade que tiverem acesso a bebida longe dos pais pode até ser boa, mas cientificamente não se justifica. Inclusive, a prática estimula o consumo de bebida.

Um estudo australiano realizado ao longo de seis anos comprovou que pais que deixam seus filhos tomarem quantidades limitadas de álcool acabam estimulando os jovens a beberem muito em curtos períodos de tempo (o chamado binge drinking), abusarem da bebida e a terem outros problemas relacionados à ingestão de álcool. Os cientistas envolvidos na pesquisa defendem que os pais que permitem doses esporádicas aos filhos com o intuito de protege-los estão, na verdade, dando permissão para que as crianças bebam.

A pesquisa foi publicada no periódico científico The Lancet. Para chegar a essas conclusões, a equipe da University of New South Wales, na Austrália, liderada pelo pesquisador de drogas e álcool, Richard Mattick, acompanhou o comportamento de 1.900 pais e crianças do 7º ano (em média 12 anos de idade) de três escolas australianas em relação ao álcool. Os pesquisadores se concentraram na exposição dos adolescentes à bebida e na oferta de álcool feita pelos pais, realizando questionários todos os anos. O time de Mattick analisou a evolução dos comportamentos até que as crianças completassem 18 anos.

No início, apenas 15% dos adolescentes (na época com 12 para 13 anos) bebia em casa com a permissão dos pais. Ao final dos seis anos de experimento, 57% dos estudantes (já com 17 para 18 anos) tinha a família como fonte de acesso à bebida. No período, a proporção de jovens que não bebia diminuiu de 2 a cada dez jovens para 8 a cada dezena.

Os pesquisadores também perceberam que os adolescentes que “aprenderam a beber” em casa com o passar demonstraram mais propensão a beber grandes quantidades de álcool em curtos períodos de tempo, mais danos causados pelo álcool e passaram por mais experiências que demonstram abuso de bebida, como terem se metido em problemas ou dificuldade em lembrar das coisas. Em média, 62% dos adolescentes que não bebiam com os pais tomavam quatro ou mais doses em um mesmo evento. No grupo que “aprendeu” a beber com os pais, o número de jovens que bebem continuamente em uma mesma ocasião foi de 82%. Além disso, quem teve o aval da família para dar uns golinhos esporádicos dentro de casa teve duas vezes mais chances de ter acesso a bebida de outras fontes no ano seguinte.

Esse é o primeiro estudo a analisar a longo prazo o que o drinque ocasional que os pais dão aos filhos representa e também foi pioneiro ao comparar os riscos dessa prática aos efeitos sofridos por jovens cujas famílias não oferecem álcool. A equipe de Mattick defende que os resultados da pesquisa reforçam a ideia de que os pais não devem dar bebida aos filhos e que o consumo de álcool causa danos, não importando a forma como a bebida é oferecida aos jovens.

“Enquanto os governos se concentram na prevenção nas escolas e na aplicação de legislações de idade legal para comprar e beber álcool, os pais passam em grande parte despercebidos. Pais, legisladores e médicos precisam ter consciência de que o fato da família oferecer álcool aos adolescentes está associado ao risco, e não à proteção”, disse o professor e autor da pesquisa, Richard Mattick.

Fica o alerta aos pais: enquanto se é adolescente, beber com responsabilidade é não beber. Mesmo que a comemoração seja digna de um brinde, melhor compartilhá-lo com seus filhos só quando eles tiverem idade suficiente pra isso.

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