Mudanças climáticas afetam a saúde de milhões de pessoas, diz estudo
Transformações ambientais podem comprometer avanços médicos dos últimos 50 anos
A menos de uma semana da Conferência do Clima de Bonn (COP-23), a revista “Lancet” publica esta terça-feira um estudo internacional assinado por 24 instituições, alertando que os danos à saúde provocados pelas mudanças climáticas podem minar o progresso atingido pela medicina nos últimos 50 anos.
O relatório “Contagem regressiva: acompanhamento dos progressos em saúde e mudanças climáticas” foi elaborado por uma equipe multidisciplinar, composta por climatologistas, economistas, engenheiros, especialistas em energia, sistemas de alimentação e transporte, geógrafos, matemáticos, profissionais de saúde e cientistas sociais e políticos. Entre os itens avaliados estão os impactos dos eventos extremos, a vulnerabilidade da população e possíveis ações para mitigação.
O aumento da temperatura global contribuiu para uma queda média de 5,3% na produtividade do trabalho rural desde o início do século. No ano passado, mais de 920 mil pessoas foram retiradas da força de trabalho.
O número de pessoas expostas a eventos de ondas de calor foi elevado em aproximadamente 125 milhões desde 2000. O aquecimento global também contribui para a queda de safras agrícolas. A cada aumento de 1 grau Celsius da temperatura, a produtividade global de trigo cai 6%, e a de arroz, 10%.
A equipe internacional estima que cerca de 18 mil pessoas morrem diariamente devido à poluição atmosférica. Entre uma amostra de cidades selecionadas aleatoriamente no levantamento, cerca de 87% estão violando a quantidade máxima de poluentes considerada tolerável pela Organização Mundial de Saude.
Apesar das estatísticas alarmantes, os autores do relatório indicam áreas em que cada vez mais políticas de corte nas emissões de gases de efeito estufa, como os setores de energia e transporte. Alguns países, como o Canadá, já atingiram o pico do uso de carvão. Na Europa, Finlândia, França, Holanda e Reino Unido estão aumentando as energias renováveis e investindo em veículos elétricos.
— A mudança climática está acontecendo e hoje é um problema de saúde para milhões de pessoas em todo o mundo — alerta Anthony Costello, coautor do relatório e um dos diretores da Organização Mundial de Saúde. — A perspectiva é desafiadora, mas ainda temos a oportunidade de transformar uma emergência médica iminente no avanço mais significativo para a saúde pública neste século. Precisamos de medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Os benefícios econômicos e de saúde oferecidos são enormes. O custo da inação será contado em perdas evitáveis de vidas em larga escala.
Presidente do Conselho Consultivo de Ato Nível da Revista Lancet, Christiana Figueres considera que o relatório sublinha como atacar as mudanças climáticas “diretamente, inequivocadamente e imediatamente” melhora a saúde global.
— A maioria dos países não aproveitou essas oportunidades quando desenvolveram seus planos climáticos para o Acordo de Paris — assinala Figueres, ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. — Devemos fazer melhor. Quando um médico nos diz que precisamos cuidar melhor da nossa saúde, prestamos atenção e é importante que os governos façam o mesmo.
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