Saindo do PMDB, Santiago desabafa ¨Partido não tem espaço para quem veio de baixo¨
O ex-senador destacou em seu desabafo a trajetória, dificuldades e trabalho para conquistar tudo que tem e viveu ao longo da vida.
O ex-senador sertanejo Wilson Santiago (PMDB) divulgou nesta segunda-feira (1º), carta aberta dando conta da sua desfiliação da sigla. Na carta, o líder político demonstrou decepção com o partido.
O ex-senador destacou em seu desabafo a trajetória, dificuldades e trabalho para conquistar tudo que tem e viveu ao longo da vida. Em alguns trechos, o texto revela a falta de espaço e de apadrinhamento no PMDB, motivos alegados há muitos meses para justificar seu descontentamento com a legenda.
O peemedebista deve se filiar nos próximos dias ao PTB, e sua adesão deve ser realizada oficialmente em Brasília. Destino que seu filho também irá seguir.
Confira a carta na íntegra:
Carta ao PMDB e à Paraíba
A minha trajetória é testemunha de que nunca me entreguei às dificuldades. Nasci no alto sertão paraibano, numa cidade castigada pela seca e onde as oportunidades de melhorar de vida eram as mais remotas possíveis. Trabalhei desde cedo e, com humildade e muito esforço, consegui estudar e mudar a realidade que parecia impossível de superar. Fui forjado na dureza e foi assim que consegui todas as minhas conquistas.
Como cidadão, advogado e defensor público, sempre estive muito próximo daqueles que mais precisavam e foram muitas as lições. Ensinamentos que mostraram a necessidade de trabalhar pelo bem comum, pela coletividade e fazer algo que pudesse melhorar a vida das pessoas.
Foi assim que iniciei na política, com a bagagem de quem saiu de uma das regiões mais pobres do Brasil, que conseguiu estudar com muita dificuldade e que conhecia de perto a realidade dos mais necessitados em busca de justiça. Trabalhei muito e consegui construir meu espaço político. Fui Deputado Estadual, Deputado Federal mais votado, líder do PMDB na Câmara Federal, Líder do Governo e participei ativamente das grandes decisões que o Presidente Lula implantou no país, contribuindo para que o Brasil tivesse grandes avanços, principalmente, para os mais pobres.
Em 2010, resolvi que poderia fazer mais. Coloquei meu nome à disposição do PMDB e da Paraíba para o Senado e, mesmo diante de tantas dificuldades, disputando contra grandes estruturas, tendo como adversários representantes de famílias tradicionais, chegamos a mais de 820 mil votos e tivemos quase 34% dos eleitores do nosso estado acreditando na nossa proposta e capacidade de trabalho.
Não tive grandes padrinhos, não tive o apoio de todo o meu partido, mas, mesmo assim, surpreendemos e mostramos que é possível começar de baixo e construir nosso espaço. Assumi o Senado, onde chegamos a Vice-Presidência, a Presidência por dez dias e durante onze meses tivemos uma atuação destacada, trazendo recursos para o Estado e influenciando nas grandes decisões.
Em dezessete anos como parlamentar, sendo nove anos em Brasília, conseguimos investimentos de mais de R$1bilhão em todas as áreas. Foram parcerias com o Estado e quase todas as cidades, beneficiando milhões de paraibanos. Nenhum outro parlamentar conseguiu fazer tanto no mesmo período. Esse é o nosso maior legado: trabalho comprovado e compromisso com o nosso povo.
Durante esse período, também ajudamos a construir o PMDB na Paraíba. Estivemos na executiva nacional e criamos uma relação muito forte com as grandes lideranças. Participamos de todos os grandes momentos do PMDB e tivemos atuação destacada e reconhecida por nomes importantes no cenário nacional.
Contraditoriamente na Paraíba, o PMDB não tem espaço para quem veio de baixo e faz política perto das bases, interagindo com a sociedade e os municípios dos recantos mais distantes. O Partido virou espaço para servir aos interesses de poucos, deixou de fazer política grande e se isolou em torno de vontades pessoais.
A comprovação de tudo isso são sucessivas derrotas em 2002, 2006 e 2010. Agora em 2012, o PMDB caminhou para o isolamento nas principais cidades e grandes derrotas aconteceram em João Pessoa e Campina Grande. Pior que isso, as personalidades que estavam a frente dos destinos do partido resolveram atacar os nossos grandes aliados nacionais, PT, PP, PSC, PSB, PCdoB e muitos outros, ao ponto de esquecer tudo que fizemos conjuntamente para mudar esse país pra melhor.
O interesse pessoal deixou em segundo plano os grandes projetos político-administrativos e, por esse mesmo motivo, chegamos a 2013 sem nenhum desses aliados dispostos a sequer conversar com o PMDB. Essa situação é fruto de quem pensa pequeno e entende a politica como representação da sua vontade e não do conjunto de pessoas que fazem um grande partido comprometido com os destinos de uma nação.
Sempre fiz política somando, com diálogo e lealdade. Principalmente, quando estamos entre amigos e pessoas que gostamos e respeitamos. No PMDB fiz grandes amizades, não tenho como enumerá-las. Foi nesse partido que tive os momentos mais importantes da minha trajetória política.
Mas existem limites que não devemos transpor: limites éticos, morais e de convivência. Acredito que antes que isso aconteça devemos manter o respeito e ter sensibilidade para ver que chegou a hora de mudar e construir um novo caminho sem perder o rumo.
Consultei as bases, que atestaram que a melhor opção é deixar o PMDB nesse momento para não ultrapassar esses limites. Deixo amigos e boas lembranças. Infelizmente, não teremos mais o convívio de pessoas que foram importantes durante quase uma vida inteira. Confesso que estou diante de uma das decisões mais difíceis em minha vida. Mas não seria correto permanecer num partido onde o espaço para discussão e participação ficaram muito limitados, quase inexistentes.
Agradeço a todos que nos ajudaram e compartilharam vitórias e derrotas no PMDB. Vou seguir meu caminho junto com aqueles que acreditam ser possível construir uma outra alternativa política, comprometida com o diálogo, garantindo espaço para as ideias e sempre valorizando a ética e a democracia.
Paraíba, 31 de março de 2013
Wilson Santiago
DIÁRIO DO SERTÃO com Ascom
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