Com celular na calcinha, candidatas fraudavam vestibulares de medicina
Eles cobravam de R$ 80 mil a R$ 120 mil dos candidatos para passar respostas de provas para faculdades em todo o país
A Polícia Civil de Goiás prendeu nesta quinta-feira (6/7) cinco pessoas suspeitas de fraudar vestibulares de medicina. Eles teriam vendido vagas por valores de R$ 80 mil a R$ 120 mil a candidatos de todo o Brasil. Investigadores apontam que 110 estudantes do Distrito Federal e de 12 estados procuraram a quadrilha. Mais da metade deles foi aprovada.
Em seis meses de vestibulares, desde setembro do ano passado, o grupo movimentou cerca de R$ 5 milhões. O esquema proporcionava uma vida de luxo aos criminosos. Um deles chegou a comprar um apartamento no valor de R$ 1 milhão, segundo a polícia. Ao todo, a quadrilha atuou em pelo menos 11 vestibulares.
A polícia teve acesso a vídeos em que integrantes da quadrilha instruem agentes que se passaram por alunos para dar o golpe. As filmagens mostram também um dos suspeitos supostamente cometendo a fraude durante uma prova.
Em uma mensagem de celular localizada pela polícia, uma estudante questiona como funciona o esquema e o suspeito responde: “Tenho por gabarito no celular 80 mil. E direta por 120 mil”.
A polícia flagrou o momento em que Fernando Batista Pereira, apontado como um dos suspeitos, comprava 10 celulares em um camelódromo de Goiânia (GO). Além disso, uma agente da Polícia Civil se disfarçou de candidata e se encontrou com o homem. Durante duas horas, ele explicou a ela o plano e a tranquilizou no caso de uma eventual descoberta por parte dos fiscais de prova.
“A gente tem advogado, a gente tem tudo. Se der algum problema, não entra em pânico e fala assim: ‘alguém vai me ajudar’. Eu vou ajudar. Eu tenho os melhores advogados”, minimizou o suspeito.
Em um vídeo, o homem detalha as instruções de como entrar com um celular na prova. “Vai com três calcinhas, bota duas apertadas e a terceira, de preferência, sabe aquelas tipo de pano, que tem tipo uma espuminha por dentro? Usa ela para ela apertar mais e ficar macio. Vai dar tudo certo, se Deus quiser”, explica.
Os investigadores obtiveram outros flagrantes. Durante uma prova de vestibular, policiais civis se passaram por fiscais, com objetivo de monitorar o estudante Mateus Ovídio Siqueira, outro suposto integrante da quadrilha. O investigado responde em meia hora quase todas as questões da prova, deixa a sala e vai para o banheiro.
“Lá no banheiro ele encaminhava as respostas da prova que ele respondia para um membro do grupo que estava em uma base. O gabarito era repassado aos celulares que estavam com cada aluno”, contou o delegado Cleybio Januário Ferreira. Na sequência, os candidatos iam ao banheiro para receber o gabarito pelo celular.
A polícia prendeu, além do bando, o empresário Rogério Cardoso de Matos, considerado o chefe do esquema. Na casa dele, os agentes apreenderam documentos e um carro de luxo. Já na residência de Mateus Ovídio, a polícia encontrou R$ 50 mil que ele teria recebido por fraude nas provas. Um vídeo mostra o rapaz afirmando que desconhece a origem do dinheiro. A quadrilha tinha, ao todo, R$ 150 mil. A polícia apreendeu o dinheiro.
O delegado afirmou que todos os suspeitos responderão por fraude e acrescentou que informará sobre o caso às universidades. Ele prevê que as instituições de ensino iniciem procedimentos administrativos para expulsar os estudantes aprovados por meio dessas irregularidades. O investigador também projeta que os alunos responderão na Justiça.
Defesa
Os advogados de Fernando Batista e do empresário Rogério Cardoso alegam que ainda não têm informações suficientes para comentar o caso. Já o advogado de Mateus Ovídio diz que o cliente nega a denúncia. (Com informações do G1 e da Agência Estado)
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