VÍDEO: Estupro corretivo em lésbicas é usado em clínicas
"A perversão dos medicamentos e livros religiosos, o regime forçado da feminilidade, tortura e o espectro do estupro corretivo" Paola Paredes
Clínicas de reabilitação de dependentes químicos e alcoolismo de países sul-americanos, como Equador e Peru, recebem comprovadamente pacientes gays, lésbicas e trans para tratamento de reversão sexual ou cura gay. A maioria dessas unidades, ditas terapêuticas, é ligada a igrejas cristãs. No Brasil, o Ministério Público Federal investiga indícios de processo similar em pelo menos seis centros.
Em 2011, autoridades fecharam 30 clínicas que tratavam ilegalmente de gays, lésbicas e trans. Os relatos eram chocantes e tiveram repercussão internacional. Torturas e abusos de toda ordem. Uma das práticas denunciadas era o estupro corretivo em mulheres lésbicas. Os relatos chegaram a então ministra da saúde do Equador, Carina Vance. Funcionários desses centros cristãos violentavam internas para que pudessem sentir o “verdadeiro e genuíno prazer sexual de uma prática abençoada por Deus”.
A fotógrafa equatoriana Paola Paredes, lésbica assumida, sentiu na pele esse risco e resolveu investigar o que acontecia nessas unidades, algumas chamadas “clínicas de Cristo”. O resultado é o ensaio fotográfico “Até Que Você Mude”, uma alusão à capacidade de resistência e, posterior, libertação da interna.
Paola Paredes constatou todas as denúncias, como o estupro corretivo, quatro anos depois desse escândalo e encenou as situações descritas pelas mulheres lésbicas internadas por pais religiosos. Um dos momentos mais revoltantes que Paloma passou foi ter presenciado mulheres sendo obrigadas a se maquiar, usar roupas femininas e desfilar de salto alto em atos de humilhação e escárnio. Os áudios foram captados por um gravador colocado no sutiã.
A perversão dos medicamentos e livros religiosos, o regime forçado da feminilidade, tortura e o espectro do estupro corretivo”
Como não podia entrar com câmera nas clínicas, Paloma reproduziu as cenas em fotos nas quais ela protagoniza as situações repugnantes, colocando-se no lugar das mulheres violadas. Há relatos de tortura física, lavagem cerebral por meio de orações e toda ordem de maus-tratos.
Algumas das mais extremas dessas práticas incluíam o uso de restrições de toda ordem, tranquilizantes, espancamentos, retenção de alimentos e outras formas de tratamento humilhante. A maioria dos pacientes é sequestrada e drogada contra a vontade por sua própria família”.
No Peru, há um índice assustador de estupro corretivo consumado nas próprias casas, em clínicas ou em locais de trabalho. Os dados estão no “Anual Sobre os Direitos Humanos de Pessoas Transexuais, Lésbicas, Gays e Bissexuais no Peru 2014-2015”. Um dos casos mais impactantes foi o de uma jornalista lésbica estuprada durante um encontro de comunicadores. O crime levou à gravidez.
Outro estudo, “Estado de Violência: Diagnóstico da Situação das Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Intersexuais e Queer na Lima Metropolitana”, levantou números alarmantes: a cada 10 lésbicas, cerca de 4,3 foram submetidas de algum tipo de violência em família, sendo que 22% da violência familiar ocorria de forma sistemática. Para corrigir a homossexualidade, “são usados o controle emocional, econômico e inclusive a ameaça de violência sexual ou morte”.
No Brasil, corre em sigilo no Ministério Público investigação que apura indícios de que seis instituições similares à do Equador tratam clandestinamente de homossexuais. Algumas ligadas a igrejas cristãs dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe. Num dos relatos, um jovem de 21 anos, atleta e jogador de futebol, foi sequestrado por enfermeiros em Belo Horizonte enquanto dormia em sua casa. Ele foi levado a uma clínica de reabilitação de drogas a pedido da mãe evangélica. Ficou dois meses internado.
O ensaio de Paola Paredes provoca o risco de concessões como a que aconteceu nesta semana no Brasil, na qual a Justiça Federal do DF permite que psicólogos tratem quem quiser “voluntariamente”. A medida é movida pelos chamados “psicólogos de Cristo”, alguns ligados a igrejas e com registros já cassados pelo Conselho Federal de Psicologia.
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