Relíquia: livro inédito escrito pelo paraibano Ariano Suassuna será lançado em 2017
Acabou o mistério. Desde a morte de Ariano Suassuna, em julho de 2014, não se sabia se o autor paraibano havia tido tempo de terminar o romance que escrevia desde os anos 1980
Acabou o mistério. Desde a morte de Ariano Suassuna, em julho de 2014, não se sabia se o autor paraibano havia tido tempo de terminar o romance que escrevia desde os anos 1980. Ao longo desses anos, ele esteve em um processo de eterna reescrita.
Mas o livro não só ficou pronto como já sai em maio de 2017. Ele se chama “Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores” e é composto por dois volumes, “O Jumento Sedutor” e “O Palhaço Tetrafônico”. Ao mesmo tempo, será publicada uma nova edição do “Romance de “A Pedra do Reino”.
Os lançamentos marcam a aquisição pela Nova Fronteira da obra de Suassuna, que deixa assim a José Olympio, casa para a qual chegou a enviar um original do livro – em seguida, porém, pediu para que fosse destruído.
Ariano Suassuna tinha apenas um acordo informal com Maria Amélia Melo, editora da José Olympio à época. Com a saída dela Record e a morte do autor, a obra acabou sendo colocada em leilão.
Escrito em forma de cartas, “Dom Pantero” é a continuação de “A Pedra do Reino”. Embora este já fosse marcado pelo assassinato do pai de Suassuna, o novo livro é autobiográfico de um jeito mais explícito.
Dom Pantero, aliás, costuma ministrar aulas espetaculosas —como fazia o autor. Ao mesmo tempo em que conta a vida do personagem, o livro traz uma reflexão obra do escritor, que buscava a criação de uma estética erudita com base nos gêneros populares.
O romance também será lançado com um DVD deixado pronto pelo autor, com imagens e gravações dele declamando. Não à toa, o subtítulo é “Autobiografia Musical, Dançarina, Poética, Teatral e Video-cinematográfica”.
“Tudo o que se fala de uma literatura pós-moderna já existia n’ ‘APedra do Reino’ e é levado adiante nesse novo livro. A poética armorial se encaixa nos princípios do pós-modernismo”, diz Carlos Newton Jr., curador da obra e amigo do autor.
As ilustrações do livro, que em parte usa uma tipografia desenvolvida para Ariano Suassuna, são do próprio autor. Para garantir que a obra saia como ele desejava, a parte gráfica ficará com o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, um de seus filhos, e do designer Ricardo Gouveia de Melo.
A surpresa é que, além de “Dom Pantero”, Suassuna deixou mais um romance inédito: “O Sedutor do Sertão”, escrito em 1966, que se passa durante a Revolta da Princesa, ocorrida na Paraíba em 1936. O protagonista é Malaquias, irmão de Quaderna, o personagem principal de “A Pedra do Reino”.
Além deste, sairá também “As Infâncias de Quaderna”, publicado em folhetins dominicais no “Diário de Pernambuco” nos anos 1970. De teatro inédito, desponta “O Auto de João da Cruz” – além de peças que foram montadas, mas nunca saíram em livro, ou que foram reescritas.
“A emoção é forte. Como artista, tive que me afastar (dele) para ter minha própria identidade. Agora, comecei a me aproximar dele como artista, não como pai”, diz Dantas, que formou com os irmãos um condomínio para administrar a obra do escritor.
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