Zigue-zague autobiográfico de Solha
Por Francisco Frassales Cartaxo – Isso é lá Mãe Aninha. O filho não é Inácio. Sertão? Tá mais para o brejo… Vital Rolim era um rico senhor de engenho? E esses olhos verdes, sei não… Quem foi mesmo que pintou esse quadro? Um bancário de Pombal. Gênio? Esse cara é doido… De Pombal? Com esse nome, Solha… nem que a vaca tussa! Um discreto senhor, que ouvia calado, afastou-se com seus botões: ora, ninguém jamais viu um retrato de Mãe Aninha!
Essa cena diante da tela pintada por W J Solha, existente na Biblioteca Castro Pinto, em Cajazeiras, é narrativa fantasiosa da polêmica causada na cidade há muitos anos, quando o autor vendeu sua obra de arte à prefeitura municipal.
Solha chegara de Sorocaba, cidade paulista de barões do café e da ferrovia, que se tornou uma das mais industrializados do Brasil. Mal saído da adolescência, ele veio esbarrar em Pombal, integrando a equipe pioneira da agência do Banco do Brasil, inaugurada em 1963. Enorme choque cultural. Pulou da locomotiva para o último vagão do trem! Justo o vagão do Brasil profundo, ainda hoje desconhecido pela gente pretensiosa do Sudeste. Em contato com os matutos e nossa realidade, o forasteiro Solha virou nordestino a seu modo, escandalizando os burocratas do BB e a Paraíba. Naquele tempo, bancário era artigo de luxo no mercado casamenteiro. Apaixonado, foi fisgado por Ione, sobrinha afim do médico Atêncio Wanderley. Sorte sua privar da intimidade de notável figura do sertão do Piranhas.
Todo esse papo nasce da leitura da AutoB/I/Ografia de Solha, que acaba de sair pela Arribaçã Editora, de Cajazeiras. Artista plástico, ator, poeta, incontrolável leitor de Shakespeare, teatrólogo, ficcionista, produtor (quase se lasca), do primeiro longa-metragem de ficção da Paraíba, roteirista… ganhador de prêmios a torto e a direito. Nem assim a gente o conhece. Ateu, escreveu A verdadeira história de Jesus. Ele e o maestro Kaplan prepararam a Cantata pra Alagamar, para dom José Maria Pires ajudar os pobres na luta pela sobrevivência frente a latifundiários.
Ainda bem que Linaldo Guedes alerta: Nada pode ser considerado normal quando falamos de W. J. Solha. O livro foi escrito como quem, arrodeado de amigos, desfia o vai-e-vem de sua atribulada vida, o Nordeste presente de A a Z. Artistas cajazeirenses são personagens frequentes. Menos na hora em que Solha tem a ousadia de mostrar a José Américo de Almeida sua exótica análise d’A Bagaceira. E o vê trincar os dentes: você está completamente louco!
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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