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Francisco Cartaxo

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Valdemar Pires Ferreira

09/12/2023 às 09h12

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - na foto, Valdemar Pires Ferreira - reprodução/internet

Por Francisco Frassales Cartaxo – Numa época de intenso calor, como agora, meu pai tossia de maneira incontrolável, andando pra lá e pra cá na varanda da casa cercada de árvores. A cadeira de balanço, o chão, a rede, lugar nenhum acalmava sua tosse. Vociferava, ele que não era de reclamar em linguagem chula. Os xaropes por ele preparados nada valiam.

– Cartaxo, por que você não manda chamar Valdemar?

A voz de minha mãe veio da cozinha, adoçada em mel-de-abelha, sabendo que o marido não gostava de incomodar o sobrinho médico. Suponho que ambos estudaram, em épocas diferentes, na mesma Faculdade no Rio de Janeiro, o curso de Farmácia parecendo um puxadinho do de Medicina.

Tantino foi o portador do recado.

Valdemar Pires Ferreira, pai de Jane e Pepé, era filho da única irmã de Cristiano, Cartuxinha, que deveria se chamar Crisantina Cartaxo Sobreira Rolim, quando solteira. Ao casar em 1909 com Galdino Pires Ferreira, um moço de Sousa, virou Crisantina Pires Ferreira. Valdemar é o mais velho da prole de seis, três homens e três mulheres. Médico, estudioso, gostava de trocar ideias com o tio, farmacêutico, professor, poeta, leitor. Falavam de tudo no mundo, menos do preço do algodão, de propriedades, de vaca amojada… enfim, de coisas materiais, sem relevância para o espírito!

Valdemar logo chegou.

– Que é que há, Cartaxo?

– É essa tosse que não passa.

Tirou da maleta instrumentos e começou os exames pela temperatura e pressão arterial. Depois, veio o trinta e três, trinta e três, de novo, mais uma vez, meu pai sem camisa. A cena está pregada na minha memória. Em seguida, a conversa em voz baixa, como era hábito dos dois. Doutor Valdemar confirmou o que o tio já sabia, afeito há décadas ao trato de doenças respiratórias, narradas por compadres e comadres que vinham de longe, até de Impueiras, em dia da feira, fazer uma consulta com doutor Cartaxim.

– Pneumonia.

A receita foi despachada minutos depois na antiga botica de doutor Gino, (então cuidada por Marechal, meu primo unilateral), exibindo o nome de Farmácia Hygino Rolim, meu avô. Marechal é neto de Serafim Antônio do Couto Cartaxo, primeiro marido de Mãe Nanzinha, de quem ele e eu somos netos.

Com poucos dias, Cristiano Cartaxo estava refeito, a saúde em forma, os versos saindo agora com redobrado ânimo. Por que falo disso? Ora, nos piores momentos dos sintomas que eu senti, semana passada, escutei uma voz doce, sussurrada, que nem um sopro vindo de longe: Filho, por que você não chama Valdemar?

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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