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Adjamilton Pereira

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Saudades de tia

11/10/2011 às 22h44

Ele chegou à minha vida com a beleza e a esperança da adolescência. Imberbe, trazia no rosto os derradeiros traços da infância. No espírito a convicção de que o mundo tinha todo o seu cenário a se descortinar ante seus olhos. Tranquilo e de índole dócil não apresentou qualquer resistência a convivência, mesmo distante da casa paterna e enfrentando uma nova realidade. As saudades eram aliviadas pelo esforço intenso e a nova rotina que os estudos no Curso de Medicina impunham.

Estabelecemos nossas rotinas e, durante quatro anos, habitamos o mesmo espaço, respeitando as individualidades, mas tendo sempre a velada certeza de que estávamos alerta para qualquer ocorrência. E assim, estabelecemos nosso cotidiano. Seu jeito alegre e de boa paz me transmitia tranqüilidade e cativava a todos os meus amigos que nos visitava. Alguns já o tratam por o doutor.

Em muitas noites assisti aos seus serões de estudo intenso que varavam as madrugadas ao preço de goles de café e de cafeteiras esquecidas no fogo aceso. Assisti inebriada, em muitos momentos, o seu entusiasmo ao descrever as descobertas que fazia nos estudos, os novos conhecimentos que adquiria e que deixavam transparecer em seu semblante a certeza da opção profissional que escolhera e a seriedade do médico que se formava. Com o mesmo empenho se lançava em alguns momentos a contar piadas, revelando, no entanto, pouca habilidade para esse metier. Com certeza, como contador de piadas você será um excelente médico.

Também me encantava com sua habilidade para a música e sua destreza com o violão. Em muitas noites adormeci ao som de sua música. Não apenas os acordes do violão, mas a preferência por um estilo musical de bom gosto que me encantava. Muitas vezes fui abordada por você para saber se conhecia uma música que você acabara de descobrir e que estava ensaiando ou se eu tinha, entre meus CDs, música tal.

Essa foi a nossa rotina nos últimos quatro anos. Mas, o tempo passa e, chegou o momento de você arribar, alçar vôos, ir à busca de novas formações, complementar os estudos em outras paragens. Partistes com a mesma beleza como chegaste. Em tuas palavras de despedida a emoção verdadeira de um afeto que, com certeza, cativaste em mim pelo resto de minha vida.

Chorei de saudades. O vazio da casa. O quarto enorme sem tua presença. O silêncio de uma música não mais dedilhada ao violão. Uma insossa piada contada a mesa do almoço. Sei que a vida, como diz o poeta Milton Nascimento, é marcada por encontros e despedidas. Mas você, Helder, será sempre um prazeroso ponto de encontro em minha vida, mesmo que a distância imponha obstáculos ao nosso contato físico, resta o enorme carinho, o sincero afeto e a verdadeira acolhida de sua tia.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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