Ressaca eleitoral
Passadas as eleições vem a ressaca do voto. Uma ressaca ainda não completa em razão da realização do segundo turno, momento em que os debates se acirram, as alianças e conchavos se refinam e, publicamente, se renovam promessas e compromissos, muitos irrealizáveis e pouquíssimos exeqüíveis.
Mesmo com a incompletude do processo algumas ponderações emergem dos cliques e sons eletrônicos das urnas e que suscitam inquietações e reflexões sobre os mecanismos que legitimam e autorizam o processo eleitoral e, em última instância, o modelo de representatividade que nossa estrutura democrática e de governo encerra.
Uma das inquietações mais assíduas refere-se a distância entre o exercício do mandato e sua correspondência com os anseios e demandas da população, mesmo que, teoricamente, as ações sejam sempre operacionalizadas em nome do interesse do povo.
São frágeis e de pouca operacionalidade os mecanismos existentes e que foram criados com a intencionalidade de articular uma relação entre o exercício do poder representativo e as aspirações e interesses mais coletivos. Não se pode negar que inúmeros engenhos e múltiplos instrumentos legais e políticos foram e continuam sendo frequentemente inventados.
Entretanto, a debilidade da participação popular, ainda tangida pelos interesses imediatos e individualistas, se sobrepõe a movimentos mais articulados e conseqüentes e que tenham força de alterar o curso de processos administrativos e legislativos.
Outro aspecto a ser considerado é a prevalência de práticas e condutas ainda muito sedimentadas em relações consideradas paternalísticas e clientelísticas, convertendo votos em moeda de barganha e mandatos em postos adquiridos com a força do dinheiro ou do prestígio político e da tradição.
Nessas circunstâncias, rompem-se ou tornam-se tênues os vínculos e as correspondências entre a autoridade de um cargo eventual e referendado na legitimidade popular e as concepções e situações de conversão dos mandatos em poder de família, passando de pais para filhos como se fossem patrimônios materiais acumulados e não ocorrências inatas ao necessário e saudável exercício da vida democrática.
Todas essas situações se somam e se enredam na produção de uma mentalidade cultural e política produtora de concepções e explicações que, numa leitura aligeirada, cheira a alienação, mas que traz em sua gênese todo o desencanto e descompasso entre o fazer político e sua relação com a vida cotidiana dos meros homens comuns. Homens que, em momentos não muito raros, elegem com votação surpreendente, palhaços, figuras grotescas, personagens exóticas.
Claro que todos se albergam no grande guarda chuva da chamada democracia. Mas, o tecido esgarçado desse abrigo carece de reparos urgentes e permanentes. Sob penas de que os respingos molhem a todo
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