Preconceito
As definições são as mais diversas e com variadas tonalidades de sarcasmo e velado preconceito. Republica de saias, Clube da Luluzinha e tantas outras variações estão sendo amplamente utilizadas, sobretudo pela imprensa, para designar o Ministério da Presidente Dilma Russef. Tudo pelo singelo motivo de ser, pela primeira vez na história deste país, composta uma equipe de governo onde a presença da mulher tem sido significativa, não apenas como dado quantitativo, mas pela comprovada competência e desenvoltura para a gerência da coisa pública.
A participação feminina na vida pública, na contemporaneidade, é um fato de inquestionável comprovação. As mulheres, após embates históricos que se desenrolam, sobretudo a partir da segunda metade do século XIX, conquistam espaços no mundo da política, dos negócios, da economia. Rompendo, com dolorosa experiência, as soleiras da casa elas iniciam a incursão no mundo masculino pelo campo do trabalho. Uma persistência que tem suas cobranças e, ainda hoje, as mulheres respondem, em sua quase totalidade, por uma dupla jornada de trabalho, principalmente quando se considera que, social e culturalmente, ainda é posta como atribuição feminina o cuidado da casa e o exclusivo exercício da maternidade.
No ritmo de sua incursão no mundo do trabalho as mulheres foram se apercebendo que não apenas salários diferenciados para o mesmo trabalho marcam as diferenças de gênero. Percebem que essas desigualdades são institucionalizadas através de leis, regulamentos, estatutos que conformam e moldam uma sociedade onde a presença masculina é reverenciada como medida e parâmetro de todas as atitudes, valores e concepções de mundo. A visão androcêntrica reparte e divide o mundo naturalizando as diferenças e instituindo explicações e definições que desqualificam e inferiorizam as mulheres, consideradas seres frágeis, dóceis, inaptas para o trabalho e ineptas para a criatividade intelectual. Foram feitas apenas para servir e obedecer.
No percurso de suas lutas as mulheres constroem o entendimento de que não basta apenas conquistar o espaço no mundo do trabalho. Não é suficiente somente quebrar as fronteiras do lar e disputar territórios masculinos. É necessário e imperativo mudar as concepções de mundo. Ou seja, é fundamental a transformação das mentalidades e das ideias que alimentam e forjam as cabeças e mentes. E o espaço político é o campo por excelência onde as transformações se processam de maneira mais consistente e com mais possibilidades de modificação da realidade.
Portanto, a participação feminina no Ministério da Dilma Russef é somente a confirmação da história. O engraçado é que, ao longo da vida política brasileira os ministérios majoritariamente masculinos nunca mereceram nenhum comentário. É ou não uma visão preconceituosa?
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