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Padre Djacy

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A paixão e morte de Jesus na vida do povo brasileiro

14/04/2017 às 10h07 • atualizado em 13/04/2017 às 21h10

A semana santa é um tempo propício para que reflitamos na condição de cristãos e cristãs, sobre a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, o Galileu, considerado subversivo, um fora da lei, um agitador do povo, pelos líderes políticos e religiosos reacionários da época. Tratado como perigoso, agitador, julgaram-no, condenaram-no e o assassinaram. Com essa reflexão, possamos tomar consciência de que a paixão e morte desse nazareno continua na vida dos pobres, os preferidos de Deus, que a cada dia, são massacrados nos seus direitos, no seu corpo, na sua dignidade e na sua vida..

A morte de Jesus, lá da Galileia dos oprimidos, uma região extremamente pobre, miserável, excluída, a exemplo do nordeste brasileiro, foi tramada, arquitetada, pelos detentores do poder político e religioso. Ora, os seus discursos inflamados, libertários (ver sermão da montanha (Mt 5) e as acusações contra os escribas e fariseus MT, 23ss) em defesa dos marginalizados, incomodaram a elite arrogante, prepotente, assassina, poderosa: “esse homem anda agitando o povo, matemo-lo”. Então, podemos concluir, sem medo de errar, que o motivo de sua morte dera porque o mesmo, de forma corajosa, enérgica, entrara na contramão de um sistema politico e religioso que oprimia, excluía, massacrava, o povo pobre da Palestina. Jesus nunca se conformara com esse diabólico sistema: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste”(Mt,23, 37).  E não foi por acaso que Jesus chamara o rei Herodes de raposa (Lc, 13:32).

Como sabemos, o povo da Palestina, de modo bem particular da região da Galileia, uma região extremamente miserável, era tratado com desdém. Essa gente vivia de forma infra-humana. Jesus, na sua grandíssima sensibilidade humana e divina, não suportou essa situação humilhante contra os filhos de Deus. Tomando as dores dessa população, não se acovardou, não se omitiu, gritou em alto e bom som, como podemos ver em Mateus, 9,36: “tenho pena deste povo, pois é como ovelha sem pastor”. (Pastor refere-se às autoridades políticas e religiosas omissas e covardes, que não estavam nem aí com o povo e suas necessidades. É como aqui no Brasil, onde o presidente golpista e seus asseclas tratam o povo com indiferença, injustiça, desdém). E mais: “eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10,10). Por conta dessa sua posição histórica em defesa da vida dessa gente marginalizada, foi assassinado como um bandido da pior espécie pelo poder opressor do Estado romano.

A fé cristã libertadora leva-nos a afirmar, peremptoriamente, que Jesus continua morrendo, a toda hora, a todo instante, na vida de milhares de brasileiros e brasileiras. O seu brado de desespero, na cruz, ecoa na boca dos injustiçados, dos excluídos, dos sem tetos, dos sem terra, dos sem emprego, das vítimas da violência policial, dos violentados nos seus direitos inalienáveis, das vítimas do racismo, homofobia, preconceito e do ódio dos fascistas; das mulheres escravizadas, humilhadas e tratadas como objetos sexuais, dos estudantes sem FIES, sem bolsa de estudo e sem o Programa Ciência sem Fronteiras, das famílias que, pelo fato de receber o Bolsa Família, são tão humilhadas; dos nordestinos tratados com desdém e humilhados por gente do sudeste e sul do país, do povo que não tem como liquidar suas dívidas financeiras; dos pais de famílias que não têm dinheiro para fazer a feira, no final do mês, dos pacientes que morrem nas filas dos hospitais, dos idosos desrespeitados, dos trabalhadores que ganham salários de miséria, dos agricultores desesperados, sem assistência dos governantes, das famílias despejadas com violência pela força bruta do Estado, dos pobres que ficaram sem a assistência dos queridos e abençoados médicos cubanos, dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras, vítimas das satânicas reformas previdenciárias, trabalhistas, impostas por um governo cruel, desumano, antidemocrático. E mais, Jesus continua morrendo na pessoa do brasileiro e brasileira, vítima de políticos traidores, corruptos e golpistas.

Ignorar que o Crucificado de Deus continua sangrando no corpo vivo do sofrido e esmagado povo brasileiro, é querer interpretar a Paixão e Morte do Senhor de forma alienante, reacionária, espiritualista. É não querer, conscientemente, levar em estrita consideração o contexto histórico político, econômico e religioso da época. Em síntese, é querer ignorar a causa histórica da morte de Cristo.

A paixão dolorosa de Jesus continua bem presente na vida do nosso povo brasileiro.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Padre Djacy

Padre Djacy

Pároco da paróquia Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, da cidade de Pedra Branca, no Vale do Piancó, Diocese de Cajazeiras, Paraíba.

Contato: [email protected]

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