Os tiranos e os salvadores
Os argumentos são os mais diversificados e, todos, revestidos dos mais nobres e humanitários sentimentos: salvar um povo desvalido das garras sanguinárias e virulentas de um ditador que, em momentos passados e não tão longínquos, foi um aliado de primeira hora. Esse o cenário que se vislumbra da atual situação que vive a Líbia, um país encravado no norte da África, banhado pelo Mar Mediterrâneo, e que, nas últimas semanas, vem ocupando o noticiário da imprensa internacional e, também, as preocupações de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, e de governantes de importantes nações ocidentais.
Mas, o que tem a Líbia para merecer tamanha atenção do mundo. Na verdade, importantes reservas petrolíferas e uma posição geográfica privilegiada. Situado no norte da África, o país foi governado, nos últimos trinta anos, por um homem que, entre a população, gozava de uma mistura de amor e ódio, sentimentos que marcam significativamente a relação entre os grandes déspotas e seus seguidores. Mas, essa realidade deve ser pertinente e peculiar a esse povo e sua capacidade de determinar seus rumos. A intervenção externa, mesmo que movida pelos argumentos mais humanitários, cheira a intromissão.
Outro fator que faz da Líbia um importante alvo da atenção do mundo ocidental é a ameaça, cada vez mais crescente e enigmática, do crescimento do islamismo, sobretudo, sua vertente política e militar, sinonimizada em organizações terroristas e que tanto pânico tem causado em muitos países ocidentais. As lembranças do 11 de setembro ainda não conseguiram dissipar a nuvem de poeira e terror que se posiciona no horizonte das nações ditas livres e democráticas. Nações que, nos últimos séculos, empreenderam guerras monumentais sob o pretexto de resgatar povos atrasados, de espalhar a democracia como valor de convivência, de disseminar crenças religiosas como únicas possibilidades de salvação. Investidas colonialistas que extinguiram costumes e modos de vida, que ceifaram vidas, que desestruturam famílias e grupos humanos, que herdaram grandes levas de refugiados, de órfãos, de mutilados.
Hoje é a Líbia a bola da vez. Mas já foi a Índia, a América Latina, o Iraque, o Afeganistão. Países, regiões inteiras que viveram e vivem o espectro das ocupações de exércitos poderosos que, com rico arsenal bélico e tecnológico, impõem seu poderio, destroem edificações em nome de uma limpeza bélica imaginária, que destroem projetos de vida em nome da democracia. É necessário, portanto, desvelar os interesses que, de fato, legitimam, justificam e movem as ações militares de nações poderosas. Afinal, muitos dos ditadores de hoje, foram aliados de ontem. E o povo continuava sempre sem voz e autonomia.
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