O Hospital Regional e a velha política (2)
Semana passada, prometi falar do Hospital Regional de Cajazeiras sob a gestão de Ricardo Coutinho. Antes, porém, cabe relembrar episódios ocorridos ainda no governo José Maranhão. No começo de 2010, aflorou uma crise na gestão compartilhada do HRC, envolvendo o diretor geral, Antônio Fernandes, representante da UFCG, e a diretora administrativa, Jaqueline Abreu, indicada pela prefeitura de Cajazeiras, colocando em risco o pacto institucional tripartite, construído para gerir o Hospital. As desavenças repercutiram na mídia, gerando apaixonadas posições, como é costume em nossa terra, quando os cordões azul e encarnado do pastoril político se julgam ameaçados. Naquela ocasião, em artigo no Gazeta, nº 585, de 05 de março de 2010, sob o título “Crise no Hospital e caçadores de votos”, assim comentei:
“A causa real da crise talvez esteja na inadequação do perfil dos gestores indicados pelos respectivos entes federados. Refiro-me ao perfil ético, ao currículo profissional, à experiência acadêmica e, também, à exata compreensão do papel que o HRC deve desempenhar nesse momento de ruptura com sua história pontilhada de vícios eleitoreiros.”
Havia acusações de improbidade administrativa. No dia 1º de março de 2010, o prefeito Léo Abreu admitiu que as questões referentes ao HRC são passiveis de solução. No entanto, corria à boca pequena versões conflitantes, a esconder interesses partidários com tal intensidade que o assunto foi esbarrar no gabinete do governador Zé Maranhão. Terça-feira, 02 de março, ele recebeu caravana de Cajazeiras, o reitor Thompson Mariz à frente e com a presença do MAC. Depois de mais de uma hora de troca de impressões, Maranhão se dispôs a investigar possíveis desvios, desde que formalizada a denúncia. Narrei o encontro com o governador e conclui com estas palavras:
“Se é assim, sobra má vontade e falta juízo. Querem destruir com os pés o que a sociedade cajazeirense tenta construir com as mãos. Um alerta final: amanhã poderá faltar voto aos que desejam caçá-lo na porta do Hospital.”
Depois daquela crise, cujas raízes são estruturais, boa parte das lideranças políticas (e da mídia cajazeirense) passou a ver na ruptura do pacto institucional, base da gestão tripartite, um fim e não um meio. Um meio de fazer do velho HRC efetivo instrumento para atender bem a população e servir de campo de estágio para os alunos dos cursos da área da saúde. O então candidato a governador, Ricardo Coutinho, garantiu assumir o ônus de comandar o Hospital, com ou sem parcerias com a UFCG e a prefeitura. Como já se vivia clima eleitoral, os cordões encarnado e azul tomaram posição a favor ou contra, de acordo com seus subalternos interesses partidários. O MAC, ao contrário, reforçou a tese de que o importante é manter o HRC fora das intrigas políticas, longe do pastoril, perto do interesse coletivo.
Dez meses depois, Ricardo Coutinho, já no governo, nomeou a professora universitária, Emmanuelle Cariry, médica sem vínculo com os grupos políticos locais, embora carente de largo tirocínio administrativo para comandar o Hospital. Caçadores de votos, mesmo inconformados, recolheram-se ante a força do poder estadual. Esperaram, todavia, o momento propício para dar o bote, aproveitando-se do inevitável desgaste de quem dirige um hospital de emergência. Aqui e em qualquer lugar. Disso tratarei na próxima semana.
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