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Adjamilton Pereira

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O Cine Pax

04/10/2011 às 19h27

Na tela enorme do cinema um mundo se descortinava diante dos olhos da menina que, oriunda da zona rural, se encantava com as maravilhas da urbanidade, como a energia elétrica, as imagens de televisão, o cinema, as casas conjugadas, o barulho dos automóveis, o pão aguado (ou francês) no café da manhã. O cinema passa a fazer parte de sua vida muito precocemente. Morando no treco da rua Pedro Américo que dá acesso a rua Dr. Coelho éramos vizinhos do Cine Pax, um dos dois cinemas pertencentes a Diocese.

O outro, o Apolo XI, situava-se nas proximidades da Catedral. A cidade dispunha ainda de outro cinema, o Cine Éden, de propriedade de particulares. Além disso, outras aventuras de exibição cinematográfica eram registradas, como cinema mambembe de Otrope.

Não apenas a proximidade do Cinema me introduz na magia da sétima arte. O bilheteiro e porteiro era colega de colégio de uma das minhas irmãs. Isso era um valioso passaporte para assistir, de graça, a filmes quase todas as noites. Fitas, inclusive, com recomendações de faixa etária bastante superior a minha idade. E qual malabarismo desenvolvia para fugir a implacável perseguição do representante do juizado de menores; um senhor surdo mundo cujo nome a distância do tempo apagou e que, várias vezes, percorria o cinema a cata de penetras que ousavam assistir a filmes proibidos. Com destreza, mergulhava embaixo da poltrona para escapar ao vigilante facho de luz de sua lanterna.

Retomada a normalidade viajava nos cenários deslumbrantes de emocionantes histórias de amor, nas aventuras dos heróis de capa e espada, no destemor dos cowboys do velho oeste americano, com sua indômita bravura, abrindo fronteiras, exterminando índios e instituindo o modo de ser que domina o mundo. Na mesma viagem de sonhos e fantasias, soltava o riso inocente com as peripécias e trapalhadas do Gordo e do Magro, dos Três Patetas, ou se emocionava com a tragédia dos amores impossíveis das adaptadas tragédias shakespeareanas. Um mundo novo onde sonhar era a medida de todas as coisas e a vida se contagiava com o chiado do projetor que lançava imagens tão deslumbrantes na grande tela branca. O fim da exibição trazia a realidade do cotidiano, mas deixava o sabor encantado do onírico que acalentava as saudades de Impueiras, a ausência dos pais, a incerteza do futuro.

Nos anos de 1980 a cidade de Cajazeiras assiste, impassível, ao fechamento dos seus três cinemas. A massificação da televisão traz a comodidade da sala de estar mas rouba o encantamento do sentar-se na poltrona e, entre pipocas, balas e beijos roubados da namorada, ver abrir-se ante seus olhos magias e realidades inventadas pela genialidade do homem. A televisão desencantou o mundo do cinema, alterou sociabilidades e deixou a cidade mais pobre de sonhos e encantamentos. E nas lembranças ainda revoam os cheiros, odores e sabores do Cine Pax hoje transformado em auditório, mas onde, outrora, como eu, muitos construíram mundos, ergueram fantasias e sonharam vidas.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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