Lembranças poéticas do São João
É São João. No ar um clima de fogueira, fumaça, espocar de fogos, lembranças de balões, acordes de forros, xotes, baiões. No espírito, a expectativa por uma festa que, outrora, celebração da colheita, hoje representa a promoção política de governantes. O popular se mistura com a organização e pausterização e tudo vira um grande evento planejado e pensado para atrair multidões e configurar-se como vitrine para a exposição de vaidades e veleidades. Entre o tradicional e o moderno o debate se instala incitando paixões e estimulando posturas.
Nesse curso, a lembrança dos versos de Manuel Bandeira sintetiza, de forma magistral, a dinamicidade da vida transformando, inclusive, nossas lembranças.
Profundamente
Manuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes.
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
– Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totonio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
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