Lembranças para o centenário de meu pai (2)
A educação dos filhos
Ouvi muitas vezes o meu pai falar: a educação é a maior herança que um pai pode deixar para um filho e disso ele cuidou com muito afinco, carinho, dedicação e obstinação, sempre sob os olhares, cuidados e orientação de minha mãe. Foi ela que o convenceu da necessidade de sair do Distrito de Engenheiro Avidos para morar em Cajazeiras, para os “meninos estudarem”.
Sendo o primogênito, dos nove filhos, precisava dar o exemplo e ao longo de mais de trinta anos, também contribuí para que meus oito irmãos se formassem e fui o responsável em levá-los para a cidade do Recife, com exceção de Linda, que se casou muito jovem, mas que não abandonou os estudos e fez faculdade em Cajazeiras.
Foi numa madrugada, com muita chuva, que meu pai foi me levar até a Rodoviária Antonio Ferreira, para tomar o ônibus, a Viação Andorinha, com destino a cidade de João Pessoa, depois de ter concluído o Curso Ginasial no velho e tradicional Colégio Diocesano Padre Rolim, no ano de 1963. Em Cajazeiras ainda não tinha o Curso Científico. Em João Pessoa me matriculei no Colégio Lins de Vasconcelos e tive como colegas Rafael Holanda e os filhos de Tota Assis, Costa Neto e Severino Cartaxo, isto em 1964. Em 1966, sem meus pais tomarem conhecimento, pedi meus documentos na secretaria do colégio e fui embora para o Recife, onde me matriculei no Colégio Carneiro Leão e no cursinho pré-vestibular de jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. Na hora da inscrição para o vestibular, Eu e Antonieta, que era minha colega de Colégio e Cursinho, resolvemos fazer História, passamos no vestibular e concluímos o curso em 1970. Neste mesmo período fiz também a inscrição para o Bacharelado de Ciências Sociais, na Universidade Federal de Pernambuco, passei no vestibular e fiz os dois cursos ao mesmo tempo, um noturno e outro diurno, além de ministrar aulas no Colégio Santa Teresinha, em Boa Viagem.
Nestes cinco anos de Recife morei uns dias na casa de um amigo, na pensão de Dona Lica, na Rua da Imperatriz, num apartamento na Praça Maciel Pinheiro, já em companhia de minhas irmãs, que antes moravam numa pensão na Avenida Conde da Boa Vista e posteriormente fomos morar num apartamento na Rua Dom Carlos Coelho, que meu pai o comprou e por ele passaram oito filhos de Arcanjo, como estudantes e um deles, Sales, depois que se casou. Este apartamento foi abrigo ainda de vários netos, que nele se instalaram e só saíram depois de formados, que ainda pertence aos filhos.
Nesta longa caminhada, meus pais, tiveram a felicidade de assistir a formatura, além das minhas, a de Maria da Conceição (Linda) em Ciências Biológicas, a de Maria Neide, em Medicina, a de Francisca Francineide, em Direito, a de Maria do Socorro em Psicologia, a de Maria Lúcia, em Pedagogia, a de Arcanjo Filho como Médico Veterinário, a de Maria Aparecida, como médica e da Francisco Sales, em Direito.
Não foi uma jornada tão fácil para meu pai, que tinha que se desdobrar em trabalho para prover a todos e o da minha mãe de ser a grande conciliadora, orientadora e conselheira, cuja palavra era verdadeira, inarredável e em alguns momentos firme e forte para manter a todos nos caminhos que eles desejavam que fossem melhor para os filhos. Não havia meia verdade para minha mãe, que não admitia erros, nem falhas, enquanto meu pai passava a mão na cabeça e dizia: o tempo resolve tudo.
Gostava imensamente de conversar com meu pai e dele recebi muitas lições de vida e via a alegria que sentia a cada formatura de um filho e ele relembrava como conseguiu aprender as poucas letras, pouquíssimas mesmas e apenas a conta de somar, sem ter ido a uma escola, mas nem por isto deixou de construir, após anos de muito trabalho e honestidade um patrimônio infinitamente grande para os filhos que foi o saber.
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