Lembranças do culto a João Pessoa
Por Francisco Frassales Cartaxo – Nasci nove anos após a morte de João Pessoa. Cresci em Cajazeiras ouvindo referências ao mártir, ao herói. O que mais me tocava eram o desfile do 26 de julho e discursos cívicos. Vivenciei parte das manifestações como aluno do Ginásio Salesiano, sem a compreensão exata daquele clima de exaltação ao jovem presidente assassinado. Nessa época glorificavam também figuras marcantes de nossa história. O presidente da República Epitácio Pessoa, José Américo de Almeida e o cearense Juarez Távora. Estes dois os grandes chefes da Revolução de 30 no Norte do Brasil. Tudo me chegava com naturalidade.
Aos 16 anos fui estudar em Fortaleza, onde ainda encontrei a sombra heroica da década de 30, engordada pela veneração ao ministro das secas, José Américo. Lá se dizia até que ele era mais cearense do que paraibano… José Américo fora o grande salvador dos pobres na catástrofe climática de 1932. Ora, a seca no Ceará encosta no mar, sem o anteparo da zona da mata ou das serras úmidas e frescas do Nordeste Oriental. Daí no imaginário dos cearenses aquele respeitável homem público tronava-se quase um mito.
Isso aumentava meu orgulho paraibano.
A seca de 1958 e o primeiro voto me pegaram ainda secundarista e mexeram em minha percepção dos fatos. Acompanhei de perto a eleição para governador, senador, deputados no Ceará e, à distância, o desenrolar da campanha legislativa na Paraíba. Em Fortaleza, carros de som, a Rádio Dragão do Mar e muita gente repetiam a toda hora:
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– Meu avô já dizia, havendo outro, não vote em Távora!
Para mim foi um choque. E Juarez, o herói de 1930? Pela Rádio Borborema, de Campina Grande, escutei discursos, nos quais João Agripino, Zé Américo recebiam agressões em comício. E também agrediam. Anos depois, soube que na mesma disputa eleitoral, José Américo pronunciara esta tirada formidável: Cajazeirenses, vou falar baixinho para que o Ceará não me escute, mendigando votos em minha própria terra!
Fatos assim só os fui juntar mais adiante, quando pude enxergar melhor o cenário político e social no Brasil. E distinguir a real significação do assassinato de João Pessoa. Para matar a curiosidade da leitora: não votei em Virgílio Távora para governador. E muito lamentei a derrota de José Américo para a vaga de senador, conquistada por Rui Carneiro. Virgílio e Zé Américo foram esmagados pelo clientelismo, engordado em 1958 nas frentes de emergência do governo de Juscelino Kubitscheck.
Àquela altura o culto a João Pessoa já estava enquadrado em outra dimensão histórica.
Da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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