Lembranças da RAP
As imagens povoam a cabeça e me deslocam para um outro tempo. Rádio Alto Piranhas, início da década de 1980. Meu primeiro emprego, após terminar o Curso de Comunicação Social. A cabeça cheia de planos e tantas e efêmeras convicções de que o mundo seria transformado com nossas revolucionárias idéias. A certeza de que faria, com as palavras, uma poderosa arma para mudar o mundo, transformar consciências, redimensionar práticas e costumes e erradicar todos os males sociais que, inocentemente, se resumiam as nossas vontades e desejos.
A Rádio funcionava no prédio do Cine Apolo XI. A redação ficava no primeiro andar onde algumas velhas máquinas de escrever Olivetti e Remington serviam como suporte para a produção de noticiários. Ao lado da Rádio, no mesmo prédio, a precária lanchonete de seu Chico servia fatias de bolo endurecidas pelos muitos dias de fabricados e pela baixa freqüência de consumo. No corredor, após a portaria, o relógio de ponto cobrando nossa assiduidade. Não raras vezes, alguns controlistas, que a modernidade chama de operadores de áudio, davam um solavancos no velho relógio que passava algumas semanas parado, para nosso deleite e real possibilidade de atrasar alguns minutos.
A discoteca, dominada por lps, ou seja, os velhos bolachões de vinil, também funcionava no primeiro andar, na direção oposta a redação e sobre o estúdio. Aí passava parte do tempo livre permitido pela redação ouvindo as músicas que Dalvirene Pinheiro selecionava para a grade de programação cultural da emissora. Músicas que eram definidas a partir das opções estabelecidas pelos apresentadores dos programas, ou pelo gosto musical dos ouvintes, expresso em cartas ou através de telefonemas. Tudo datilografado no roteiro que orientava a pilha de discos que, a cada programa, eram descidos para o estúdio e habilmente manuseados pelos controlistas.
Foi nesse ambiente que comecei minha vida profissional. Introduzida na redação da RAP recebi a incumbência de redigir noticias que eram captadas de rádio escuta ou trazidas a redação pelos nossos repórteres de rua que, munidos de gravadores e blocos de papel, percorriam delegacias, hospitais e outras fontes de notícia como prefeitura, representações de órgãos públicos. Tudo tinha que ser redigido, nada chegava pronto como hoje percebemos em nossas emissoras de rádio, onde o clique do computador permite o acesso a praticamente tudo.
Todas essas lembranças me voltam a memória quando, de repente, no Restaurante da Rodoviária, em Cajazeiras, encontro Ribamar Rodrigues que, há vários anos, se debandou pras bandas de Brasília e, atualmente, exerce importante função no Senado da República. Ribamar era um dos repórteres de rua da RAP quando comecei minha trajetória profissional. Portanto, faz parte de um trecho da minha história.
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