Infância querida
Todo primeiro de janeiro, acordava às 7h e já tirava da geladeira a sunga azul. Tomava leite com quik em goles graúdos para logo correr em busca da praça e garantir o melhor lugar em cima da caminhonete.
A mãe levava rubacão, farofa de frango e bolachas de baunilha. O motorista não alisava ninguém, todo mundo gritava, todo mundo ria, o rosto cheio de terra e os olhos inebriados. Os mais velhos carregavam os caldeirões. Eu ia logo tirando a roupa e pulando na piscina.
Brincava de bola, de luta com outro no tuntum, de quem ficava mais tempo mergulhado. Meus dedos ficam roxos e engilhados, só meu cabelo que não molhava. Não entendia porque ele era ruim, se apenas ele era resistente à água. Mas, subitamente, meu pensamento mudava e a mãe chamava para comer, eu esbaforido das seriguelas com sal – roubadas do outro lado, comia e dava logo sono. As redes armadas nas árvores de longos galhos. Um cheiro de cloro, hidratante e roupa molhada. Minhas costas vermelhas. Meu coração também.
Quando chegava em casa, tomava sopa de feijão, rezava e caía no sono. Ainda sinto, pelas altas horas da madrugada, a mãe se aproximar e tentar sentir se estava respirando. “Se o céu for só isto, está perfeito.”
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