Governar para os amigos
Francisco Frassales Cartaxo – Na fila do caixa da farmácia, uma senhora bem vestida reclamava da falta da cerca de proteção no parque, inaugurado pelo prefeito do Recife em meio a discursos, abraços, fotos, áudios e vídeos. Não trago mais meus netos para brincar ali, disse, de repente uma criança corre e vai esbarrar na rua, tua já pensasse? Volto nada, falou, os olhos virados para o parque.
Todos nós concordamos.
Na semana seguinte o Jardim do Poço estava cercado com tela fina, aliás, prevista no projeto. Esse parque é um entre dezenas que o prefeito João Campos vem construindo ou reformando para diversificar espaços públicos, que tornam o Recife mais aprazível. E também preservar monumentos, locais históricos, evitando assim que o tempo e o desleixo de gestores os destruam. Como sucedeu com o manicômio da Tamarineira, Hospital Ulysses Pernambucano, o segundo mais antigo do Brasil, onde foram tratados milhares de pacientes do Norte e, atualmente, é a única emergência psiquiátrica do Recife. Lá esteve internado, por exemplo, Manuel Rolim de Alencar, advogado formado em 1864, figura relevante na história de Cajazeiras. Muito jovem, foi nosso juiz municipal, juiz de direito da comarca de Sousa, deputado provincial na legislatura de 1866-67. Após fugir daquele hospício foi localizado zanzando na estrada rumo à Paraíba.
O entorno do prédio do velho hospital, tombado pelo Patrimônio Histórico, virou agradável área de lazer para crianças, atletas, famílias inteiras. Há muitos outros parques em bairros pobres e de classe média. E tem mais. Aqueles dois locais já estavam negociados para a construção de empreendimentos comerciais. A prefeitura interceptou e promoveu a desapropriação, diante do clamor da sociedade civil organizada. Notar bem, não são intervenções isoladas. Integram amplo programa de realizações que servem a todos e não a meia dúzia de apaniguados.
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Nem todos governam assim.
Há gestores públicos que só se preocupam em acomodar parentes, amigos, eleitores. E os outros? São “agradados” ou enganados. Os outros, aliás, são a maioria! Cajazeiras sabe muito bem do que falo. Há até os que formaram grupo, cuja preocupação central era desviar verbas governamentais para beneficiar alguns e financiar suas campanhas eleitorais. Há os que trazem gente de fora para prestar serviços especializados, desprezando competentes profissionais da terra, causando a fuga de dinheiro que poderia movimentar a economia da região. Mas isso não entra no deletério cálculo do voto. Importa governar para os amigos. Temas assim não entram na agenda eleitoral.
Da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
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