Em nome do pai
O assunto da semana, com certeza, motivou comentários os mais diversos e de variadas matizes. A renúncia do prefeito Leo Abreu que, alegando questões de foro íntimo, abandonou o leme da administração municipal de Cajazeiras na metade do mandato. E as cabeças começam a construir conjecturas as mais inusitadas buscando explicações que se situem no campo do convencimento.
Não pretendo elencar possibilidades e especulações. Apenas fazer um exercício de malabarismo me colocando no papel do prefeito renunciante. Um jovem médico apaixonado pela profissão é arremessado no turbilhão da vida política partidária como forma de agradar o pai que, enveredando por esse caminho, sonha em manter a tradição da política brasileira em privatizar e familiarizar a atividade política. Ou seja, o desejo alimentado pela cultura política dominante de que a política, sobretudo a política partidária e o exercício de mandatos executivos e legislativos, é vivenciada como extensão do poder familiar. A instituição de feudos dominados com rígidas regras que estabelecem alianças, conchavos e arrumados que atrelam aliados, cabos eleitorais, seguidores e fanáticos.
O jovem médico embarca na onda da política e sente na pele a solidão do cargo de chefe do executivo. Mesmo rodeado de assessores, auxiliares e, sobretudo, muitos bajuladores as decisões exigem desprendimento e posições pessoais. Sozinho na condução do poder convive com angustias e temores ante a necessidade de administrar um município pobre em recursos financeiros, mas abastado de problemas e desafios que requerem, cotidianamente, posições e determinações que atendam as demandas populares e se enquadrem nas exigências legais que disciplina e regulamenta a atividades administrativas no campo público.
O jovem médico, que deseja apenas exercer a medicina e amenizar sofrimentos humanos, na condução da administração municipal titula-se na arte de administrar reivindicações e sobressaltos, sobretudo, articulados por aliados e correligionários. Administrar interesses pessoais contrariados exige habilidades muito mais treinadas do que a rotina de analisar radiografias, traduzir exames, ouvir queixumes e prescrever medicamentos. Não basta apenas a destreza de manusear o bisturi, é preciso dominar a arte de engolir sapos.
O pai, talvez, esteja desapontado, mas o filho teve a dignidade de reconhecer sua inaptidão para a arte política. Com certeza, a atividade médica sai ganhando. E, em nome do pai, o filho decide construir seu próprio caminho. Com certeza, uma posição política de coragem e sabedoria.
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