E o azul virou cinza
É sempre oportuno lembrar o texto que subsidia a Campanha da Fraternidade 2011, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Tendo como motivação as mudanças climáticas que estão, em proporção planetária, alterando a vida na terra e provocando catástrofes avassaladoras, a Campanha destaca que “o aquecimento global e as mudanças climáticas já não se situam somente em nível teórico, mas se constituem em realidades palpáveis. O processo de mudança climática em curso representa um grande perigo para a vida e, se não houver uma reação adequada de modo a contê-lo, as condições para a continuidade da vida no planeta vão se deteriorar profundamente”.
A advertência não pode ser creditada no rol dos alarmismos ou das visões apocalípticas de lunáticos ou visionários, ante os acontecimentos que, cientificamente provados e comprovados, atestam que o aquecimento global vem reduzindo sensivelmente as calotas polares e, em consequencia, elevando o nível dos oceanos.
Uma realidade que contrasta com as comemorações dos cinquenta anos da primeira viagem espacial tripulada e quando, do espaço o astronauta russo Yuri Gagarin lançou a famosa frase a terra é azul. Hoje, o azul está contaminado pela emissão dos gases industriais e que saem da descarga dos automóveis e que dão a tonalidade de cinza ao planeta agonizante.
Nós, brasileiros, em nome de um desenvolvimento, sobretudo, de um desenvolvimento agrícola assentado no agronegócio e na destruição desenfreada da natureza, vista como um recurso inesgotável e renovável, somos um dos campeões mundiais de queimadas que, a cada ano, estende para dimensões continentais a agonia de nossa Floresta Amazônica, de nosso Cerrado, que carboniza nas safras recordes de soja, milho e nas pastagens para os rebanhos bovinos.
Um desenvolvimento contraditório e inconseqüente ante a fome que ainda acompanha um significativo contingente populacional abrigado em programas governamentais de feição assistencial e que revela os pecados de nosso tempo e de um modelo de crescimento que, priorizando o aspecto econômico, negligencia o lado humano e ambiental.
O azul de nosso planeta está manchado pelo sangue dos jequitibás, das imbaúbas, dos jatobás, dos ipês, das maçarandubas que, transformado de toras, irão alimentar a indústria madeireira. Onde antes havia floretas pastam hoje bois rastreados por satélites. Onde outrora índios, ribeirinhos, seringueiros extraiam, de forma equilibrada, seu sustento da floresta, atualmente estendem as grandes plantações de soja e de cana de açúcar. Não mais nascem nas clareiras inteligentemente cultivadas no meio da mata as roças de macaxeira, de feijão, de abóbora. Tudo é dimensionado nas cifras milionárias do agronegócio que, antecipadamente, transaciona seus preços no mercado e, esquecido da vida, a fere de morte em nome de um desenvolvimento científico e tecnológico.
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