Dez anos de dignidade
O semblante tranquilo expressa a felicidade que transborda nos rostos de Seu Feliciano, de Seu Zé Felix, de Seu Zé Baixinho. O motivo é a celebração dos dez anos da Central das Associações dos Assentamentos do Alto Sertão Paraibano, a CAAASP, uma entidade que surge com o propósito de dar organização e articulação a luta de milhares de famílias que teimam em permanecer na terra de trabalho, conquistada no difícil processo de reforma agrária no Alto Sertão Paraibano.
Os dez anos da CAAASP, celebrados no dia 16 de julho, tem um referencial que extrapola as fronteiras da luta política e da organização social e econômica de cerca de mil e seiscentas famílias que, distribuídas em trinta e seis assentamentos, estão imprimindo uma nova concepção de vida e de mundo nesta região. Essa dimensão refere-se a auto estima estampada nos rostos de homens e mulheres que, superando a condição de moradores, de sem terra, de sem esperança, voltam a se perceberem como gente, donos de seu pedaço de terra, onde plantam o milho, o feijão, o jerimum. Um pedaço de terra onde cultivam uma horta, onde criam uma vaca ou uma cabra e desses bens podem usufruir sem a humilhante condição da partilha com o dono da terra.
A importância da CAAASP e da luta pela terra no Alto Sertão não desmerece nem ofusca os inúmeros problemas que a reforma agrária enfrenta nesta região e que são pertinentes a todo o país. Problemas de natureza estrutural de um país que nasce assentado no grande latifúndio e na monocultura exportadora e que, por séculos, considerou a agricultura familiar uma cultura de pobre e, portanto, sem a atenção das políticas públicas. Problemas de adaptação de alguns que, conquistando a terra, não conseguem se amoldar aos novos hábitos e as novas moldagens e se rebelam vendendo seus lotes, insubordinando-se contra as formas de organização e de discussão das decisões coletivas. Problemas decorrentes de hábitos tradicionais de trato e cultivo da terra e de relação com o meio ambiente e que destoam das propostas de convivência com o Semiárido e de um desenvolvimento sustentável que, garantindo a dignidade da vida das gerações atuais, não descuide do compromisso ético com as gerações futuras.
Mas, na somatória dos prós e contras a celebração dos dez anos da CAAASP deixa uma certeza que, historicamente, não pode ser contestada. A de que milhares de homens e mulheres hoje, no semiárido paraibano, estão vivendo com dignidade de pessoas que, ao raiar do dia, quando o cantar do galo desperta a todos para a lida diária, estão tomando em suas próprias mãos o destino de suas vidas e de seus filhos. Pessoas que cantar a canção da esperança se o medo da incerteza do amanhã. E, quando nos roçados, brotam o milho, o feijão, o gergelim em muitas mesas a fome é saciada com o trabalho honesto e humanizante que transforma vergonha em dignidade.
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