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Adjamilton Pereira

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De quem é a culpa?

25/10/2010 às 20h12

A recente explosão de um depósito de fogos de artifício na cidade de Cajazeiras traz para o cenário uma série de inquietações e questionamentos sobre, por um lado, a facilidade com que pessoas sem nenhuma qualificação manipulam tranquilamente material de forte carga explosiva em áreas densamente povoadas e, por outro, a omissão absoluta do poder público a quem compete a fiscalização e o disciplinamento sobre o armazenamento, o manuseio e a comercialização de produtos desta natureza. Da conjunção desses dois condicionantes resultou a tragédia que, se registrada em outro horário, poderia ter tido uma repercussão mais ampla, muito além de apenas uma vítima fatal.

Além dos sobressaltos que a explosão desencadeou na vida de toda uma comunidade, sobretudo, daquelas pessoas que habitam residências próximas ou coligadas a casa que abrigava o depósito de explosivos, uma série de interrogações e questionamentos são formulados e cujas respostas ainda situam-se na indefinição e no tradicional jogo de transferências de responsabilidades. A quem compete a tarefa de acolher as famílias que tiveram suas casas danificadas? Quem responderá pelos prejuízos provocados aos imóveis e moveis? Quando os reparos e consertos serão realizados? Quem responderá pelos ônus dessas despesas?

Todas essas interrogações emergiram a minha cabeça quando presenciei a situação desesperadora dos companheiros da Comissão Pastoral da Terra (CPT-Sertão), cuja sede administrativa e de promoção humana está situada coligada com a casa que explodiu, sendo, portanto, uma das que maiores conseqüências sofreu no sinistro. Após anos de exaustiva persistência, garimpando recursos junto a organismos internacionais, os companheiros da CPT Sertão conseguiram construir seu espaço, onde além das atividades administrativas, realizavam encontros de formação política, assembléias, reuniões.

O espaço também era frequentemente cedido, sob aluguel, para outras entidades sociais e instituições que ali realizavam seus eventos. Dessa atividade a CPT Sertão retirava parte do orçamento que complementava suas despesas mensais. Atualmente, os companheiros da CPT estão em pequenas salas emprestadas pela Diocese. A explosão do dia 13 de outubro não apenas danificou sua sede física. Também entravou o desenvolvimento de suas atividades políticas, sobretudo, junto aos inúmeros grupos de trabalhadores sem terras que, espalhados em acampamentos em vários municípios do Alto Sertão Paraibano, resistem e persistem na busca de terras atualmente confinadas em grandes propriedades improdutivas.

Fica, portanto, a pergunta: quem vai ressarcir os prejuízos físicos para as inúmeras famílias e a CPT Sertão? Todas, famílias e CPT, tiveram suas intimidades e tranqüilidades alteradas pelos milhares de quilos de pólvora que irresponsavelmente encontrava-se armazenado em área residencial.

Com certeza, outras bombas ainda persistem em depósitos de explosivos, de gás de cozinha que surgem e funcionam sob ameaça velada ou mesmo explicita de seus proprietários, que intimidam quem ensaia construir qualquer denúncia, e que gozam da omissão de quem, legalmente, tem a autoridade e o poder para coibir e disciplinar essas atividades. Enquanto isso, a cidade continua amedrontada até se acostumar novamente com os barulhos de novas explosões.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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