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José Antonio

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De Lyra e César – um cajazeirense esquecido

22/02/2019 às 10h52

Coluna de José Antônio

Pelo menos 15 nomes ficaram fora da lista dos quarenta Patronos da Academia de Artes e Letras (ACAL) de Cajazeiras e entre estes figurou Amaro de Lyra e César, muito embora tenha constado entre as primeiras “listas” apresentadas nas reuniões preliminares e preparatórias desta entidade que nasceu “sabendo andar com as próprias pernas e já com nível de escolaridade muito elevado” e com certeza contribuirá sobejamente para o resgate da nossa história literária e artística.

Quem fosse escrever sobre este ilustre cajazeirense, com certeza poderia dar uma contribuição, num capítulo, do quanto é rica a História do Poder Judiciário de nossa cidade, a partir de 05 de setembro de 1874, quando através da Lei 550, sancionada pelo Presidente da Província Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, criou a Comarca de Cajazeiras e em 09 de janeiro de 1875, o Bacharel Manoel da Fonseca Xavier de Andrade, foi nomeado primeiro Juiz de Direito e tomou posse no dia 20 de abril, na recém criada Comarca.

O município de Cajazeiras nunca foi pródigo em filhos que se destacaram no campo jurídico, a nível estadual ou nacional e que tenha ocupado cargos e funções de destaques no poder judiciário.
O único cajazeirense que exerceu a função de desembargador, que tenho conhecimento, foi Amaro de Lyra e César, nascido à sombra da Serra da Arara, no Sítio Catolé, no dia 21 de abril de 1903, cujos pais Manoel Joaquim de Lira e Raimunda Maria de Lira eram pequenos proprietários rurais e praticavam uma agricultura de subsistência. Foi também do Sítio Catolé que nasceu o primeiro filho de Cajazeiras que se tornou governador da Paraíba: o médico José de Sousa Maciel,

Em 1915, ano de uma grande seca no sertão da Paraíba, depois de uma caminhada de 11 dias, retirou-se com a família e foi escapar no município de Campina grande, no Planalto da Borborema, retornando já em 1916, com as primeiras chuvas.

Entre os anos de 1916 e 1920 realizou o curso primário e foi aluno do famoso professor Crispim Coelho e nos anos de 21 e 22 trabalhou na Farmácia Popular como caixeiro, de propriedade de Dr. Aprígio Sá, aguardando uma oportunidade para continuar os estudos na capital do estado. Neste período exercitou a sua veia poética escrevendo e publicando poemas.

Em 1923, começou a estudar no Liceu Paraibano e já em 1926 se tornou aluno da famosa Faculdade de Direito do Recife e colou grau em 16 de dezembro de 1930 e neste mesmo dia foi nomeado Promotor da Comarca de Limoeiro-PE, pelo Interventor Federal no estado, Carlos de Lima Cavalcanti. Em 1933 foi designado para Gameleira e em 1934 foi transferido para Garanhuns.
Em 1935 fez concurso para juiz de direito e foi aprovado em primeiro lugar e escolheu a comarca de São José do Egito-PE, onde permaneceu até 1938, quando foi comissionado para o cargo de juiz corregedor no estado de Pernambuco.

Em 1951, no dia 11 de agosto, assumiu a comarca de Caruaru, onde desenvolveu uma intensa atividade jurídica, social e religiosa, além de se tornar catedrático da Cadeira de Direito Civil da Faculdade de Direito de Caruaru.
No dia 27 de maio de 1963, tomou posse como desembargador no Tribunal de Justiça de Pernambuco e em junho de 1964 foi homenageado em sua terra natal, com uma aposição de seu retrato no salão nobre do Fórum de Cajazeiras. Lamentavelmente, quando o fórum foi transferido para o Centro Administrativo, no governo de Ivan Bichara, o retrato de Amaro de Lyra e César não acompanhou a mudança e se desconhece o paradeiro do mesmo. Esta cidade é pródiga em esquecer os filhos ilustres e mais ingrata quando não preserva a memória e os feitos dos mesmos.

Em 1967, no dia 9 de janeiro tomou posse como Presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, para em outubro de 1969 requerer aposentadoria e passar à inatividade.

De Lyra e César, faleceu aos 86 anos de idade, em Recife, no dia 29 de dezembro de 1989.

Esta cidade precisa resgatar a fotografia deste filho ilustre e recolocá-lo no seu devido lugar e com destaque, foto de um cidadão que nunca esqueceu suas raízes e sempre se fez presente nos grandes eventos, a exemplo do Congresso Eucarístico, de 1939, ou através de suas poesias e artigos, sempre publicados na imprensa local, principalmente na Revista Flor de Liz ou no jornal Estado Novo, que tinha como diretores Celso Matos, João Jurema e Antonio Carvalho.

Amaro de Lyra e César foi casado com Áurea Rafael Torres Ventura, filha do desembargador Antonio Feitosa Ferreira Ventura e desta união nasceu uma única filha, Ana Maria, que reside no Recife e que foi cantada em versos por ele: “Ana Maria, uma flor / deponho, hoje, em teu berço. / Flor de inefável frescor, – Singela flor do meu verso. Nos umbrais de teu futuro / estaco – na humana trilha – / Pra dar-te o beijo mais puro / que um pai já deu numa filha. E um só conselho – o mais terno, / gravo aqui, com letras de ouro; / seguindo o exemplo materno, / terás no mundo um tesouro. Se a vida assim te for cara, / sofre, que a dor fará bem. / rebento de flor tão rara / serás flor rara também”.

Ana Maria é poetisa e escritora. É autora do livro “DE Lyra e César – um poeta universal nos sertões da Paraíba”, do qual vários dados foram retirados para ilustrar este artigo.

De Lyra e César, um cidadão que honra a galeria dos filhos ilustres da terra cajazeirense e que precisa ser divulgado e aplaudido por todos nós e precisamos iniciar a busca de sua fotografia para repô-la no Fórum, lugar de onde nunca devia ter saído.

Amaro de Lyra e César, por todos os itens acima citados, deveria ter constado no “Pedestal” dos imortais da ACAL.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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