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José Antonio

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Cemitérios Coração de Jesus e Coração de Maria

25/10/2019 às 09h20

Coluna de José Antônio

O Cemitério Coração de Jesus, cuja benção, em 16 de novembro de 1851, feita pelo Padre Rolim, foi o primeiro campo santo do Alto Sertão da Paraíba e sua capela teve a pedra fundamental lançada com solenidade em 30 de março de 1851 e foi nela que foi sepultada Ana de Albuquerque, mãe do Padre Rolim. Este cemitério não existe mais e em seu local foi construída a Praça Coração de Jesus, no centro de Cajazeiras.

Deu lugar ao velho cemitério o atual Coração de Maria “e a primeira referência de sepultamento encontra-se num registro de óbito datado de 07 de março de 1866. Este cemitério era regido pela Irmandade Sagrado Coração de Maria, subordinada a freguesia de Nossa Senhora da Piedade” (1), Hoje está sob a responsabilidade do poder público municipal, que infelizmente, não vem merecendo o devido cuidado e zelo.

Neste cemitério estão sepultados os principais personagens da vida pública de Cajazeiras. Sempre o visito com objetivo de tirar dúvidas sobre datas de nascimento e falecimento, mas também com o olhar sobre o passado dos homens e das mulheres que ajudaram a construir esta cidade. Diante do túmulo de Cristiano Cartaxo li o que está gravado em mármore a sua “Ascensão”, que expressa toda a sua grandeza como poeta:

“– Atravessaste o vale, a planície florida
Absorto na visão dos encantos da estrada.
Eis agora ao sopé da montanha da vida,
Que irás subir a fim de alcançar a chapada.

Coragem moço! Eu sei que é íngreme a subida.
Que importa? Vencerás, passada por passada,
Para a glória de o sol beijar-te a fronte erguida.
– E depois? – é a descida, é a morte, é a volta ao nada…

Mas, tanto que atingi o cimo da montanha,
A fronte em suor, os pés em sangue, as mãos em brasa,
Senti que mergulhara em claridade estranha.

E a verdade esplendeu em toda a intensidade:
É uma ascensão a vida! Eu necessito de asa
Para me erguer mais alto em rumo à Eternidade!”

Bem próximo do túmulo do poeta está sepultado Justino Bezerra símbolo da força do coronelismo que o fez prefeito de Cajazeiras por mais de 13 anos. No interior da capela, na nave central, jaz Monsenhor Constantino Vieira, educador emérito de gerações e guia espiritual de muitos cajazeirenses. A direita de quem entra estão sepultados: Monsenhor Sabino Coelho, sacerdote responsável pela reabertura do Colégio Diocesano Padre Rolim, em 1903 e da criação do patrimônio, após andar 400 léguas a cavalo, para instalação da Diocese de Cajazeiras, homem que segundo Monsenhor Vicente Freitas, tinha sido o maior entre todos os sacerdotes que contribuíram com o crescimento de Cajazeiras e vizinho está Bosco Barreto, que prefiro relembrar da sua fase revolucionária, subversiva, de “inflamador” e condutor de multidões em busca de justiça social, do homem perseguido pela “Revolução” de 1964, o conspirador e político de oposição.

É neste cemitério que está sepultado o americano John Hanififlin, morto em um duelo, em 1923, quando participava da construção do açude de Boqueirão, por um mestre de obra, cuja mulher o americano queria conquistar. Vou sempre ao túmulo de seu Chiquinho Oliveira, o homem mais inteligente que esta cidade já teve, autodidata e mestre dos mestres diante de um torno mecânico. No túmulo majestático da família Matos está sepultada uma das mulheres que mais projetou esta cidade: Ica Pires – a atriz, a diretora de teatro, a extraordinária declamadora, a radialista e contestadora que sempre esteve à frente de seu tempo e que não tinha medo de “topar” os donos do poder para defender Cajazeiras.

Caminhando pelas alamedas tortuosas do Cemitério Coração de Maria, fico horas lendo o que está escrito nas lápides dos túmulos relembramos muitos fatos, misturados e entremeados de saudades da história de nossa cidade.
Parece meio estranho, mas todas as vezes que visito o cemitério Coração de Maria, sinto como se estivesse andando pelas ruas de Cajazeiras, vivendo a sua história, muito embora “é a descida, é a morte, é a volta ao nada…” ou é o “rumo à eternidade”, como canta o poeta Cristiano em sua “Ascensão”.
Nas alamedas da eternidade, os rastros da saudade e das eternas lembranças dos nossos entes queridos, na certeza de que no amanhã seremos nós os habitantes destas alamedas!

*Ulisses Estrela.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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