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Francisco Cartaxo

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Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler?

24/11/2023 às 19h26

Cidade de Cajazeiras. (Coluna de Francisco Frassales Cartaxo).

Por Francisco Frassales Cartaxo – O Diário Oficial da Paraíba publicou, no dia 15, a Lei Nº 12.876, que faz um mimo a Cajazeiras. O Art. 2º determina que Nas ações de divulgação oficial sobre o Município de Cajazeiras, obrigatoriamente, deverá constar a seguinte expressão: Cajazeiras, a Cidade que ensinou a Paraíba a ler.

De autoria do deputado Francisco Mendes Campos, líder do governo na Assembleia estadual, o projeto de lei abriga duvidosa justificativa. O reconhecimento legal da frase equivale a transformá-la em Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba. Assim foi com o Pão de Saora, justa homenagem por meio da Lei Nº 11.916, de 27 de abril de 2021, iniciativa pertinente do deputado Jeová Campos. Leis dessa natureza exigem sólida base histórica, sob pena de incorrer-se em leviandades. Não é o caso do singular pão, uma especificidade cajazeirense. Por isso, cabe analisar a recente Lei e seus fundamentos.

Alcides Carneiro inventou a frase.

Na disputa para governador, na eleição de 19.01.1947, Alcides Carneiro foi o candidato do Partido Social Democrático-PSD. Vindo à terra do inigualável educador padre Rolim, num arroubo de palanque nos saudou: Oh, Cajazeiras, cidade que ensinou a Paraíba a ler! Ora, é evidente que a expressão laudatória à cidade embutia sincera homenagem à figura ímpar do padre Inácio de Sousa Rolim. O famoso tribuno queria seduzir o eleitor cajazeirense, propenso a votar em Osvaldo Trigueiro, apoiado pela fortíssima União Democrática Nacional-UDN. Afora a loa ao padre Rolim, a frase de efeito, pronunciada em comício, não guarda sintonia com a história.

Verdade histórica não é opinião.

Fatos históricos suscitam interpretações variadas. O eu acho deve ser evitado. A frase de Alcides Carneiro não passa de retórica de palanque. É fácil comprovar. Cajazeiras começou a tornar-se núcleo urbano após 1820, quando já existiam escolas de instrução primária em muitas vilas e povoações da Paraíba, surgidas no tempo da colonização! Na capital e em outros lugares no litoral, brejo, cariri. No nosso sertão, a Vila Nova de Pombal foi instalada em 1772, com homens letrados nos cargos da época! O menino Inácio, nascido em 1800, aprendeu a ler, segundo Deusdedit Leitão, com o mestre-escola Antônio Dias Pereira, trazido por seu pai, Vital de Sousa Rolim, quando já havia dezenas de mestres-escolas ensinando em povoados, engenhos e fazendas.

Padre Rolim se firmou como educador dos sertões, após ordenar-se sacerdote em Olinda, em 1825, criar e manter na lonjura do sertão um colégio de ensino secundário. Para quê? Preparar letrados, rapazes da elite para cursarem faculdades e seminários, até então raríssimos! Daí vem a singularidade de Cajazeiras.

Entre o projeto de lei do deputado Chico Mendes e a sanção do governador foi como bote de cascavel. Esqueceram o debate, de ouvir o povo. Por isso, só agora me manifesto, como cajazeirense, temeroso de ver a terra do venerável padre Rolim no FEBEAPÁ, do saudoso Stanislaw Ponte Preta!

Cidadão cajazeirense


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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