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Adjamilton Pereira

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As primeiras chuvas

21/12/2010 às 21h27

As chuvas de dezembro, embora não sejam garantias de que a próxima estação chuvosa será farta e anunciadora de uma boa safra, sinaliza o presságio de que o ano que se finda entregará ao ano novo dias mais amenos, uma vegetação já vestida de verde e a esperança de que a estiagem que castigou a região, de forma impiedosa, se despede sem deixar saudades.

E todos, embalados pelo espírito das festas natalinas e pelas alvíssaras de um ano novo, acreditam que os sinais da tradição apontam para a fartura das chuvas no próximo ano. As pedras de sal da noite que antecede o dia de Santa Luzia, amanheceram encharcadas. Todas apontaram para chuvas com regularidade durante os quatro primeiros meses do ano. E para quem acredita que não somente a ciência, mas a experiência acumulada pela vivência de gerações, também constrói possibilidades de compreender e interpretar o mundo, o ano vindouro será promissor.

Outros sinais apontam positividade. O farto nevoeiro e as chuvadas que caíram no dia da Imaculada Conceição aumentam as possibilidades de um inverno regular no ano que se avizinha. Sinais que devem ser confirmados pela barra do Natal que, mais promissor será se vier acompanhado por chuvas disseminadas por toda a região.

Confirmados todos os sinais é o momento de preparar os terrenos para o plantio. Hora de fazer as coivaras, retirar os entulhos que atrapalham a lavoura. Deixar os terrenos prontos para o fantástico espetáculo das sementes que, rompendo o solo outrora calcinado, apontam para o céu suas primeiras folhas. Hora também de verificar o estoque de sementes que a previdência sertaneja sempre guarda. Antigamente, em latas de querosene. Hoje, a modernidade oferece as garrafas pets. São sementes de milho, feijão, gergelim, jerimum, arroz. Todas cultivadas por gerações e já geneticamente adaptadas as condições de nossos solos áridos e de nossas chuvas, nem sempre regulares.

É hora também de afiar as enxadas. Encabá-las com cabos de frei-jorge, que é madeira leve e não racha. Hora de adquirir as enxadas para os arados que, rusticamente puxados a burros, ainda são fartamente utilizados no preparo dos terrenos e na capina dos roçados. É hora de se preparar para acolher o magnífico espetáculo das primeiras enxurradas, purificando a terra, encharcando córregos e riachos, engravidando açudes. Hora de ouvir a fantástica sinfonia dos sapos coaxando como a reverenciar a natureza que se renova em folhas e vida.

Talvez esse tempo não mais exista. As modernidades suplantaram hábitos e costumes. Mas, ouvir, a cada ano, o barulho da chuva no telhado, o som majestoso do trovão, os coriscos riscando os céus como serpentinas enlouquecidas, nos fazem lembrar que o espetáculo das chuvas renasce a esperança. E nos trazem a certeza de que, mesmo como lembranças e reminiscências, as chuvas no sertão ainda são um evento inesquecível.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira

Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Adjamilton Pereira é Jornalista e Advogado, natural de Cajazeiras, com passagens pelos Jornais O Norte e Correio da Paraíba, também com atuação marcante no rádio, onde por mais de cinco anos, apresentou o Programa Boca Quente, da Difusora Rádio Cajazeiras, além de ter exercido a função de Secretário de Comunicação da Prefeitura de Cajazeiras.

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