As eleições e os lençóis limpinhos
A tecnologia vem, cada vez mais, dando celeridade e segurança ao processo eleitoral. As urnas eletrônicas reduziram a zero as possibilidades de fraudes que, por muitos anos, beneficiaram grupos oligárquicos e subverteram a vontade da população. São hilários e surreais os episódios que se espalhavam pelo país afora sobre defuntos eleitores, sobre duplicidade de votos, sobre adulterações de resultados eleitorais conseguidas em artimanhas e subterfúgios.
A tecnologia também suplantou um tempo em que as apurações dos votos perduravam por dias a fio mantendo toda a cidade em alerta para os boletins das urnas que as emissoras de rádio divulgavam com suspense e estardalhaço. Resultados que motivavam manifestações as mais variadas der correntes favoráveis e contrários aos que se mantinham na dianteira ou na retaguarda do processo eleitoral. Como jornalista, acompanhei este tempo e, por força da atividade profissional, cobri muitas apurações que se esticavam até as madrugadas. Muitas vezes, nos abastecíamos com as “coca colas batizadas” que conseguíamos levar para os locais de apuração driblando a vigilância e nos mantendo ativos.
As eleições me lembram também um ano quando estava trabalhando em Maceió e cheguei a Cajazeiras no dia do pleito morrendo de saudades dos amigos e colegas do jornalismo. De repente, escuto a voz do amigo Ubiratan de Assis, que fazia comentários sobre as eleições em uma emissora de rádio. O reencontro foi marcado por muita afetuosidade e, buscando driblar a lei seca, saímos à procura de um lugar para conversar e molhar a garganta. Encontramos um lugar que, todos sabiam, tinha uma reputação sabidamente suspeita, e que funcionava vizinha a Delegacia de Polícia, no centro da cidade. Chegamos e usando de metáforas, pedimos a proprietária um “cafezinho”. Ela gentilmente traz a garrafa de café. Explicamos nosso real interesse e ela, demonstrando uma despretensiosa preocupação, nos instala em uma área interna da casa e nos serve uma garra de rum. O papo rola e a prosa corre solta. As horas passam enquanto eu e o amigo Bira ríamos de histórias e causos enquanto o líquido etílico escorria da garrafa e animava nossos corpos e espíritos. A certa altura a proprietária do estabelecimento chega e, na mais deslavada ousadia, nos propõe; “pessoal, os lençóis estão limpinhos, troquei-os hoje”. Nossa reação foi a mais sonora, espalhafatosa e espontânea gargalhada.
Agradecemos a gentileza da messalina. Acabamos de degustar a garrafa de run, pagamos a conta e, claro, não usamos os “lençóis limpinhos”. Saímos para ver a cidade que já começava a se agitar esperando mais uma semana de apuração de votos que movimentava e inspirava as aglomerações que se formavam na porta do fórum, na Praça João Pessoa e tantos outros locais da cidade onde os eleitores sonhavam com a vitória de seus escolhidos.
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