Acervo de Deusdedit Leitão
No dia cinco de dezembro foi inaugurado no campus da UFCG o Núcleo de Documentação Histórica Deusdedit Leitão – NDHDL. Mais do que homenagem, aliás justíssima, é um enorme serviço prestado à cultura, ao conhecimento. Deusdedit foi o mais dedicado estudioso da nossa história. Meticuloso ao manusear velhos documentos em cartórios e paróquias. Incansável em garimpar jornais, revistas e livros antigos. Foi também paciente ouvinte de depoimentos dos mais velhos acerca de episódios e figuras avoengas, quando descobria alguém capaz de esclarecer uma data, um nome, um detalhe por mínimo que fosse. E mais que isso, Deusdedit publicou artigos, ensaios e livros, baseados em rigorosas investigações, abrindo imensas clareiras em nossa enorme ignorância, facilitando o trabalho dos interessados em conhecer melhor a história de Cajazeiras e de outros municípios paraibanos.
O NDHDL já nasce rico. O acervo recebido dos herdeiros de Deusdedit deve conter dados que, decerto, ajudarão a iluminar o passado. A existência do Núcleo, em si mesma, funciona como estímulo a professores e estudantes de história, ciências sociais e disciplinas afins a focar a realidade local em pesquisas acadêmicas, seja na graduação, seja para refinadas teses de doutorado. Isso é o mínimo que se espera venha a acontecer. Pena que o acervo de Deusdedit transferido à UFCG seja parcial. Muita coisa já havia sido repassada por ele próprio. Suponho que documentos do acervo foram dados a gente sem interesse em compartilhar conhecimento. Gente egoísta. Talvez haja alguma chance de reuni-los novamente, agora que o campus da Federal cuida bem, protege e os torna acessíveis a todos, democraticamente.
Na conversa que mantive com a professora Viviane Gomes de Ceballos, colega do coordenador do NDHDL, professor Isamarc Gonçalves, no dia 29 de novembro, em companhia de Rubismar Galvão e Marcos Barros, fiquei muito esperançoso. Senti firmeza, dedicação, entusiasmo. Profissionalismo. Em breve, quem sabe, teremos disponíveis também exemplares raros de jornais antigos que eram guardados por Deusdedit com o desvelo de quem sabe da sua relevância como pistas importantes para montar o quebra-cabeça da história de Cajazeiras. E os cadernos de anotações? Deusdedit tinha o hábito, o paciente e salutar hábito, de anotar em caderno, com letra impressionantemente legível, datas e fatos, extraídos de jornais antigos. Consultei alguns deles, em 2006, em sua casa em João Pessoa, quando então eu escrevia o livro “Do Bico de Pena à Urna Eletrônica”. João Rolim da Cunha recebeu esses cadernos e os ordenou, transformando-os no livro “Barra da Timbaúba”. Quem sabe, serão doados também à UFCG!
Meses atrás, reclamei, neste mesmo espaço, urgência do campus de Cajazeiras em disponibilizar o acervo doado pelos filhos de Deusdedit. Fizera a cobrança com certa dose de ansiedade. Ansiedade de quem sentia falta daquele acervo para preencher claros nos estudos que faço sobre a história política de Cajazeiras, em particular, a criação da diocese. Hoje registro a alegria de saber que o legado de Deusdedit está em boas mãos, franqueado a todos, sobretudo, a quem deseja ir além de versões, às vezes fantasiosas, de acontecimentos do passado.
Cajazeirense residente no Recife.
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