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Edivan Rodrigues

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A Transposição Depois de Lula

26/10/2009 às 23h09

Por Francisco Cartaxo

Após três dias de visita ao Nordeste, a caravana do presidente Lula deixou rastro de poeira e especulação. A poeira saiu dos canais que levarão água do rio São Francisco para grandes açudes de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, garantia de água potável de boa qualidade a mais de 12 milhões de habitantes, aí incluídos moradores de cidades do tamanho de Fortaleza e Campina Grande, forçados a recorrer a carros-pipa, em tempo de seca continuada. A especulação fica por conta da presença de Dilma e Ciro Gomes.

As obras têm dois eixos básicos. O Eixo Norte, com 426 km de canais na direção das bacias do Jaguaribe e do Piranhas, interessa mais diretamente a nossa região, pois vai passar bem perto de Cajazeiras, rumo ao Açude Engenheiro Ávidos. Está mais avançado, com 15% das obras concluídas, 26 km de canais já revestidos, barragens intermediárias e outros serviços em andamento. O Eixo Leste corta Pernambuco e entra na Paraíba em busca dos rios que alimentam o Açude Epitácio Pessoa, manancial que abastece Campina Grande.

Estima-se o investimento total em seis bilhões de reais e geração de 12 mil empregos. Isso é muito? Sem dúvida. Muito menos, porém, do que se gasta na construção de enormes obras viárias em São Paulo. Ou na instalação de plantas industriais como a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, que deverá absorver de 12 a 15 bilhões de reais até seu funcionamento em 2011 ou 2012.

A transposição é obra polêmica. Alega-se que vai fortalecer as oligarquias nordestinas, vendo-se na perenização dos rios a valorização das terras já em poder de latifundiários. Questiona-se também sua prioridade, sob o dilema de que é melhor salvar o Velho Chico que morre um pouco a cada ano. Até um bispo católico quis imolar-se às vistas de bela atriz de novela, em defesa dessa tese… Está provado: o dilema é falso.

Muita conversa ainda virá à tona. Mas ninguém poderá encobrir o mérito de Lula ao decidir fazer a transposição, pasme o leitor, à revelia de “Companheiros do PT que vivem em São Paulo, não conheciam a realidade daqui e eram contra a transposição. Eu mesmo nunca prometi, mas estou fazendo”. Assim falou Lula, no dia 16 desde mês, quando visitava as obras do Eixo Norte, em Cabrobó. A confissão me deixou apreensivo. As obras de transposição de águas do São Francisco só ficarão concluídas após sua saída do governo. Otimista, Lula revelou que pretende realizar 70% até o final de 2010, deixando os 30% para o sucessor. Aí mora o perigo.

O Nordeste guarda na memória profundo trauma. Relembro. Findo o governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), o novo presidente, Artur Bernardes, mandou paralisar “as obras contra as secas”, isto é, a construção de açudes, estradas de rodagem e ferrovias, sob a alegação de que eram dispendiosas e inúteis. Suspeitava-se, ainda, de corrupção.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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