A fronteira do absurdo
Dois fatos que causam estarrecimento e são reveladores da precariedade e do descaso dispensado pelo poder público a dois setores que são essenciais a vida da população e, em qualquer estatística, são indicadores de graus de desenvolvimento ou de atraso de um país: saúde e educação. E, para nossa tristeza, os dois episódios estão acontecendo na Paraíba.
Na cidade de Monteiro uma professora de arte educação pertencente a rede municipal de ensino tem negado o direito de se afastar para cursar uma pos graduação, a nível de mestrado, na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Nesta mesma cidade de João Pessoa a imprensa nacional denuncia que médicos estão usando furadeiras caseiras como instrumentos cirúrgicos para perfurar cérebros durante intervenções de alta complexidade.
Dois episódios que beiram as raias do absurdo não fosse a realidade dramática que eles expressam. A professora, buscando aprimorar seus conhecimentos, reciclar saberes para melhor transmiti-los aos seus educando, tem como resposta da administração pública municipal o argumento de que não tem nenhum respaldo legal para autorizar o afastamento da docente pelo período de dois anos, tempo de duração do curso de mestrado. Acrescido de um explicito ranço de preconceito quando diz que sua área de conhecimento não é prioritária e essencial para a educação. Afinal, quando existem áreas prioritárias para a aprendizagem se, numa ponderação de bom senso, todo conhecimento é fundamental para a formação equilibrada e plena do homem?
Os médicos, usando furadeiras caseiras no lugar de equipamentos especializados que, há mais de um ano, estão quebrados, retrocedem no tempo e nos remetem a uma época em que sanguessugas eram usadas como anestésicos e improvisações as vezes salvavam vidas mas, no geral, traziam sofrimento, tristeza e saudade. A situação ganha os contornos do absurdo com o próprio governador do Estado buscando publicamente esconder a situação que, para ele, não passa de um delírio. Delírio que se reflete em hospitais abarrotados de pacientes, entulhados em macas improvisadas em corredores e enfermarias superlotadas e que, muitas vezes, são objeto da loteria da vida. Delírio expresso em equipamentos elementares, como raios X e mamógrafos, quebrados há meses.
Saúde e educação tratados pelo poder público como assunto de menor importância. Enquanto crianças são privadas de professores melhor capacitados e enquanto pacientes tem suas vidas manipuladas na improvisação da precariedade dos serviços públicos de saúde crescem os índices de violência, de assaltos, de roubos. No ronco das furadeiras caseiras que quebram o silêncio dos centros cirúrgicos e perfuram crânio e no desespero da professora que apenas quer aperfeiçoar conhecimentos milhares de crianças e adolescentes viciados em crack engrossam as estatísticas da degradação humana. Epidemias se alastram pelas cidades e pelos campos. A fome e a miséria ainda é a medida de qualificação de milhões de brasileiros. Será tudo isso apenas delírio?
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário