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José Antonio

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40 anos da presença da Univers. Federal em Cajazeiras

02/08/2019 às 07h54

Coluna de José Antônio

Antes da chegada da Universidade Federal a Cajazeiras é preciso conhecer um pouco desta caminhada.

Há 49 anos atrás, naqueles tempos longínquos, que ousadia era esta de retirar do litoral os centros de poder da educação e trilhar os caminhos do interior? Instalar uma escola de ensino superior em Cajazeiras, para muitos era querer além da conta. Com passos lentos, vagarosos, tímidos, mas definidos e sem perder o rumo, um homem com uma visão profética e com a firmeza de sua personalidade causou espanto a muitas personalidades do nosso estado e do Nordeste, ao divulgar o seu projeto.

Enquanto em outras regiões do país, seus filhos, se orgulham de seus feitos e de suas datas, baseado em suas riquezas, no Sertão Nordestino, é como a dos santos e mártires, feita de dores e de provações. Assim foi o caminho, quase sempre trilhado pela FESC – Fundação de Ensino Superior de Cajazeiras.

Zacarias Rolim de Moura, com sabedoria, como um patriarca dos tempos bíblicos, teimosamente insistiu e acreditou no seu projeto e no seu sonho de criar uma escola de ensino superior em sua terra, neste solo seco e árido do sertão, parece ter nascido com a predestinação de plantar esta semente, cujos frutos ainda não temos condição de mensurar a sua quantidade e a multiplicação do bem e das benesses que pode trazer para este rincão sertanejo.

Estaria este homem querendo fazer uma revolução no campo das idéias? Poucos acreditavam. Muitos outros não davam sequer valor as suas palavras documentadas e registradas em cartório. Como continuar com o movimento revolucionário se já havia perdido três batalhas? Três diretores foram nomeados por Zacarias para a direção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras. Não saiu do papel. Isto era o símbolo e o significado, de alguma forma, do quadro generalizado da descrença e do atraso em que vivíamos, da falta de coragem e de ousadia e de acreditar num projeto que tinha como objetivo um novo alvorecer e a possível devastação das mentes ignorantes e retrogradas do nosso meio, através da educação.

Sem contra atacar aos que não acreditavam, em seu silêncio de anacoreta, e enfrentando os que insistiam em andar na contramão da História, intuindo a sua dimensão profética, resolveu continuar, teimosamente, com o seu projeto e nomeia o Cônego Luiz Gualberto de Andrade. Um praticante da educação. Síntese de um novo Anchieta e de um moderno Padre Rolim. Começa aqui a concretização de um sonho e são renovadas as aspirações dos que acreditavam no projeto.

Recém chegado de Louvain, na Bélgica, onde fez um curso de especialização, Padre Gualberto ao assumir a FAFIC com uma visão mais ampla do mundo e com uma larga experiência no setor educacional, aqui chegando, já fazia funcionar nas dependências do prédio da Ação Católica, na Rua Padre Rolim, um cursinho pré-vestibular. Na cidade não se falava em outra coisa, a noticia chegava célere aonde quer que morasse um cajazeirense: Cajazeiras vai ter uma Faculdade.

Em 1970, já realizava o seu primeiro vestibular. O sonho se tornava uma realidade e já não era mais preciso os estudantes, nos festejos momescos, realizarem o enterro simbólico, da FAFIC.
Jornadas longas, penosas, dolorosas e difíceis foram enfrentadas e vencidas. Os alicerces estavam feitos. Não havia mais como parar a construção desta catedral de sonhos que era a implantação e consolidação do projeto pioneiro da interiorização do Ensino Superior do Nordeste Brasileiro. Processava-se uma inversão de valores. Concretizava-se uma revolução. Na cabeça dos intelectuais do litoral, na considerada elite pensante das praias da capital, além de não acreditarem no projeto, lisonjeava e até faziam piadas e galhofas do empreendimento.
Importaram-se vários docentes. Mas o desafio continuava a cada semestre e de forma inteligente foram requisitados engenheiros, advogados, irmãs religiosas, médicos e sacerdotes para ministrar aulas.

As dificuldades para manter a FAFIC iam aumentando. Esta situação fez com que dois homens mais uma vez demonstrando coragem e visão do bem comum, tomaram uma decisão que teve uma repercussão ímpar em toda a região: nove anos depois de funcionamento da FAFIC, Padre Gualberto e Dom Zacarias, no dia 1º de agosto de 1979 transferiu todo o acervo da escola para a Universidade Federal da Paraíba, todo o alunado foi transferido para o recém criado Centro de Formação de Professores e a partir de então, Cajazeiras se transformava no Quinto Campus da UFPB. O ensino agora era gratuito. Como mensurar o bem e a grandiosidade deste gesto? Em pouco tempo o orçamento do Centro de Formação de Professores era quase três vezes o da prefeitura Municipal de Cajazeiras. A amizade conquistada pelo Padre Gualberto, junto ao reitor da UFPB, quando o mesmo ainda era um dos diretores do MEC, em Brasília, professor Linaldo Cavalcante de Albuquerque, foi fundamental para esta importante mudança. Os dois se irmanaram na consolidação da interiorização do ensino superior no interior da Paraíba.

Padre Gualberto sentiu-se feliz com esta mudança e não poderia ser diferente a ação deste homem que dedicou mais de 40 anos de sua vida a serviço do povo de Cajazeiras e da região. Uma vida pautada na honradez de caráter, na honestidade dos atos e ações, na fidelidade e obediência ao seu sacerdócio, no reconhecer e ser grato a todos que lhe ajudaram, num sertanejo que se sentia agredido ao ver a miséria, a fome e a pobreza grassarem os seus irmãos sertanejos. Ninguém mais do que ele conhecia a realidade dos estudantes da FAFIC, até porque a grande maioria batia a sua porta pedindo bolsa de estudos e redução de mensalidade e ficava angustiado quando não podia atender. Daí ter sido a favor da incorporação da FAFIC a UFPB, com uma simbólica indenização à diocese, responsável maior pelo investimento.

Quais as conseqüências, qual a transcendência da criação desta unidade de ensino superior? Infelizmente não temos informações mais detalhadas que nos subsidiem nestas respostas.
Quem sabe num futuro próximo não teremos ai uma tese de doutoramento confirmando que o crescimento de Cajazeiras, seja em função da semente plantada em 1970, quando começou a funcionar a faculdade de filosofia?


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

José Antonio

José Antonio

Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

Contato: [email protected]

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Professor Universitário, Diretor Presidente do Sistema Alto Piranhas de Comunicação e Presidente da Associação Comercial de Cajazeiras.

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