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Cidades no Sertão estão isoladas por precariedade nas estradas; pesquisa revela que 52% estão ruins. VÍDEO!

A Paraíba possui ainda mais de cinco mil quilômetros de rodovias sob administração do Estado e aproximadamente 50% apresentam problemas.

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07/03/2011 às 10h45

Após pesquisa, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) revelou que 52% das estradas paraibanas são consideradas ruins, péssimas ou regulares. A Paraíba possui ainda mais de cinco mil quilômetros de rodovias sob administração do Estado, dos quais, aproximadamente 50% apresentam problemas, como asfalto esburacado, pistas sem acostamentos, pontes com rachaduras, além de não possuírem placas de sinalização. Entre os casos mais críticos, destaca-se o da rodovia PB-306, que liga os municípios de Maturéia à Princesa Isabel, no Sertão do Estado.

Conhecida como “rodovia da morte” pela quantidade de acidentes com vítimas fatais, a estrada possui 98 quilômetros de extensão em situação precária, e por causa disso, mais de 70 mil pessoas que moram nas sete cidades cortadas por ela, estão sendo prejudicadas pela falta de acesso entres os municípios. Em Princesa Isabel, a população alega estar isolada do resto do Estado e todas as relações comerciais e de outros serviços, como educação e saúde, estão sendo feitas por vias pernambucanas.

DER
De acordo com o diretor de manutenção do Departamento de Estradas e Rodagem da Paraíba (DER – PB), Antônio Fleming Cabral, a situação das estradas da Paraíba é crítica e pode ser considerada como um dos maiores problemas do Estado. Ele acrescentou que os problemas são antigos e que por causa disso, nos últimos anos os problemas têm se intensificado. “A malha viária da Paraíba realmente apresenta muitos problemas que, de certa forma, prejudicam o desenvolvimento das cidades afetadas pela falta de acessibilidade. Não só existem estradas com asfalto esburacado, pavimentação precária, falta de acostamento e de sinalização, mas em algumas delas, nem pavimentação possui. Isso gera uma série de problemas para o desenvolvimento de vários setores na Paraíba”, explicou Fleming.

Conforme o diretor do DER–PB, dos mais de cinco mil quilômetros de rodovias, a Paraíba só possui 2,495 mil quilômetros asfaltados. “Tem cerca de 2,6 mil quilômetros que não são pavimentados e que apresentam problemas de acesso e trânsito, provocando dessa forma, transtornos às populações que dependem das estradas para realizar seus compromissos”, contou o diretor.

Ele ainda adiantou que os problemas estão presentes em rodovias do Litoral ao Sertão, sendo que em algumas regiões, a exemplo do Sertão, Cariri e Curimataú, as condições são bem piores. No Sertão encontram-se as três PBs mais danificadas. A PB- 400, que liga os municípios de Cajazeiras a Conceição; a PB-325, entre as cidades de Santa Luzia e Várzea, e a PB-306, entre Maturéia e Princesa Isabel. Nestas localidades, a falta de acesso tem provocado o desligamento tanto econômico, quanto cultural entre as comunidades, que mesmo sendo vizinhas, encontram dificuldades para estabelecer maiores contatos.

Pista ruim afasta médicos e professores
A cidade de Princesa Isabel, na Serra do Teixeira, é conhecida por sua importância histórica e econômica, e considerada a mais importante da Região, onde se concentram núcleos de saúde e educação, responsáveis por oferecer serviços para mais de 70 mil pessoas da própria cidade e dos municípios de Água Branca, Jurú, Maturéia, Tavares, São José de Princesa e de Manaíra. Porém, as condições da rodovia têm dificultado o acesso ao município, que hoje vive praticamente isolado, já que a única via de acesso é a PB-306.

As dificuldades provenientes das condições da estrada de Princesa Isabel também têm afastado profissionais tanto da saúde quanto da educação que precisam se deslocar até a cidade para realizar suas funções. No hospital Regional, dos 13 médicos responsáveis pelo atendimento de mais de 80 mil pessoas, oito deles são pernambucanos.

O diretor da unidade, Cícero Florentino Neto, explicou que os médicos de outras cidades da Paraíba, a exemplo de Patos, alegam que a remuneração é baixa diante de tantas despesas que são obrigados a custear por causa das condições na rodovia. “Ainda é pouco o número de médicos, precisamos de mais, e se temos mais de Pernambuco é porque o acesso para eles é mais fácil”, destacou o diretor.

Perda de identidade
A tentativa de fugir da “rodovia da morte” tem feito com que as pessoas que vivem nessas cidades paraibanas, estreitem seus laços com os pernambucanos, perdendo consequentemente suas referencias enquanto paraibanos. “Hoje podemos dizer que somos mais pernambucanos do que paraibanos. Nossa relação com a Paraíba é exclusivamente política, o resto é tudo com Pernambuco. O povo da região já se acostumou. Mesmo sentindo falta de se integrar com o resto do Estado, percebe que não tem como, por causa da estrada que é a nossa única via de acesso, mas que não oferece condições” ressaltou o prefeito de Princesa isabel, Thiago Pereira.

Segundo ele, quem vive na cidade tem a sensação de estar isolado da Paraíba. Ele lembrou que quando a estrada apresentava boas condições para o transporte, as transações comerciais, os serviços de saúde e de educação, além de outras necessidades, eram todas resolvidas na cidade de Patos, por ser a referencia do Sertão. Mas com a deterioração da estrada, a única saída que a população encontrou foi buscar apoio na cidade de Serra Talhada, no Pernambuco.

Motoristas percorrem 200 km a mais
Já as pessoas que possuem compromissos em municípios como Campina Grande, João Pessoa, Patos, Cajazeiras e Sousa, preferem aumentar a quilometragem e seguir pelo estado de Pernambuco, tendo que desbravar dezenas de cidades, evitando trafegar na PB-306. “Para ir a Campina ou João Pessoa, a população segue pela rodovia de Pernambuco que está em boas condições, e passam por várias cidades, como Flores, Serra Talhada, Custódia, Sertânia. Em seguida, entram novamente na Paraíba por Monteiro. Mas vale a pena aumentar a quilometragem, já que se chega com segurança”, disse o prefeito. Até retomar a BR-230, são cerca de 200 quilômetros a mais.

Saúde prejudicada
O diretor do Hospital Regional em Princesa Isabel explicou que quando não existem condições de atender os pacientes no hospital, a saída é encaminhá-los para cidades como Campina Grande e João Pessoa. Porém nos últimos dias, a alternativa tem sido mandar os doentes para unidades hospitalares de Serra Talhada – PE.

No entanto, os pacientes que vem das cidades de Juru, Tavares, Água Branca e Maturéia, são obrigadas a enfrentar o caminho esburacado da PB-306. Para o motorista da ambulância do hospital regional, Romero Alves, transportar um paciente em estado grave percorrendo a rodovia é um risco. Ele disse que é preciso dirigir em baixa velocidade, prestando muita atenção nos buracos em pleno asfalto, e com cuidado para não agravar o quadro clínico do paciente. “È uma pressão absurda, porque você sabe que está conduzindo uma vida que necessita de tratamento, e se depara com uma estrada ruim, esburacada, sem segurança de nada. Tenho medo de um dia ver alguém morrer em minhas mãos”, lamentou o motorista.

O hospital regional de Princesa Isabel conta apenas com duas ambulâncias, sendo uma semi-intensiva. “Sempre temos que fazer manutenções porque há um desgaste dos pneus, freios, por causa das frenagens e acelerações”, comentou o diretor do hospital.
Cinco mil são internados por acidentes

A Falta de sinalização adequada, asfalto danificado e ausência de acostamento são os principais problemas existentes nas rodovias paraibanas. As péssimas condições das estradas já provocaram inúmeros acidentes, gerando grandes prejuízos para os cofres públicos. Somente no ano passado, foram internados nos hospitais do Estado, mais de 5 mil acidentados que custaram um prejuízo de quase R$ 7 milhões.

Já em relação aos acidentes que provocaram mortes em 2010, foram registrados 415 casos com morte, o que representa uma média de uma morte por dia e deste total, cerca de 30% foi provocado pelas más condições das estradas, conforme dados que estão sendo levantados pelo DER. “Ainda estamos fazendo o levantamento e iremos quantificar a quantidade de acidentes e de mortes. Mas pelo que se percebe, acontecem muitos acidentes em estradas que apresentam problemas”, disse Nilza Magalhães, diretora de transporte do DER.

“Na rodovia PB–306, as margens da estrada são semelhantes a um cemitério, por causa da quantidade de cruzes que existem. Morre gente demais, por isso que ela é conhecida como “rodovia da morte”, porque os acidentes acontecem quase todos os dias. Quando venho pra cá, observo todas as condições do carro, e na estrada dirijo devagar, porque tenho sei que aqui é muito vulnerável a acidentes”, relatou o caminhoneiro Marcos Morais, que é de Esperança, no Brejo e viaja à Princesa Isabel a cada 15 dias.

Trajeto por Pernambuco é mais viável
Os professores do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) do campus de Princesa Isabel, também enfrentam as mesmas dificuldades dos médicos para poder se deslocarem para cidade. A maioria deles vem de Campina Grande e João Pessoa e são obrigados a trafegar pela “rodovia da morte”, já que é o único caminho percorrido pelo ônibus que faz a linha.

Já os professores que vem de Patos, Cajazeiras e Sousa preferem cortar os estados do Ceará e de Pernambuco para chegar à Paraíba. “Eles sofrem mais ainda, porque saem da Paraíba, entram no Ceará, passam por Pernambuco para poder depois voltar à Paraíba. Muitas vezes, nem transporte tem, mas mesmo assim, eles acham que é mais viável do que vir pela PB-306”, disse Luciana Cordeiro, diretora adjunta do IFPB.

Diferente dos professores, os estudantes de Princesa Isabel que ingressam no ensino superior, preferem ir morar em Patos, ao invés de fazer o trajeto pela rodovia. Outros, nem tentam vestibular nas universidades da Paraíba e se dedicam as faculdades de Serra Talhada. “Não podemos fazer nada, eles procuram o que é melhor pra eles, e Serra Talhada é o mais viável. Eles vão estudar lá e pagam transporte por mês. A prefeitura vai disponibilizar R$ 100,00 para os que são carentes pagarem a passagem”, relatou o prefeito Thiago.

Produção é escoada por outros Estados
O presidente da CDL de Princesa Isabel, Manoel Neto, comentou que praticamente toda a produção comercial da cidade é escoada para o Pernambuco, o que para ele representa um fator negativo para economia do Estado. “Todo comércio de Princesa é ligado a Serra Talhada, até merenda escolar é comprada lá. Pela Paraíba compra se muito pouco, e o que compramos sai muito mais caro pra gente porque os fornecedores cobram mais caro”, destacou Neto.

“Se a estrada fosse boa, sem dúvida, as cidades seriam bem mais desenvolvidas. Mas elas estão isoladas, não podem realizar seus comércios e aqueles que ainda se arriscam, acabam tendo ainda mais prejuízos”, disse o empresário Rinaldo Francisco, que comercializa ovos na região e precisa trafegar pela PB-306 para chegar às cidades que compram seus produtos. Segundo Rinaldo, seus maiores clientes se localizam em cidades do Sertão paraibano, como Patos, Sousa e Cajazeiras, e para isso, comprou caminhões adaptados para fazer o transporte. “Porque ovo é um produto muito sensível, e mandar os dez caminhões com mais de 130 mil ovos, tem que ter muito cuidado. Não tenho outra opção a não ser trafegar por essa rodovia. Para isso gasto muito dinheiro, meu prejuízo é grande. Já tive que pagar indenização a empregado que sofreu acidente, já perdi muito da minha produção e estimo que por mês, perco mais de 10% do que produzo”, disse o empresário.

Situação das vias atrasa municípios
A situação precária nas rodovias da Paraíba atrasa o desenvolvimento dos municípios que dependem das estradas para realizar as transações comerciais. Conforme o diretor de manutenção do DER, Fleming existem municípios que dependem exclusivamente das rodovias por conta das condições geográficas do lugar, como é o caso de Santana dos Garrotes, Nova Olinda, Várzea, Catolé do Rocha, São Bento, entre outros municípios. “O desenvolvimento dos municípios está também ligado a acessibilidade que tem que se feita através de boas rodovias, mas existem casos na Paraíba que isso ainda é um problema grave”, comentou.

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado da Paraíba (Fetag), Liberalino Ferreira, os locais que apresentam as maiores dificuldades para escoação da produção agrícola por causa das estradas danificadas, são Catolé do Rocha, Belém e São Bento. “Nesses lugares, a estrada está péssima e por isso fica difícil a produção agrícola ser escoada. Por exemplo, a estrada que liga Quixaba a Cacimba de Areia, sentem dificuldades de se desenvolver no setor por conta das estradas que não ajudam”, explicou.

O prefeito de Maturéia, Daniel Dantas argumentou que as cidades da região precisam de melhorias nas estradas para que possam se desenvolver sem entraves. “Tenho gastado muito em manutenção dos transportes da saúde e da educação, entre R$ 8 mil a R$ 10 mil por mês. Temos que estar sempre fazendo manutenção, comprando peças que quebram”, disse.

Obras estão paralisadas
De acordo com Fleming, existem ao todo na Paraíba, 12 obras de recuperação de estradas que estão paralisadas por falta de documentação. Ele explicou que os recursos financeiros para realização das obras foram adquiridos através de um financiamento feito pelo Governo do Estado junto a Corporação Andina de Fomento (CAF), no valor de R$ 282 milhões, realizado ano passado. Depois dos recursos liberados, as obras ainda tiveram início, porém, esse ano foi constatado que faltava parte dos documentos que regularizava o financiamento. “As obras foram iniciadas sem que a documentação necessária fosse enviada a CAF, ai esse ano, isso foi constatado a irregularidade. Mas os documentos já foram emitidos, já está tudo certo e vamos aguardar a liberação da CAF para as obras poderem ser continuadas”, explicou.

Conforme Fleming, a Paraíba irá receber no próximo dia 16, a visita de um dos representantes da CAF que virá para fazer uma inspeção em alguns trechos onde as obras.

Reveja as matérias produzidas pelo portal Diário do Sertão sobre o assunto:

DIÁRIO DO SERTÃO com Jornal Correio da Paraíba
 

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