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15 municípios da Paraíba herdam nomes de lideranças políticas; Maioria está no Sertão

O Sertão também protagonizou o caso mais recente de mudança de nome de um município.

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01/05/2013 às 12h36

Políticos e famílias influentes do século passado foram “imortalizados” com as homenagens, mas também há deferência a figuras folclóricas, fundadores das cidades e até personagem do Brasil Império, como é o caso de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba.

A Revolução de 30, capítulo importante na história da Paraíba, transformou a capital Parahyba em João Pessoa e ainda rendeu homenagem aos interventores Antenor Navarro (hoje São João do Rio do Peixe), no Sertão, e Juarez Távora, no Brejo.

Personagens menos conhecidos como Pedro Régis, Caldas Brandão, Bernardino Batista e Gurjão também figuram no rol de homenageados. No Sertão, as famílias Vieira e Mariz tiveram seus nomes associados a “polis” (que remete a “cidade” no grego) e, inevitavelmente, passaram a fazer parte da memória dos habitantes de Vieirópolis e Marizópolis.

O Sertão também protagonizou o caso mais recente de mudança de nome de um município. A cidade de Santarém virou Joca Claudino, em homenagem a um empresário da região sertaneja.

A mudança ocorreu em novembro de 2010, após votação unânime na Câmara de Vereadores e sem realização de plebiscito. Segundo o radialista e professor de História Chagas Amaro, a decisão ainda gera polêmica entre os habitantes.

“Houve o apoio de parte da população, mas muitos moradores não aceitam a mudança. Não é raro recebermos ligações de ouvintes que se identificam como moradores de Santarém e fazem questão de ressaltar que não pertencem a Joca Claudino”, contou o professor.

Segundo o site oficial da cidade, “Joca era natural de Santarém e pai do empresário João Claudino, presidente do grupo Claudino.

Ele é considerado um dos maiores benfeitores da cidade”. O texto que explica a mudança do nome também afirma que “ficou estabelecido que não houve a necessidade de um plebiscito, pois já foi registrado um abaixo assinado, ao qual consta a assinatura de mais da metade da população do município”.

Professora aponta instrumento de poder
De acordo com a professora Regina Célia Gonçalves, do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba, nomear é um instrumento de poder e os nomes estão sempre ligados a uma memória coletiva. “Partindo dessa ideia, podemos pensar que a memória coletiva dialoga com a história. Portanto, quando se dá um nome, é fixada uma memória coletiva que nunca é neutra e representa determinados interesses sociais, coletivos e de grupos específicos”, afirmou Regina Célia.

A professora também ressalta que existe uma hegemonia no Brasil de uma história marcada por grandes nomes. “Se a gente verificar algumas cidades, veremos que estão relacionados à história dos vencedores. Nomes de políticos, administradores ou pessoas com grande poder econômico”, analisa. Regina Célia lembra que o Poder Legislativo também representa o interesse dessas pessoas e afirma que falta senso crítico no parlamento. “Os vereadores, ora por falta de atenção ao aspecto da memória, ora porque estão ligados a grupos econômicos, mostram muitas vezes uma total falta de conhecimento e senso crítico sobre a comunidade”, completou.

Ela lembra que a memória tem um papel fundamental para a sociedade, mas que ela está ligada aos vitoriosos. “O território paraibano era dos potiguaras, mas quando eles foram derrotados no período colonial, simplesmente desapareceram da Paraíba. Com isso, a memória deles aqui foi silenciada. Já os tabajaras, aliados dos portugueses, possuem o nome preservado através de ruas e rádio. A memória dos vencedores acaba presente em toda a sociedade e nunca a dos primeiros donos de terra, índios, escravos e soldados”, comentou Regina.

João Pessoa ainda provoca discussão
Antes de se tornar João Pessoa, a capital paraibana teve outros nomes: Nossa Senhora das Neves (1585 – 1588), Philipéia de Nossa Senhora das Neves (1588 – 1634), Frederica (1634 – 1654) e Parahyba (1654 – 1930). O nome atual é uma homenagem ao político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, assassinado em 1930 na cidade do Recife, quando era presidente do Estado e concorria, como candidato a vice-presidente da República, na chapa de Getúlio Vargas. A homenagem ao estadista, no entanto, ficou balançada há cerca de cinco anos, depois que o vereador Fuba suscitou a possibilidade de um plebiscito para mudar o nome da cidade.

“Eu não propus a mudança do nome, apenas mencionei o artigo da Constituição que versa sobre a realização de um plebiscito para saber do povo de João Pessoa qual é o nome de preferência (Art. 82 das Disposições Constitucionais Transitórias). Lembro que a Constituição é de 1989. Não é uma invenção recente”, declarou o vereador Fuba. No livro “Parahyba 1930 – A verdade omitida” (edição esgotada), Fuba diz que o corpo do estadista teria sido usado como um mártir da Revolução, mas que a motivação do crime teria sido passional.

“Os líderes contam que foi um momento histórico, mas na verdade foi um golpe de Estado. Transformaram João Pessoa no líder, mas tudo não passou de uma grande farsa”, afirma.

O historiador José Octávio de Arruda e Melo, autor do livro “História da Paraíba Lutas e Resistências” (13ª edição), conta que a morte de João Pessoa causou grande comoção popular e foi considerado o estopim da Revolução de 1930. “Depois da morte, o povo foi para frente da Assembleia. O assassinato gerou uma comoção enorme”, conta o historiador.

Milaneez
O vereador Fernando Milanez, sobrinho neto de João Pessoa, acredita que não há razões para a mudança no nome da capital, principalmente porque não houve fato histórico mais importante no Estado do que a Revolução de 30.

DIÁRIO DO SERTÃO com Larissa Claro

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