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VÍDEO: Ex-secretário relembra momentos marcantes com Antônio Mariz: “Exemplo de como se comporta um líder”

O jornalista Rui Leitão recordou sua convivência com Mariz, sobretudo na época em que foi secretário adjunto de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba

Por Luis Fernando Mifô

16/09/2025 às 16h59 • atualizado em 16/09/2025 às 17h07

Nesta terça-feira (16), paraibanos e paraibanas prestam tributo a Antônio Marques da Silva Mariz, um dos políticos mais importantes da história do estado e do Brasil. Falecido em 16 de setembro de 1995, Mariz foi advogado, promotor de justiça e político filiado ao antão Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB – hoje o MDB). Pela Paraíba, foi governador, senador e deputado federal durante dois mandatos, além de prefeito de Sousa.

No programa Olho Vivo, da Rede Diário do Sertão, o jornalista e escritor Rui Leitão, que é membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), recordou sua convivência com Antônio Mariz na época em que Leitão foi secretário adjunto de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba.

“Aprendi a admirar Mariz a partir das referências que eu recebia do meu pai, o historiador cajazeirense Deusdedit Leitão, que foi chefe de gabinete dele na Secretaria de Educação do Estado. Eu sempre ouvia as referências mais elogiosas a respeito de Mariz. E quando eu o conheci pessoalmente e tive a oportunidade de conviver com ele mais proximamente, eu pude atestar o quanto eram verdadeiras todas aquelas informações que meu pai me passava”.

Rui Leitão relata também o período de tensão que tomou conta dos familiares e amigos quando Antônio Mariz foi diagnosticado com um câncer no pulmão que o impediu de governar a Paraíba em 1995. A morte do político, segundo Leitão, deixou a Paraíba em luto, mas estabeleceu seu legado para as próximas gerações.

Antônio Mariz (Foto: Arquivo/Divulgação)

Entre as atuações marcantes de Antônio Mariz na política brasileira, destacam-se, por exemplo, sua participação na Assembleia Nacional Constituinte em 1986, que encerrou o período de ditadura militar; e a sua função como relator do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo na Comissão Especial do Senado Federal, em 1992.

Em 1986, Mariz foi eleito mais uma vez para a Câmara dos Deputados com 106,5 mil votos, a maior votação entre todos os candidatos da Paraíba. Ele também quebrou um recorde em Sousa, tendo sido o prefeito mais jovem do município, com 24 anos.

Antônio Mariz (Foto: Arquivo/Divulgação)

“Ele deu um exemplo à Paraíba de como deve se comportar um líder político, não só na sua atividade de contato com a população, mas também quanto ao exercício das funções públicas que ele ocupou”, ressalta Rui Leitão.

O jornalista publicou um texto na plaquete que registra os 30 anos de falecimento de Antônio Mariz, relatando fatos marcantes e detalhes da trajetória política do paraibano. Leia abaixo.

A HERANÇA ÉTICA E POLÍTICA DE ANTÔNIO MARIZ

Tive a honrosa oportunidade de conviver com Antônio Mariz em seus últimos anos de vida. Acompanhei de perto todo o desenrolar da campanha em que disputou a eleição para governador da Paraíba, em 1994. Na época, ocupava o cargo de chefe de gabinete do governador Cícero Lucena. Ao ser eleito, fui convidado para assumir a secretaria adjunta de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia de seu governo. Essa experiência me permitiu conhecê-lo melhor. Já o admirava pelas manifestações de meu pai, Deusdedit Leitão, que sempre ressaltava sua trajetória política, marcada por uma postura coerente nas posições publicamente defendidas, mesmo quando enfrentava o arbítrio da ditadura militar. Antônio Mariz exerceu cargos públicos com plena consciência da responsabilidade que lhe era atribuída, comportando-se com a seriedade de quem encara, com firmeza e observância de padrões éticos e morais, as missões que lhe foram confiadas ao longo da vida.

Nas atividades parlamentares, tanto como deputado federal quanto como senador, soube honrar o voto de seus conterrâneos. Destacou-se no cenário nacional por sua atuação no encaminhamento de matérias de interesse do país e da população, em especial do povo paraibano e nordestino. Foi o relator do processo que decidiu pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Assim registrou a sua participação nesse episódio histórico:

“Faz dois anos que o povo brasileiro expulsou Collor da presidência da República. Fui o relator do processo de impeachment do presidente no Senado Federal. Meu parecer condenou Collor. No processo de impeachment, o relator é o juiz que instrui a prova e formula a sentença que será votada por todos os senadores. Tenho o orgulho de dizer que ninguém, nesse tempo, nem da oposição nem do governo, teve a ousadia de ir ao meu gabinete para pedir que eu votasse a favor ou contra o presidente. Todos sabiam, pela história dos meus atos e posições no Congresso, que a minha decisão seria baseada nas provas contidas nos autos do processo. Se Collor fosse inocente, juro que teria declarado sua inocência, ainda que o Brasil desabasse sobre mim. Mas ele era culpado e declarei sua culpa. Meu parecer foi aprovado e decretado o impeachment. O Senado, em nome do povo brasileiro, cumpriu seu dever.”

Essa era a forma como agia no exercício de suas funções parlamentares. Em setembro de 1994, tive a oportunidade de assistir a um dos discursos mais importantes de sua vida pública. Em sessão do Senado Federal, decidiu protestar contra a decisão do TSE – Tribunal Superior Eleitoral, que rejeitara o registro da candidatura à reeleição do senador Humberto Lucena, acusado de uso indevido da gráfica daquela Casa Legislativa na confecção de calendários com sua foto. Da tribuna, bradou em voz alta:

“O TSE rendeu-se à cruel barbaridade de interesses escusos, cassando o registro de Humberto. Um único juiz, o ministro Diniz de Andrade, teve a altivez, a hombridade, a coragem moral de ir contra tudo e contra todos, sustentar a lei e proclamar a inocência de Humberto. Esse homem honra a Justiça brasileira e resgata a credibilidade do Poder Judiciário em nosso país (…) Convoco a Paraíba a manifestar-se publicamente contra essa decisão imoral do TSE. Não foi Humberto a vítima dessa violência. Agredida e insultada foi a Paraíba.”

Mariz construiu uma biografia marcada por discursos inovadores e ações voltadas para o atendimento das demandas sociais de seu tempo. Era um idealista por vocação. É, sem dúvida, um personagem vivo na memória dos paraibanos. Carismático e declaradamente reformista social, consagrou-se como um dos mais respeitados homens públicos da história política da Paraíba — e, por que não dizer, do Brasil. Por trás de sua conhecida sisudez, revelava-se um humanista.
Já próximo da morte, chegou a desabafar com seu amigo, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima: “Quando tinha saúde, perdi o governo; perdi a saúde, ganhei o governo.”

Na noite de 16 de setembro de 1995, recebíamos a notícia indesejada, comunicada oficialmente por seu secretário de Comunicação, o jornalista Walter Santos: Antônio Mariz acabara de falecer. A Paraíba mergulhava em estado de luto. Seu sonho de governar a Paraíba foi interrompido pelo câncer, após apenas nove meses no exercício do mandato que lhe foi conferido pelo povo.
Está fazendo falta.

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