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Sessão especial homenageia militantes assassinados durante o período da Ditadura

A Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) promoveu, nesta sexta-feira (18), sessão especial em homenagem aos militantes políticos e membros das ligas camponesas assassinados durante a Ditadura Militar no País. A propositura foi do deputado Anísio Maia (PT). Ao todo, dez personagens nordestinos, entre eles seis paraibanos, foram lembrados durante a solenidade. Os paraibanos homenageados foram […]

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18/10/2013 às 14h36

A Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) promoveu, nesta sexta-feira (18), sessão especial em homenagem aos militantes políticos e membros das ligas camponesas assassinados durante a Ditadura Militar no País. A propositura foi do deputado Anísio Maia (PT). Ao todo, dez personagens nordestinos, entre eles seis paraibanos, foram lembrados durante a solenidade.

Os paraibanos homenageados foram o estudante de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), vice-presidente da União Estadual dos Estudantes e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), João Roberto Borges de Sousa; o ex-vereador do município de Sapé, João Alfredo Dias (Nego Fuba); o presidente da Liga Camponesa de Sapé, Pedro Inácio de Araújo (Pedro Fazendeiro); o líder camponês João Pedro Teixeira; o militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML), Umberto Albuquerque Câmara Neto e a ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Alagoa Grande, Margarida Maria Alves.     

O deputado Anísio Maia destacou a atuação dos homenageados em favor da instituição do regime democrático brasileiro. “Esta sessão é uma espécie de dívida com todos esses companheiros, que tem um histórico de luta por todo o Brasil e para mostrar a nossa sociedade que essas pessoas foram heróis. Graças a eles, nós temos esta Assembleia Legislativa e o Congresso Nacional funcionando, temos a liberdade de expressão e de imprensa. Enfim, foi por eles que conseguimos a democracia nesse país”, justificou.

O representante da Comissão da Estadual da Verdade e da Preservação da Memória da Paraíba, Paulo Giovani Antonio Nunes, destacou a iniciativa da ALPB em promover uma sessão especial para homenagear vítimas da Ditadura Militar. Segundo ele, a comissão tem realizado um levantamento documental dos fatos ocorridos durante o regime, ouvindo testemunhas e também o relato das pessoas acusadas de cometerem crimes contra os direitos humanos à época. “Estamos fazendo esse trabalho com muito empenho e, em pouco tempo, vamos dar uma resposta a sociedade sobre esses crimes brutais e desaparecimentos ocorridos na época do regime militar”, disse.
 
Emoção familiar
Presente a sessão, Nadja Maria de Araújo, filha de Pedro Fazendeiro, deu um depoimento emocionado sobre o sofrimento vivenciado pela família. Segundo ela, o último contato com o pai foi com ele já preso no quartel do 15º Batalhão de Infantaria Motorizado (15° BIMtz), em João Pessoa, quando tinha apenas cinco anos de idade, dias antes dele desaparecer, em setembro de 1964.   
“Faz exatamente 49 anos que mataram meu pai. Ele sustentava a todos e após esse episódio, nossa família passou a ser rejeitada e perseguida por sermos filhos de um comunista. Não podíamos trabalhar e quando conseguíamos emprego, recebíamos propostas indecorosas e sempre éramos demitidas quando os patrões descobriam que eu e minhas irmãs éramos filhas de Pedro Fazendeiro”, contou.
Nadja Maria ainda pediu ao representante da Comissão Estadual da Verdade o direito de proporcionar um enterro digno dos restos mortais de Pedro Fazendeiro. “Eu vi a minha mãe morrer de tristeza. Todos os dias ela chorava e eu passei noites após noites chorando e pedindo para ter, pelo menos, o prazer e de enterrar os restos mortais do meu pai”, disse.
 
Torturas e castigos
O presidente da Federação dos Trabalhadores em Serviços Públicos no Estado da Paraíba, Fernando Antonio Borges de Souza, lembrou a morte do irmão, o estudante João Roberto Borges de Sousa, que foi preso no início de 1969 em Recife (PE), e ficou detido por três meses para interrogatórios, tendo sofrido torturas. O seu corpo, apresentando ferimentos e tendo o rosto quase que completamente desfigurado, foi encontrado no dia 10 de outubro de 1969, por dois moradores no açude Olho D’Água, no município de Catolé do Rocha.
“Só quem pode afirmar o que meu irmão passou é quem conviveu com ele. Nossa família ficou um período se escondendo, em Cabedelo, onde morávamos. Ele era militante estudantil e político, integrante do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e, para a nossa surpresa, descobrimos recentemente, por meio da Comissão da Verdade, que ele também pertencia ao movimento Ação Popular (AP), dentro da linha de esquerda fortalecida”, disse.
“Nós acompanhamos todo o sofrimento de João Roberto e a família não entendia porque ele era tão perseguido, pois, era uma pessoa que lutava pelos direitos das pessoas, sobretudo, da classe mais humilde, dos excluídos do processo. No campo social, ele foi um líder muito atuante na época”, concluiu.
 
Homenagem em Cabedelo
A vereadora Graça Rezende (PMDB), que recentemente promoveu uma sessão especial na Câmara Municipal de Cabedelo em homenagem aos militantes mortos na ditadura, destacou a atuação do cabedelense João Roberto Borges. Segundo ela, tardiamente, o município irá homenagear o filho ilustre, vítima de um dos períodos mais tristes da história brasileira.      
“Esses depoimentos nos fazem pensar como ainda pode existir tanta injustiça, crueldade e perversidade, em pleno século 20. Lá em Cabedelo, existe uma praça com o nome de um ditador [o ex-presidente Emílio Garrastazu Médici] e vamos mudar esse nome e fazer uma homenagem ao militante João Roberto Borges de Sousa. É uma satisfação ocupar a tribuna desta Casa que também sabe reconhecer os nossos heróis que foram vítimas de uma mancha negra em nossa história”, disse.
Por fim, os familiares, amigos e representantes de entidades de luta camponesa foram homenageados com a entrega de certificados. Ainda participaram da sessão especial o sociólogo e militante Edval Nunes Cajá; o presidente do Comitê Paraibano da Verdade Memória e Justiça da Paraíba, José Calistrato; o presidente das comissões de Direitos Humanos e da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Paraíba, Alexandre Guedes; e o presidente da Associação Cultural José Mártir, Antônio Augusto Almeida.
 
Assessoria

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