Festas juninas movimentam cerca de R$ 130 milhões no Ceará
Com rifas, bingos e festas para arrecadar recursos para as apresentações de quadrilha, grupos chegam a investir R$ 600 mil por temporada.
Danças ao redor da fogueira, músicas regionais e superstições. É no início do sexto mês de cada ano que se iniciam as festas juninas, mas a preparação dos grupos começa bem antes. Além de alegrar a população, as festividades também geram vagas de empregos temporários e colaboram para movimentar a economia local.
De acordo com a Federação de Quadrilhas do Ceará (Fequajuce), o setor movimenta cerca de R$ 130 milhões em junho no estado. Em média, 8 mil profissionais especializados, das pessoas que fazem o figurino, às empresas de transportes, de montagem das estruturas, garantem emprego no período junino temporariamente.
Com o tema “É Tudo Verdade”, a quadrilha Ceará Junino vai contar neste ano a história de quatro pescadores que, em 1941, saíram da Praia de Iracema até o Rio de Janeiro para reivindicar os direitos da categoria. O objetivo é retratar a saga dos trabalhadores do mar e refletir sobre o preconceito e a desigualdade social.
Reunindo 50 casais, o grupo tem uma média de gastos de aproximadamente R$ 600 mil por temporada.
Para ajudar no pagamento do cenário e a banda que acompanha o grupo nas apresentações, a equipe se organiza e vende os figurinos utilizados no ano anterior para outros grupos. Há também rifas, bingos e festas para que os participantes não precisem mexer no dinheiro das quatro parcelas de R$ 200 que são pagas mensalmente por cada um deles à organização.
A estreia de cada temporada gera expectativa do público, que lota um espaço de com 2.500 pessoas. O que é recebido de prêmio serve para ajudar no custeio dos valores dos dois ônibus que levam toda a equipe para o local do evento. “Angariamos as verbas para pagar as despesas. Une o útil ao agradável”, conta Roberto Sousa, presidente da Ceará Junino.
Para gastar o mínimo possível, algumas pessoas do grupo ministram cursos de bordado e de automaquiagem para os demais. “Durante seis meses, nós mantemos empregados desde a pessoa que faz os sapatos, os cintos, os chapéu, até a pessoa que faz os corseletes, as anáguas e as saias. Não deixa de ser uma fonte de renda para eles”, explica Roberto Sousa.
Paixão pelo São João
Definindo-se como um amante de quadrilhas juninas desde criança, o fisioterapeuta Jonathan Arthur, 28, sempre quis integrar um grupo profissional e competir em grandes festivais. Natural de Belém, no Pará, realizou o que tanto queria em 2011, quando chegou a Fortaleza. Três anos depois, sofreu um acidente de moto, que resultou na amputação do pé direito. A situação que em primeiro momento parecia que ia impossibilitá-lo de continuar a dançar não o desanimou.
Após alguns anos sem pisar nos palcos para apresentar-se junto a uma quadrilha junina, decidiu voltar neste ano, agora com a “Ceará Junino”, por estar se sentindo mais seguro. O jovem diz que está se adequando ao ritmo do novo grupo, que entende as limitações dele e o ajuda sempre. “Já aconteceu de eu cair em ensaios, mas sempre as pessoas conversavam comigo, perguntando se estava tudo bem”.
“O São João para mim é meu Réveillon. Meu ano termina na última apresentação e deixa saudade e lembranças incríveis na memória ano após ano. E, sem dúvida, a ansiedade para o novo tema, nova história, novo figurino. Ganhar e ver seu esforço ser recompensado é sempre bom mas quem é quadrilheiro de verdade curte cada apresentação como sendo a última e se entrega ao som da sanfona e zabumba”, destaca Jonathan Arthur.
Custos da festa
Já na “Filhos do Sertão”, que neste ano narra “Amor, festa e a poesia que transforma: Bráulio Bessa, o embaixador do Sertão”, o valor médio dos gastos ultrapassa R$ 200 mil. Os 80 dançarinos pagam, cada um, R$ 600 por temporada. Os figurinos saem por R$ 1.500 para cada casal, preço que, conforme a organização, é um dos mais baratos em comparação aos grupos de grande porte.
A noite de iluminação nas apresentações do grupo que iniciou no bairro Tancredo Neves, custa R$ 1 mil. Os fogos de artifício saem por R$ 600, e o ônibus, se o evento for aqui em Fortaleza, é R$ 400. O pacote de maquiador e cabeleireiro sai por R$ 1.500 para cada pessoa. O maior gasto, no entanto, é com a banda que os acompanha: R$ 40 mil.
“É feita toda uma logística, que hoje em dia se torna cara, por isso que muitos grupos estão acabando. Temos um gasto elevado porque o grupo tem uma história de 20 anos e é conceituado, então não há como retroceder. Para diminuir os gastos, fizemos uma parceria com uma empresa de ônibus e com um salão de beleza, que oferecem desconto em troca de divulgação nas apresentações”, pontua o presidente da “Filhos do Sertão”, Paulo Henrique Sampaio.
Ele explica que os editais da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Estado servem para suprir 20% ou 30% dos gastos totais da “Filhos do Sertão”. O grupo sobrevive mesmo é outras ações, como rifas, bingos e festas, atividades culturais, em que se consegue levantar, em média, R$ 80 mil. É estabelecida uma cota. Se passar, o valor fica para os brincantes. “O restante arrecadamos com os valores das indumentárias e dos carnês que são pagos mensalmente pelos brincantes”, diz.
Apoio público
Ao todo, 71 projetos, sendo 35 de grupos de quadrilha junina adulta, 15 de nível infantil e 21 de festivais relacionados ao tema foram selecionados nos editais da Prefeitura de Fortaleza neste ano, que teve um investimento de R$ 1,065 milhões. Cada um deles recebeu R$ 15.000 para ajudar no custeio dos gastos.
Já o aporte financeiro de R$ 3,13 milhões que é oferecido pelo Governo do Estado beneficia 136 quadrilhas adultas, infantis e diversidade, além de festivais e campeonatos na capital e no interior. Cada grupo pode receber de 20% (R$ 4.700), 80% (R$ 19 mil); e 100% (R$ 23.750).
Fonte: Por Itallo Rocha, G1 CE - https://g1.globo.com/ce/ceara/sao-joao/2019/noticia/2019/06/13/festas-juninas-movimentam-cerca-de-r-130-milhoes-no-ceara.ghtml
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